Um bispo troglodita

Braulio Rodriguez, arcebispo de Toledo, sucessor do ultrarreacionário cardeal Antonio Cañizares, levado para o Vaticano por Bento XVI, não dececionou quem o precedeu na cidade onde, na guerra civil, o padre que acompanhava o general franquista Moscardó, excitado, gritou aos soldados que chacinavam os resistentes republicanos: “matai, matai, irmãos…[e ocorrendo-lhe a condição cristã]…mas, com piedade.

O atual arcebispo de Toledo, Doutor em Teologia Bíblica, com 72 anos de celibato, diz que “as mulheres são assassinadas porque pedem o divórcio” sem pensar “em outro tipo de uniões afetivas, onde quase o único que as une é o físico, o genital e pouco mais."

O especialista em violência de género num país onde, em 2015, morreram 56 mulheres às mãos dos seus companheiros ou ex-companheiros [em Portugal, 28, neste macabra contabilidade] entende, na sua experiência celibatária, que «elas são mortas porque os maridos "não aceitam as suas imposições" ou porque "pedem a separação".».

O sermão do arcebispo, durante a missa celebrada dois dias depois do Natal, na Catedral de Toledo, referido em Espanha por El País, em 5 de janeiro, e em Portugal, pela Visão, no dia seguinte, «culpabilizou, em parte, as mulheres pelas agressões e homicídios, justificando as ações dos homens com a falta de submissão delas aos "varões".

O piedoso prelado “também” está preocupado com esses assassinatos, mas acha que não se devem considerar esses crimes "simplesmente violência de género".

A semelhança com qualquer mullah islâmico é pura coincidência. É apenas a herança do catolicismo franquista que se mantém viva.

‘A falta de submissão das mulheres aos maridos’ não é apenas pecado, assunto em que o bispo é perito, é deplorável que o crime não seja contemplado no Código Penal!

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.” (Mt 5.3.)

Comentários

e-pá! disse…
Toledo tem uma importância particular na história contemporânea de Espanha nomeadamente no que se refere ao período franquista.
Foi a academia militar onde Franco se habilitou nas artes marciais.
Mais tarde, durante a guerra civil, o mesmo Franco construiu um episódio mítico à volta do Alcazar de Toledo para tentar esconder (branquear) o sanguinário morticínio provocado pelo bando legionário africano, culpar a República e politicamente ascender ao almejado posto de 'caudillo'. "Por la gratia de Dios"...
O franquismo sobrevive sob diversas nuances. O político permanece oculto, envergonhado mas latente, o sociológico infesta (ainda) a Espanha pós-falangista e misturou-se com a vertente religiosa facto que é bem visível na diocese de Toledo, mas não só. Rouco Varela foi, em Madrid, outro (in)digno representante religiosos do franquismo, que conseguiu persistir até há poucos anos.
Não nos podemos esquecer que a 'cruzada falangista' que varreu a Espanha no pós-guerra civil, cometendo incríveis barbaridades, assentou arraiais em Toledo.
Os bispos que tomaram conta dos 'fiéis' desta cidade, não foram escolhidos por acaso. Toledo, depois das invasões napoleónicas ficou reduzida a quase nada (perdeu o seu estatuto de 'primaz') e só voltou a 'levantar a cabeça' com o franquismo.

O Vaticano não descurou esses assuntos e, já muito posteriormente ao desaparecimento físico de Franco (em Outubro 2013), a ICAR apressou-se a beatificar - de uma assentada - 500 'mártires', quase todos religiosos, naquilo que foi uma impressionante e serôdia homenagem ao franquismo.

A cantilena de bispo de Toledo não espanta...É o resquício (o resíduo) da 'igreja franquista' a estrebuchar.
Jaime Santos disse…
E para quando a III República Espanhola? Também pelo gozo que daria ver todos estes ultramontanos de extração franquista de cara à banda. E sobretudo porque o federalismo republicano poderá mesmo ser a única coisa que poderá salvar a Espanha da implosão, o que seria uma pena. As nacionalidades na Espanha são uma realidade inegável, mas o que precisamos é de união e não de um nacionalismo que por trás de uma face pretensamente progressista, esconde na verdade o desejo de abandono das regiões mais pobres da Espanha por parte das mais ricas e a vontade de criar cidadãos de primeira e de segunda (como defendia o nacionalismo basco). Convenhamos que em face da riqueza e da antiguidade da cultura espanhola, a união da Escócia com a Inglaterra é uma aquisição relativamente recente...
Jaime Santos:

A República espanhola virá. Pode não vir de forma pacífica mas a herança monárquica imposta por Franco cairá.
Jaime Santos disse…
Diria Carlos, que se vier, só poderá vir de forma pacífica, a Espanha já suportou por demasiadas vezes o custo da violência. Se há coisa que admiro na atitude britânica é que não há nada que não se resolva pelo voto, como aconteceu na Escócia. Espero que os espanhóis como um todo saibam perceber isto, mas espero igualmente que os nacionalismos galego, catalão e basco reconheçam que cada uma das regiões é o que é por causa da sua pertença a esse todo. Poucas coisas me deixariam mais feliz do que o reconhecimento da unidade republicana por partes dos descendentes daqueles que lutaram por ela e contra Franco.

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