Portugal, a Crimeia e a guerra fria
Os portugueses estão mais preocupados com a perda da
soberania da Ucrânia sobre a Crimeia do que com a perda da soberania de
Portugal perante a Troika.
Putin, o democrata educado na madraça do KGB, é um perigo
maior do que os agiotas vindos do banco Goldman Sachs para explorarem o nosso
país, ou aí colocados para que o banco saiba como melhor nos explorar.
A História recente não ensinou nada aos pequenos países que
conseguem tornar-se mais pequenos com a subserviência aos grandes. Em vez de
negociarem um estatuto razoável e conseguirem alguns benefícios, hipotecam-se
ao sabor dos seus preconceitos.
Ver bandeiras com a foice e o martelo na Crimeia é assistir
ao rebobinar de um filme de terror. Ver suásticas em Kiev é assistir aos
preparativos da segunda sessão de um filme macabro.
O nacionalismo é a doença que se agrava com um hino, uma
bandeira e um demagogo.
Em Portugal, a nostalgia do império, que terminou com o
prazo de validade esgotado, é o alimento que entusiasma os saudosos da URSS e
os salazaristas empedernidos.
Curiosamente, os antieuropeístas são os mais acirrados
defensores da união da Ucrânia à União Europeia. Os católicos, que perseguiram
os ortodoxos na cruzada fascista da 2.ª Grande Guerra, são agora defensores do
patriarca de Kiev e é preciso repetir-lhes que o comunismo continua morto na
capital da Rússia, os barqueiros do Volga já não fazem música e os coros da
Armada Soviética foram extintos.
Oiçam a Kalinka e o voo do Moscardo sem esperarem estandartes
soviéticos. Entrem numa boa casa de música, comprem o CD e homenageiem Nikolai Rimsky-Korsakov.
Comentários
Na verdade, tratam-se de admoestações individuais, pessoais,(passaportes, contas bancárias, etc.) sem qualquer impacto já que os políticos (responsáveis pela ou 'emergentes' da crise) continuam a exercer funções governativas e estão lá para as 'contornar' (invalidar). Uma dilacerante impotência grassa pelo Ocidente e cada novo conflito (local ou regional) demonstra isso mesmo.
As empresas e o comércio internacional ficaram de fora das sanções como já se adivinhava.
Sanções foi chão que já deu uvas. Hoje, as empresas tem uma dimensão e interesses multinacionais (já estão 'mundializadas' e/ou 'cartelizadas') e colocaram-se acima destes 'jogos político-diplomáticos' tradicionais.
Aliás, existem situações no dito Ocidente que são, de facto, hilariantes. Nada do que se está a passar na conflito entre a Ucrânia, a Crimeia e a Rússia é estranho à Grã-Bretanha que durante séculos praticou uma ostensiva 'política de canhoneira'.
A diferença é que, hoje, as canhoneiras transformaram-se em porta-aviões, submarinos nucleares, navios lança-mísseis, etc., como é bem visível quando vemos imagens de Sebastopol.