Manuel Alegre e o PS


A participação de Manuel Alegre numa iniciativa do Bloco de Esquerda é um direito de cidadania que não se discute, mas a participação de um deputado do PS em acções que contestam o seu próprio partido, deixa de ser um direito à diferença para se tornar numa contestação política concertada com forças concorrentes.

Há aqui um afrontamento ao PS, independentemente das razões substantivas das divergências, afrontamento que faz parte do legítimo combate político mas vedado, por razões de solidariedade institucional, aos membros do grupo parlamentar.

Manuel Alegre é uma referência da luta contra a ditadura, um intelectual de grande dimensão e um político cuja vida se confunde com a militância partidária. A sua saída seria uma perda para o PS mas a sua hostilidade é uma perda para si próprio.

No período conturbado que se vive, em tempo de vacas magras e, possivelmente, com dias piores que se avizinham, é fácil ser popular criticando mas difícil ser credível sem alternativas que é urgente apresentar.

Qualquer português se deve interrogar sobre os caminhos políticos que podem abrir-se. Baixam-se impostos e despedem-se funcionários públicos? Aumentam-se e subsidiam-se os combustíveis? Eliminam-se, diminuem-se ou aumentam-se as prestações sociais aos mais necessitados? Enfim, há imensas equações que podem fazer-se de acordo com as opções ideológicas de cada um e, passe o jargão marxista, com as opções de classe.

No tenho visto propostas fundamentadas alternativas ao actual Governo cuja contenção do défice, necessária e inadiável, custou imensos sacrifícios aos portugueses. É por isso que, à falta de uma alternativa que me convença, posso perder a consideração de amigos de longa data e ser caluniado como oportunista (eu que nunca quis ser, nem quero, nem preciso, do PS) mas não serei cúmplice de uma oposição que acabe por entregar o poder ao PSD/CDS ou que deixe Portugal ingovernável.

A recente declaração de intenção de Helena Roseta em recandidatar-se à Câmara de Lisboa é também um acto hostil de quem tem alinhado as suas posições políticas com Manuel Alegre embora, no seu caso, com a legitimidade de quem pode estar ressentida mas não tem obrigações de fidelidade partidária.

Como Helena Roseta era a minha candidata preferida à presidência da República, nas últimas eleições, magoa-me que a sua participação cívica actual se confunda com o obsessivo combate contra o PS.

Pela afectividade que nutro por Helena Roseta e Manuel Alegre custa-me vê-los numa deriva que os transforma, respectivamente, na Carmelinda Pereira e no Aires Rodrigues do século XXI.
Não lhes desejo boa sorte no combate político.

Apostila – Há 47 anos que me empenho na política. Partidariamente só integrei a CDE, antes e depois do 25 de Abril, até 1975, e estive quase sempre em minoria. Este texto vai desiludir vários leitores mas, em consciência, não devo remeter-me ao cómodo silêncio.

Comentários

Vítor Ramalho disse…
Abstenho-me de comentar esta atitude de Manuel Alegre.
Relativamente á crise a solução é só uma e não a fazem porque estão reféns deles. O grande capital que pague a crise.
jrd disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
jrd disse…
Caro amigo,
Excelente o texto, discutiveis,mas legítimas, certas partes do conteúdo.
Não sou dado a partidarites nem dentro, nem "fora", mas como diria Karl Valentim: e não se pode criticá-lo?...
Passa pelos bth, pode ser que te agrade.
Abraço
Anónimo disse…
Subscrevo a totalidade deste texto... a vaidade humana, tolda-nos a visão, a perspectiva, a humildade que deve revestir as nossas razões-analises.
abraço
e-pá! disse…
CE:

