ALGO ESTÁ PODRE NO REINO DA JUSTIÇA

Na enorme maioria dos processos que correm nos tribunais e de que se fala nos jornais, estes não mencionam o nome do juiz ou juízes encarregados deles; dizem “o juiz”, “o tribunal”, “o coletivo”. E assim é que está bem. Em princípio todos os juízes são bons, honestos, sérios e imparciais, sendo pois indiferente que se chamem Fulano ou Beltrano. Alguém sabe os nomes dos juízes que condenaram o sucateiro Manuel Godinho no processo “Face Oculta? Ou o dos que estão a julgar o alegado homicida Manuel “Palito”? Sobre o julgamento deste, ainda hoje li uma notícia em que se dizia: “o Ministério Público pediu…”, “a Procuradora considerou…”.

Um juiz deve ser sóbrio, discreto, não devendo dar nas vistas ou salientar-se dos demais.

Assim, quando os jornais começam a dizer “o Juiz Sicrano” é mau sinal. E quando se põem a falar da pessoa do juiz, da sua maneira de ser, da sua vida pessoal, como se ele fosse um ator de cinema ou uma vedeta Super-Star, então é um sinal péssimo.

Mas o cúmulo dos cúmulos, e tanto quanto sei inédito, é aparecerem no facebook páginas de apoio a um juiz (conheço pelo menos 3 – sim, três! - de “Apoio ao Juiz Carlos Alexandre”). Nunca nenhum juiz precisou de apoios. Não se apoiam juízes; apoiam-se políticos.

Ora estes “apoios” começaram justamente com o caso Sócrates, um político. E, não por acaso, os que “apoiam” o juiz Carlos Alexandre são detratores políticos do político Sócrates. Não admira, assim, que muita gente fique com a ideia de que o caso Sócrates é um caso político, e de que a prisão de Sócrates é um caso de perseguição política.

Ora isto é o pior que pode haver. E se a isto juntarmos o facto de existir um blog em que magistrados se divertem a troçar do arguido Sócrates e a rejubilar por esse político ter sido preso, então temos de concluir que a justiça caiu na lama. Como pode alguém acreditar que esses magistrados, se fossem encarregados de julgar Sócrates, seriam imparciais?

E não pode deixar de salientar-se que no mesmo caso tem havido sucessivas violações do segredo de justiça, sendo publicadas em jornais sensacionalistas coisas que em princípio deviam ser secretas.

Alguma coisa está podre no reino da Justiça portuguesa. Muito podre.

Comentários

Manuel Galvão disse…
Algo está diferente na justiça, algo está diferente na democracia, algo está diferente na economia.Resultando da alteração do paradigma do poder que se operou com o aparecimento de uma nova realidade que dá pelo nome de Globalização. Parece um lugar-comum mas não é.
E nós, que vivemos em tempos a ditadura e também em tempos a libertação e a democracia, somos os velhinhos do Restelo de hoje...
O Velho do Restelo tinha "aspecto venerando e experto peito". E tinha muita razão. E merece respeitinho. E é dos tipos mais caluniados e deturpados da história. Os poderosos chamaram-lhe timorato e cobarde. Nós emprenhamos de ouvido e f****. Então como hoje.

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