Carta para Giordano Bruno
Meu caro Giordano Bruno:
Mesmo para um frade dominicano, habituado às maldades da ordem e à substituição da inteligência pelas orações, foi terrível suportar sete anos de julgamento. Uma coisa é a reclusão voluntária no convento, na convicção de que um ser imaginário se rebola de gozo com o silêncio e as súplicas, para lhe reservar um lugar vitalício no Paraíso; outra, é a prisão nas masmorras da Inquisição, a antevisão permanente da fogueira que espera o réprobo, a sindicância perversa à inteligência, as ameaças pias e o convite à retratação.
Nos finais do século XVI, pensar era heresia, redigir livros profanos, uma abominação, e ter ideias, o caminho mais rápido para a fogueira e o Inferno.
Foste acusado de blasfémia, conduta imoral e heresia porque os teus livros divergiam da teologia dogmática e referiam doutrinas diferentes da filosofia e cosmologia que a Igreja católica ensinava.
O teu crime era a ciência a que te dedicavas e para os néscios que te julgaram, incapazes de imaginar que havia outros mundos para lá da sua ignorância, só restava acusarem-te de sustentares opiniões contrárias à fé católica.
Depois, para fingirem que sabiam o que diziam, acusaram-te de coisas tão graves como
opiniões contrárias à fé católica, sobre a Trindade, a divindade de Cristo e a encarnação, de dúvidas sobre a virgindade de Maria e os sinais cabalísticos da consagração da hóstia que a transformam em corpo e sangue de Cristo, como qualquer cego claramente vê.
O que mais os ofendeu foi a tua premonição de que havia mais mundos e, sobretudo, de que era infinito o Universo – como sabias –, e os laivos de panteísmo que faziam ranger os dentes às cavalgaduras pias que, por isso, te acusaram de magia e adivinhação.
Giordano Bruno, por maior raiva que o Vaticano alimente pela estátua que os maçons te erigiram, por mais esforços que tenha feito para a demolirem, ela é destino obrigatório dos livres-pensadores, enquanto os santos enegrecem desprezados com o fumo da velas.
Hoje, 414 anos após aqueles pulhas te queimarem, por todo o mundo há quem despreze as orações e recorde a frase com que uma vez mais desafiaste a Igreja quando os sádicos inquisidores te condenaram à fogueira: «Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la».
Sábias palavras, inexcedível coragem, Giordano Bruno.
Mesmo para um frade dominicano, habituado às maldades da ordem e à substituição da inteligência pelas orações, foi terrível suportar sete anos de julgamento. Uma coisa é a reclusão voluntária no convento, na convicção de que um ser imaginário se rebola de gozo com o silêncio e as súplicas, para lhe reservar um lugar vitalício no Paraíso; outra, é a prisão nas masmorras da Inquisição, a antevisão permanente da fogueira que espera o réprobo, a sindicância perversa à inteligência, as ameaças pias e o convite à retratação.
Nos finais do século XVI, pensar era heresia, redigir livros profanos, uma abominação, e ter ideias, o caminho mais rápido para a fogueira e o Inferno.
Foste acusado de blasfémia, conduta imoral e heresia porque os teus livros divergiam da teologia dogmática e referiam doutrinas diferentes da filosofia e cosmologia que a Igreja católica ensinava.
O teu crime era a ciência a que te dedicavas e para os néscios que te julgaram, incapazes de imaginar que havia outros mundos para lá da sua ignorância, só restava acusarem-te de sustentares opiniões contrárias à fé católica.
Depois, para fingirem que sabiam o que diziam, acusaram-te de coisas tão graves como
opiniões contrárias à fé católica, sobre a Trindade, a divindade de Cristo e a encarnação, de dúvidas sobre a virgindade de Maria e os sinais cabalísticos da consagração da hóstia que a transformam em corpo e sangue de Cristo, como qualquer cego claramente vê.
O que mais os ofendeu foi a tua premonição de que havia mais mundos e, sobretudo, de que era infinito o Universo – como sabias –, e os laivos de panteísmo que faziam ranger os dentes às cavalgaduras pias que, por isso, te acusaram de magia e adivinhação.
Giordano Bruno, por maior raiva que o Vaticano alimente pela estátua que os maçons te erigiram, por mais esforços que tenha feito para a demolirem, ela é destino obrigatório dos livres-pensadores, enquanto os santos enegrecem desprezados com o fumo da velas.
Hoje, 414 anos após aqueles pulhas te queimarem, por todo o mundo há quem despreze as orações e recorde a frase com que uma vez mais desafiaste a Igreja quando os sádicos inquisidores te condenaram à fogueira: «Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la».
Sábias palavras, inexcedível coragem, Giordano Bruno.
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