O que se está a passar no PS, partido com a exclusiva responsabilidade governativa, é fruto de uma profunda e extensa crise social, que já se sente por todo o lado e que se adivinha mais grave.
É natural, que para políticos da estirpe de Mário Soares e Manuel Alegre essa crise seja um enorme desafio político na buscas de soluções que "aliviem" a crise, nomeadamente, aos mais desfavorecidos. Todavia, não tenhamos ilusões: a crise é maior. Ela atinge, profundamente, a "classe média" , hoje em dia, em fase de meteórica desagregação. Parece que vai desaparecer, transferindo o seu posicionamento para as proximidades da chamada "linha da pobreza".
O final de um longo período de industrialização e a vigência implacável das leis da economia de mercado, fizeram que as "classes médias" tivessem sido gradualmente substituídos por um novo estrato social - as "classes de massa".
A liberalização da economia, consequência da aplicação do neo-liberalismo económico, associada a importantes desenvolvimentos tecnológicos tem conduzido à comercialização de toda uma nova gama de bens e serviços. Um fenómeno suficientemente poderoso para a expansão do mercado mas que fez "nascer" uma nova população, habituada a tudo consumir rapidamente e a endividar-se. Aparentemente aparecia uma economia do tipo "low cost".
A evolução da economia mundial, i. e., a globalização trouxe alterações importantes das quais não podemos deixar de salientar á exclusão social e, por arrastamento, económica.
O "modelo social europeu", de que a França é um exemplo paradigmático, e as violentas perturbações de rua que geraram são um exemplo a considerar e devem constituir uma fonte de aprendizagem política e social.
Nem o actual mercado de trabalho , nem os regimes de segurança social em vigor são adaptados para o aparecimento desta massificação. Este fenómeno tem-se revelado incapaz de substituir o papel de “motor” social e económico das “classes médias” em vias de extinção.
É aqui que começa o grande desafio da Esquerda. Que pretende enfrentar os desafios de Países emergentes como a China, a Índia, ou mesmo, o Brasil. A Europa tende a adaptar-se a este movimento como fim de evitar o desenvolvimento de um capitalismo selvagem e, consequentemente, à debilidade dos valores democráticos.
O que tem a ver Manuel Alegre, com isto?
Vivemos um primeiro ciclo de governação socialista, absolutamente dominado pelo pragmatismo sob a batuta de Sócrates. Mas há muito que existiam sinais desta deterioração. É nesse contexto que surge o Movimento de Intervenção e Cidadania, encabeçado por Manuel Alegre. Concorre às eleições presidenciais, legitimamente, já que se tratam de eleições de cidadãos adultos e na posse de todos os direitos políticos.
Mas temos que acrescentar: contra o “pensamento oficial” do PS. Que tinha feiro outras opções.
As eleições presidenciais foram um desastre para a Esquerda. O PS nunca se retratou deste erro estratégico. Manteve, apesar da derrota, com Mário Soares, uma postura digna e respeitosa que lhe devia enquanto fundador do partido. Mas Mário Soares é um homem livre e, chegado o momento, não se eximiu de criticar actual o rumo do PS, defendendo um inflexão para a Esquerda. E sendo uma reserva da República ficou pelo aviso.
Manuel Alegre é mais voluntarioso. Ele foi “enxovalhado” dentro do PS, nas últimas eleições presidenciais. Ninguém procurou “compor” este tremendo erro ou sequer admiti-lo publicamente. Transferiu-se a responsabilidade para Manuel Alegre que, segundo o aparelho, nunca devia ter desafiado a “linha oficial”.
Novamente, estamos perante um homem livre. Ainda no activo que não pode viver, nem dormir, sossegado perante o rumo dos acontecimentos.
O comício de 3º. feira, que junta o Bloco de Esquerda, Renovadores Comunistas e em que discursa Manuel Alegre, nunca será uma afronta para o PS. Será sempre uma chamada de atenção para os novos tempos, para as novas condições.
E correndo o risco que não ser totalmente justo, o PS enquanto partido democrático, livre e aberto, não tem proporcionado a nível interno um inadiável debate, sem o apertado controlo do “aparelho” partidário.
Por isso, Manuel Alegre vai ao encontro de uma das possíveis tribunas que, em momento certo, lhe abre espaço para discutir os caminhos da Esquerda.

