Lamego: Cavaco Silva, o fim de festa e o barulho das luzes…
O discurso do Presidente da República em Lamego mais não foi do que o prolongamento do discurso da tomada de posse proferido no início deste último mandato.
Mais uma vez recorre ao ajuste de contas e percorre por caminhos ínvios o passado recente.
Foi, antes de tudo, um penoso (mas esperado) alinhamento com a actual maioria governativa derrubando todos as barreiras de isenção e independência inerentes à função e, deste modo, excluindo muitos portugueses.
Recuperou e incluiu, na sua errática arenga, muitos dos slogans partidários que informam a propaganda governamental.
Alimentou uma visão salvífica do cruel resgate a que o País foi submetido, como capaz de exorcizar erros do passado (que existiram) e lançou-se no branqueamento de incontornáveis consequências económicas e sociais, nomeadamente, a selvática expansão da pobreza e a ameaça pendente de desestruturação social.
Preferiu acantonar-se nas empresas, na competitividade, no empreendedorismo e em números e estatísticas fora que qualquer tipo de interpretação política e a partir dessa posição ‘equilibrista’ olhar para o País como um ébrio que dando voz a uma bizarra alucinação é capaz de vislumbrar laranjas em roseiras (a imagem não é inocente).
Uma mensagem presidencial absolutamente virada para o mais desbaratado ‘autismo nacionalista’, Cavaco Silva, ignorou ostensivamente a Europa e meteu-se a exaltar a ‘gesta heróica nacional’. Não chegou ao ‘orgulhosamente sós’ mas andou lá perto.
Infelizmente, a crise fez compreender aos portugueses que o nosso futuro passa pela Europa pelo que o discurso do nosso (ainda) presidente assumiu ares de patético. Ou de intolerável propaganda pré-eleitoral.
Abandonou, por cansaço, os apelos ao consenso que têm norteado as suas intervenções políticas nos últimos tempos e derivou para outra posição. Apresentou os pilares (4!) para a próxima governação. Pouco para quem pretendeu, sem o conseguir, influenciar prematuramente o ‘pós-troika’. Criticou os arautos do ‘pessimismo’ e transformou-se num arauto de um optimismo infantilizado.
Um discurso que não surpreendeu o País e que veio indirectamente sublinhar a profunda fragmentação social e política que, de facto, existe (ver as reacções das diferentes forças partidárias). Isto é, foi um discurso contemporâneo com a fatal tríade que enfrentamos: uma maioria, um governo, um presidente.
Finalmente, não é necessário ser profeta para vislumbrar o ‘miserabilismo’ desta intervenção presidencial, eivada de um inqualificável 'servilismo'. Para chegarmos ao merecido descanso falta ainda ‘gramar’ a Mensagem de Ano Novo, mas felizmente falta pouco.
Como diz o povo quando se abespinha: Passar bem, senhor Presidente!
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