Que distância vai de Reykjavik a Atenas, passando por Bruxelas?

O drama grego leva-nos a meditar sobre o ‘caso islandês’. Numa análise muito sumária é fácil constatar que a Islândia conseguiu sacudir rapidamente os efeitos da sua gigantesca crise bancária porque não integrava a zona euro e, portanto, escapou à receita de austeridade para controlar e divida e, supostamente, crescer à sombra de um empobrecimento. Não se deixou 'resgatar'. Tomou esse desafio como seu e resolveu-o à sua maneira.
Na verdade, dispunha (e continua a dispor) de moeda própria mas o cerne da sua reacção à crise bancária instalada foi associação desse trunfo monetário ao primado da política sobre os lobbys e interesses financeiros.

Mas, para além disso, a Islândia desenvolveu, a partir de 2008, um sistema de controlo de capitais disciplinado a sua movimentação. Só agora – passados 7 anos e em plena recuperação – pensa em aliviar esse controlo mantendo-o, todavia, condicionado à estabilidade económica e financeira. 
O alívio passa pela instituição de uma “taxa de estabilidade” sobre o valor dos activos bancários transaccionáveis (resgatáveis) no valor de 39%. 

Os islandeses não esquecem o rombo bancário que, na sequência da crise financeira mundial, envolveu os principais bancos islandeses e que, para um país de cerca de 300 mil habitantes, atingiu a soma astronómica de 80 mil milhões de euros. Tendo recusado veementemente a via da austeridade e optando por responsabilizar os políticos e o sector bancário pelos seus erros e desmandos, a Islândia está hoje na rota do crescimento económico (previsão de 3% a 4% para 2015) e resolveu o problema do desemprego gerado à sombra da crise (desceu da taxa de 11,9% atingida no auge da crise para 3-4% em 2014) link.

A Islândia, sendo um pequeno País, não deixa de ser o laboratório vivo que atesta, no presente e para futuro, o falhanço das políticas de austeridade impostas pela UE aos países da periferia europeia.

A Europa ignora, ostensivamente, esta realidade. Facto que, também, não ficou sem resposta. A Islândia 'desinteressou-se' de integrar a UE.
 
Vai uma grande distância entre o que se passou em Reykjavik e o que se vive hoje em Atenas porque o atalho de Bruxelas (e de Frankfurt e Washington) estragou tudo: a existência soberana dos países e a vida dos cidadãos. E as (outras) soluções demoram, i. e., quem se mete em atalhos...

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