Momento zen de segunda_03_12_12 da era vulgar
João César das Neves (JCN) voltou à cruzada contra o aborto e o casamento entre indivíduos do mesmo sexo.
Sofre como se um e outro fossem obrigatórios e parece temer que o primeiro tenha efeitos retroativos. Sangra-lhe o coração por, nas últimas eleições americanas, três estados terem votado a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo; dilacera-se-lhe a alma porque na França a medida foi aprovada há pouco e na Nova Zelândia, Inglaterra e Escócia se preparara decisão idêntica.
O pio JCN, bem procura exorcizar os pecados com a defesa da moral eclesiástica mas o mundo, que julga criado pelo deus do Papa, é o que é e não o que o clero gostaria que fosse. Pelo menos, na lei.
Mas nada faz sofrer tanto o devoto JCN como os «milhões de embriões chacinados pelo aborto todos os anos». Nem se lembrou da médica dentista, de 31 anos, que os médicos deixaram morrer, com septicémia, porque a legislação da Irlanda os impediu de a salvar enquanto o feto teve batimentos cardíacos.
JCN é um talibã católico que quer impor aos outros a moral que julga de origem divina. Lastima-se, na homilia de ontem, no DN, da facilidade do divórcio, dizendo que «custa mais despedir a criada [sic] do que o marido». E, sem se benzer, acaba a queixar-se da ideologia antifamília que considera responsável pela baixíssima taxa de fertilidade, 1.3 filhos por mulher.
Na obsessão pela abstinência sexual – virtude que sempre recomenda –, JCN nem se dá conta de que a castidade é o método mais eficaz contra a prossecução da espécie.
Comentários
Não o assume, mas verbera que o casamento civil tenha destronado o ‘sacramento do matrimónio’, como hoje se verifica.
Para digerir isso, recolheu-se (no seu último texto) às vésperas da Revolução Francesa (1792) para justificar a sua introdução em França e, em Portugal, atira-o para as matinas da Liberalismo (1832).
Esqueceu-se que esse ‘pio sacramento’ resulta da apropriação que o seu fanático catolicismo fez do clássico direito romano ou até dos códigos visigóticos para ser fortemente contestado e revogado, dentro do próprio catolicismo, a partir do séc. XVI (Reforma protestante ).
Nesta deambulação histórico-religiosa não teve oportunidade de aparecer a defender o conceito de pater famílias. Mas temos de esperar pelas próximas homílias…
Queixa-se da quebra da natalidade, mas ao mesmo tempo prega a castidade e, tanto quanto o conheço,deve apoiar este Governo, que retira aos jovens todas as condições para constituir família e criar filhos.