O que intriga, de maneira perturbadora, o PS é que, Manuel Alegre e Mário Soares, atirados um contra o outro, neste momento político, acolhem-se na mesma barricada. É uma espécie de exorcismo das últimas presidenciais.

Aqueles que sonham que este comício é uma plataforma de lançamento de uma força política aglutinadora do BE Renovadores Comunistas e a ala esquerda dos socialistas, vivem no temor da dissidência e, antes disso, deviam inquirir se o PS – fora do Comissão Nacional – tem discutido problemas doutrinários ou os rumos da Esquerda em Portugal.
A Esquerda é muito mais ampla e mais poderosa sociologicamente do que este comício. Felizmente!
Por outro lado, considero a manifestação de 3ª. feira, não como um comício, mas sim uma “festa”, que junta pessoas politicamente muito diferentes, mas cuja preocupação actual e principal é combater os défices sociais e as desigualdades que infestam Portugal e podem a breve trecho causar perturbações sociais insanáveis.
O facto do BE parecer liderar a sua organização - não devemos esconder o que é visível - não lhe rouba oportunidade, nem torna uma (deveria haver mais) manifestação democrática, profana.

Ou, para não sentirmos a crise, vamos matar o debate ideológico, até que comecem carros a arder nas ruas?

4ª feira, depois de ter livremente, com autoridade e sabedoria, lançado os seus alertas aos portugueses, Manuel Alegre, estará na AR, entre os seus camaradas de partido.
Nem podia ser de outra maneira.
Rui Luzes Cabral disse…
Enquanto não se abandonar a febre e a moda das privatizações isto vai continuar.

Que sentido faz, por exemplo, a Lusoponte ser uma empresa privada?

Que sentido faz, andarem os contribuintes portugueses a pagar ao longo de anos empresas como os CTT, EDP, CP, TAP, CGD e muitas outras para depois serem os accionistas privados a "lambuzarem-se" com os lucros? Mas o que é isto?

Primeiro dizem-nos que chega ao Estado um papel regulador que é para o esvaziar e depois ajoelha-se o Estado e a política ao poder económico e financeiro. Isto é uma vergonha.

É preciso voltarmos às nacionalizações. É preciso que o Estado seja quem manda, obviamente com o mandato que lhe é conferido pelo voto popular.

Se for para resolver uma crise, subindo os impostos e as taxas eu também sei governar. Fantástico, seria encontrarmos políticos que soubessem governar criando novas políticas que não incidissem sempre nos mesmos.
Rui Luzes Cabral disse…
Afinal JCN não escreve só a defender a religião!

A APATIA DA FORTE GENTE

João César das Neves
professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

A economia portuguesa é uma das mais flexíveis e dinâmicas do mundo. Esta frase, hoje tão controversa e quase contraditória, permanece indiscutivelmente verdadeira. As provas são fáceis de apresentar.

Portugal tem sido um sucesso notável de desenvolvimento registando, no produto por habitante em paridades de poder de conta, a oitava taxa de crescimento mais elevada do mundo na média de 1960 a 2001. Só sete países no planeta melhoraram mais que nós na segunda metade do século XX. Na União Europeia, o "bom aluno luso" ainda é exemplo: mantém-se como uma das economias pobres que mais se desenvolveu nos primeiros três anos após a adesão, só atrás dos três bálticos e Eslováquia. Além disso, nos 20 anos de 1980 a 2001, tivemos a taxa de desemprego mais baixa da Europa do Sul e a terceira mais baixa dos Doze da UE.

