A Turquia, a Europa e o futuro
As recentes eleições turcas deram a vitória ao AKP, partido de Erdogan, sem a maioria absoluta. Foi um revés para o presidente, que pretendia alterar a Constituição e reforçar os seus poderes, transformando a natureza parlamentar do regime em presidencial, com poder para abolir a laicidade do Estado e acelerar o processo de reislamização.
A propaganda a favor do seu partido, violando os elementares deveres de isenção de PR, não surtiu efeito. A entrada do partido secularista, HDP, no Parlamento, foi uma proeza num regime eleitoral que exige o mínimo de 10% dos votos.
A Turquia tem o mais numeroso exército da NATO fora dos EUA, um exército que era o garante da laicidade do Estado. Erdogan, o político que viu sucessivamente o diploma de “muçulmano moderado” rubricado pelos EUA e UE, logrou neutralizá-lo em nome da democracia e com depurações cirúrgicas, tal como fez à magistratura.
O desfecho eleitoral resultou do medo do seu crescente autoritarismo, neutralizando a intensa propaganda das mesquitas e madraças. A ameaça islâmica foi adiada, mas pode tornar-se precária a vitória da laicidade e da democracia.
Erdogan domina o seu AKP e conta com o MHP, partido nacionalista secular que lhe é próximo mas não quer um regime confessional. A laicidade tem um único partido com acesso parlamentar garantido, o republicano kemalista CHP, herdeiro do fundador da Turquia moderna, Kemal Atatürk.
No primeiro discurso desde que o seu partido AKP perdeu a maioria no Parlamento de Ancara, nas eleições legislativas de 7 de junho, Erdogan, pediu aos partidos turcos que "deixem os egos de parte" e formem um governo o mais rapidamente possível.
A previsível instabilidade beneficia o projeto autoritário e confessional do político que não enjeita ser um novo califa otomano. A curto prazo, novas eleições são um perigo e um desaire eleitoral do HDP, pró-curdo e sensível às minorias, ou do MHP que Erdogan pode desgastar, novas eleições podem dar ao ‘islamita moderado’ capacidade de inspirar um Governo virado para Meca.
O MHB nasceu financiado pela CIA na luta contra o comunismo. É um partido político ultranacionalista, de extrema-direita, herdeiro de uma mitologia turca e com um passado terrorista de assassinatos de militantes de esquerda, na década de 70 do século passado. A ala juvenil era formada pelos “Lobos Cinzentos” a que pertenceu o enigmático Ali Agca, executor do 3.º segredo de Fátima, segundo João Paulo II, vítima do ato terrorista falhado, graças à Sr.ª de Fátima, que guiou a bala. Em 1993, seis deputados do MHP deixaram o partido e fundaram o BBP, igualmente ultranacionalista, mas islamita.
O interesse geoestratégico da Turquia é decisivo para a Europa. A paz ou a guerra estão na sua dependência. O futuro da civilização europeia pode jogar-se no mar de Mármara e, sobretudo, no Estreito de Bósforo, tal como a tranquilidade da Rússia será perturbada com uma teocracia turca a alastrar através do Mar Negro.
A Turquia separa a Europa da Síria e do Iraque, onde começa o Estado Islâmico.
Não há democracias vitalícias e, no Islão, as ditaduras perpetuam-se teocraticamente.
A propaganda a favor do seu partido, violando os elementares deveres de isenção de PR, não surtiu efeito. A entrada do partido secularista, HDP, no Parlamento, foi uma proeza num regime eleitoral que exige o mínimo de 10% dos votos.
A Turquia tem o mais numeroso exército da NATO fora dos EUA, um exército que era o garante da laicidade do Estado. Erdogan, o político que viu sucessivamente o diploma de “muçulmano moderado” rubricado pelos EUA e UE, logrou neutralizá-lo em nome da democracia e com depurações cirúrgicas, tal como fez à magistratura.
O desfecho eleitoral resultou do medo do seu crescente autoritarismo, neutralizando a intensa propaganda das mesquitas e madraças. A ameaça islâmica foi adiada, mas pode tornar-se precária a vitória da laicidade e da democracia.
Erdogan domina o seu AKP e conta com o MHP, partido nacionalista secular que lhe é próximo mas não quer um regime confessional. A laicidade tem um único partido com acesso parlamentar garantido, o republicano kemalista CHP, herdeiro do fundador da Turquia moderna, Kemal Atatürk.
No primeiro discurso desde que o seu partido AKP perdeu a maioria no Parlamento de Ancara, nas eleições legislativas de 7 de junho, Erdogan, pediu aos partidos turcos que "deixem os egos de parte" e formem um governo o mais rapidamente possível.
A previsível instabilidade beneficia o projeto autoritário e confessional do político que não enjeita ser um novo califa otomano. A curto prazo, novas eleições são um perigo e um desaire eleitoral do HDP, pró-curdo e sensível às minorias, ou do MHP que Erdogan pode desgastar, novas eleições podem dar ao ‘islamita moderado’ capacidade de inspirar um Governo virado para Meca.
O MHB nasceu financiado pela CIA na luta contra o comunismo. É um partido político ultranacionalista, de extrema-direita, herdeiro de uma mitologia turca e com um passado terrorista de assassinatos de militantes de esquerda, na década de 70 do século passado. A ala juvenil era formada pelos “Lobos Cinzentos” a que pertenceu o enigmático Ali Agca, executor do 3.º segredo de Fátima, segundo João Paulo II, vítima do ato terrorista falhado, graças à Sr.ª de Fátima, que guiou a bala. Em 1993, seis deputados do MHP deixaram o partido e fundaram o BBP, igualmente ultranacionalista, mas islamita.
O interesse geoestratégico da Turquia é decisivo para a Europa. A paz ou a guerra estão na sua dependência. O futuro da civilização europeia pode jogar-se no mar de Mármara e, sobretudo, no Estreito de Bósforo, tal como a tranquilidade da Rússia será perturbada com uma teocracia turca a alastrar através do Mar Negro.
A Turquia separa a Europa da Síria e do Iraque, onde começa o Estado Islâmico.
Não há democracias vitalícias e, no Islão, as ditaduras perpetuam-se teocraticamente.
Comentários
Foi um privilegiado instrumento de pressão dos EUA na guerra fria e no campo europeu um terreno de recrutamento de mão de obra barata para o Norte e Centro da Europa.
Depois do 'nascimento' da moderna Turquia no rescaldo da I Guerra Mundial verifica-se que, nos tempos presentes, i. e., no pós guerra-fria, poderá estar-se a 'ensaiar' - com a complacência do Ocidente - o regresso a um 'novo' califado, sob a histórica bandeira otomana (muçulmana), com Erdogan a tentar assumir o cargo de 'sultão'.
Nesta tentativa (ainda) não o conseguiu. Seguem-se os próximos números num Médio Oriente devastado, à deriva e em permanente convulsão. O problema é que o Ocidente não tem qualquer estratégia consensual para a região. Pelo que as hipóteses de Erdogan são muitas e poderão, inclusive, ser uma questão de tempo...
Trágico!
Foi um ingénuo idealismo de alguns políticos europeus completamente ignorantes da história e particularmente da história das religiões que os levou a defender a ideia absurda de que a Turquia era um país europeu e que poderia aderir à União Europeia forçando essa nação a encetar uma serie de reformas que acabaram no final de contas por enfraquecer essas mesmas instituições que impediam a radicalização da politica turca. Agora é lidar com as consequências de tal asneira.