Ainda o 40.º aniversário do 25 de Abril e do 1.º de Maio
Quarenta anos passados sobre a manhã libertadora de Abril,
regressam o medo e a fome. Por ora não é ainda a PIDE que prende, é o
desemprego e a destruição metódica e eficaz dos direitos conquistados que
paralisam o povo e o impelem de novo para a aventura da emigração e incerteza
do futuro.
Os atuais governantes têm um projeto político extremista e o
objetivo de cercear direitos e fazerem do país um laboratório do
ultraliberalismo, “custe o que custar”. O desespero que espalham é a semente
das convulsões que se avizinham num retrocesso que os mais pessimistas estavam
longe de prever.
Apagaram símbolos identitários da Pátria, com a alienação
dos feriados do 5 de Outubro e do 1.º de Dezembro, enquanto o 10 de Junho, com
um PR de escassa cultura, volta a ser, como no salazarismo, o altar da
exaltação da raça, com a permanência dos feriados pios, por imposição do
Vaticano, num ato de desprezo e humilhação do país.
A reabilitação da guerra colonial e o regresso dos velhos valores têm um discurso, uma lógica e um projeto, seguidos pelos que nunca se conciliaram com a perda do Império e a desonra da ditadura. Só faltava arruinar os portugueses e submetê-los pelo medo. O desemprego e o empobrecimento coletivo estavam nos planos deste governo extremista, que vê no ultraliberalismo o caminho da salvação.
É o retorno mole a um passado afrontoso e a um quotidiano de desespero.
Abril cumpriu a descolonização, o desenvolvimento e a democratização e não foram os seus capitães que agravaram as desigualdades sociais ou contribuíram para a perda da generosidade, entusiasmo e solidariedade que galvanizaram Portugal e os portugueses.
Ninguém ignora a crise financeira que assolou o mundo, mas
não há justificação para a iniquidade na partilha dos sacrifícios nem para a abolição
de direitos a que só a cegueira ideológica e o espírito de vingança marcam o
ritmo e a seletividade.
A Pide, as prisões políticas, a censura, o degredo, o
exílio, a tortura, a discriminação da mulher, a violação do domicílio e da
correspondência são dolorosas memórias dos mais velhos. Restauraram-se os
direitos cívicos, implantou-se a democracia. É pouco? Nunca tão poucos fizeram
tanto por Portugal como os capitães de Abril. Não deixemos agora que outra
gente nos conduza ao passado.
A escalada contra as conquistas democráticas deve ser
parada. A fidelidade ao ideário da Revolução de Abril é a forma de contrariar a
mais violenta ofensiva da direita, nos últimos 40 anos. Nada, absolutamente
nada, pode ser pior do que o Portugal beato, rural e analfabeto que o
salazarismo preservou graças ao analfabetismo e à repressão.
Na ditadura, o País não era a casa comum dos Portugueses.
Era a cela coletiva de quem não fugia. O 25 de Abril transformou Portugal.
Tanto tempo nas nossas vidas, tão pouco na história de um povo. É tempo de recuperar
o espírito de Abril.
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