Outros sinais são claros. O nosso país permanece a única economia mundial onde um plano de estabilização do FMI correu bem. Aliás, por duas vezes, em 1977 e 1983. Em ambos os casos, a austeridade funcionou rapidamente, resolvendo o desequilíbrio em menos de três anos. Na sequência, conseguimos ser um dos poucos países a viver 13 anos no sistema cambial de crawling-peg, mecanismo que conta mais fiascos que sucessos na sua história. É precisa muita flexibilidade para sustentar a rigidez dessa disciplina.

Também os importantes fluxos migratórios, característica histórica hoje renovada, são sintomas dolorosos do mesmo dinamismo e flexibilidade. A enorme emigração lusa dos anos 50 e 60 bateu recordes mundiais, com valores só ultrapassáveis por casos de catástrofes naturais. Por outro lado, os episódios de imigração, quer no regresso dos "retornados" em 1975 quer desde a viragem do milénio também são fenómenos em escala incomparável, absorvidos na sociedade com custos elevados mas sem perturbações de maior. Até algumas das chamadas "chagas", como a precariedade do emprego e economia paralela, são evidentes sinais de flexibilidade.

Muitas outras provas poderiam ser aduzidas para substanciar a afirmação. Ela sente-se na recente e incrível transformação estrutural no produto, emprego e comércio externo. Em 35 anos absorvemos 40% da população activa, que estava na agricultura em 1950. Em 15 anos substituímos 20% das nossas exportações, que em 1990 eram têxteis. Hoje as mudanças continuam evidentes, com o crescimento dos serviços e o aparecimento de novos sectores. Se é assim, porque estamos em crise há tanto tempo?

Existe uma serpente neste paraíso, uma Dalila para este Sansão, uma kryptopnite deste Superman. O País que fundou o mais longo e vasto império colonial da História, que defrontou com sucesso a EFTA, a CEE e o mercado único, conhece bem o veneno que corroeu os sucessos iniciais nessas realizações. Não é difícil compreender porque os dois trunfos do nosso desenvolvimento, flexibilidade e improvisação, não têm hoje os resultados de outros tempos. Contra eles conspiram múltiplas forças paralisadoras, as mesmas que nos bloquearam no passado. Enorme camada de parasitas suga o progresso.

Os portugueses, que se excedem nos momentos de dificuldade, costumam cair numa modorra quando tudo corre bem. Após o obstáculo, onde revelámos o nosso melhor, deslizamos para a complacência e cumplicidade, pela instalação dos interesses, bloqueio das corporações, paralisação das burocracias. A economia portuguesa continua tão dinâmica e flexível como sempre. A globalização impõe hoje, como no passado, uma reestruturação, que se verifica. Mas muito lentamente. O motor está atrelado a um peso morto que tem de arrastar: regulamentos e portarias, burocratas e mandarins, impostos e multas, fiscais e inspectores, directivas e diuturnidades, direitos adquiridos e justas reivindicações.

Nos reinado de D. Fernando, D. João III e D. João V, nos consulados do Duque de Loulé, António José de Almeida e desde António Guterres, "um fraco rei faz fraca a forte gente" (Os Lusíadas III, 138). Porque a forte gente se deixou adormecer na apatia das repartições.
Rui Luzes Cabral:

João César das Neves só é desonesto no que se refere a Guterres.

Neste caso, naturalmente.
e-pá:

Entendamo-nos. Eu não estou feliz e sinto que perdi nos dois últimos anos, sem contar com a inflacção, cerca de 200 euros mensais de reforma (impostos).

Mas pergunto: onde se vão buscar e onde se vão colocar recursos?

Que faria de diferente do actual Governo se partir do princípio que o défice é para ser eliminado?

Ninguém vive sempre à custa dos outros. Porque os outros não deixam...

****

Quanto a Manuel Alegre o problema que eu levanto é se é ético ter um projecto próprio mantendo-se na bancada do PS. Não concorda, passa a independente.

