Cavaco e o futuro do dito

Há já um frenesim da direita na reabilitação do pior PR da democracia, uma pungente necessidade de lhe criar vida depois das funções de porta-voz do atual Governo, uma desesperada tentativa de o manter vivo à espera de lhe encontrar préstimo.

Os politólogos, que, tal como a pitonisa de Delfos, no seu tempo, ou a popular bruxa da Lousã, ainda em funções, vivem das previsões do futuro, já vaticinaram que regressará à vida académica, fará conferências ou escreverá nos jornais, a partir do Convento do Santíssimo Sacramento onde tem reservado o gabinete de ex-PR.

A um morto nada se recusa mas o próprio já ameaçou: «Escreverei as minhas memórias depois de março de 2016», dia por que os portugueses há muito anseiam.

Não se acredita que esclareça os negócios nebulosos, cumplicidades suspeitas e, muito menos, a ausência de passado democrático durante a ditadura. Aproveitará o mérito do assessor que escolher, talvez Fernando Lima, melhor a pensar e a escrever do que a fabricar escutas, para recriar o passado privado e desencardir o público.

O assessor e o secretário, a que tem direito, têm de inventar virtudes ao bem-aventurado e ser postuladores do processo de beatificação que o Opus Dei patrocinará

A hagiografia futura há de inscrever no Flos Sanctorum romano a vida e a obra de Santo Aníbal de Boliqueime, herói e mártir de um partido desaparecido.

Laus Deo.

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