No meu ponto de vista é mais transparente e politicamente respeitável.
Lídia Garcia disse…
Pelo contrário, Carlos Esperança!
Este artigo, se dúvidas eu tivesse - e não tinha! -, é bem a mostra da inteireza de carácter, da firmeza de convicções e da coragem de sempre lhe reconheci e admirei.

…«a participação de um deputado do PS em acções que contestam o seu próprio partido, deixa de ser um direito à diferença para se tornar numa contestação política concertada com forças concorrentes.»

Só posso estar de acordo!!! E a Manuel Alegre nunca faltará visibilidade, quaisquer que sejam os momentos ou os palcos em que pretenda exercer o seu direito de discordância ou mesmo de rebeldia. Podia, portanto, fazê-lo com a mesma determinação, mas de outra forma e com maior elevação.
Helena Roseta... Uma parlamentar brilhante, uma mulher segura e combativa que aprendi a respeitar e admirar quando ainda militava noutro partido e se empenhava noutra bancada.
Um e outro, gostaria que não desistissem, mas que nos pudéssemos rever na sua luta. Sempre e pelos motivos certos!...
Obrigada ao Carlos pelo oportuno e excelente texto e a "e-pá!" por mais este esclarecido (e esclarecedor) comentário.
Amigo Esperança,

Também eu subscrevo esta sua análise sobre o comportamento político destas personagens.

Cumprimentos
.
Regionalização
.
e-pá! disse…
CE:

Todos estamos "magoados" interiormente, com a lentidão de um processo de recuperação económica de se arrasta há demasiado tempo, com o disparar dos preços dos combustíveis, e consequente especulação dos produtos alimentares, com o endividamento progressivo e intolerável para os portugueses que “sonham” em ter uma casa, com a subida constante das taxas de juro decretadas pelo BCE, com uma inflação não tão controlada como isso, com a perda de direitos sociais, com o congelamentos de salários e carreiras.
Todos nós sentimos – nem sempre é dito – que a causa são os mecanismos do mercado e a justificação remota a globalização da economia.

CE: a sua frase é lapidar!. “perdi nos dois últimos anos, sem contar com a inflacção cerca de 200 euros mensais de reforma (impostos).. Mas à sua volta há pior. Existem milhares de situações de probreza, desigualdades e exclusão.

O caminho que Manuel Alegre seguiu não é ortodoxo, as palavras que Mário Soares escreveu sobre o rumo do PS não são fáceis de digerir (a não ser pelo porta-voz Vitalino Canas - que nunca vê nada de novo!), mas nesta luta que a Esquerda tem obrigatoriamente de travar, não pode haver remoques, nem colocar Manuel Alegre no PS com um projecto na mão que torpedeie o programa partidário (que não o programa de governo).

Acabaram-se os tempos da “autobastança” partidária, seja qual for o partido.
Neste post temos discutido o papel de eminentes e anónimos socialistas, mas nem se tocou ao de leve na atitude inaceitável do PCP.

Temos de ir a todas, como já o fizemos no passado.

Agora, o que me impressionou foi o seguinte paragrafo:
" Pela afectividade que nutro por Helena Roseta e Manuel Alegre custa-me vê-los numa deriva que os transforma, respectivamente, na Carmelinda Pereira e no Aires Rodrigues do século XXI.
Não lhes desejo boa sorte no combate político."

Esta derradeira frase não favorece, não esclarece, nem dignifica o combate político que a Esquerda tem de travar em Portugal. É o formalismo a controlar a realidade.
Amaldiçoa a luta que Manuel Alegre trava, participando em protestos de rua, em comícios, sem oferecer (a Manuel Alegre e aos portugueses) qualquer alternativa que não seja “aguentar” a perda dos tais 200 € ... e por aí além, até chegarmos à fome, à iniquidade como cidadãos...

Assim não!
E-pá:

Continuam a estar em causa, não as legítimas posições de Manuel Alegre, mas o facto de as assumir, mantendo-se na bancada parlamentar, discordando do partido.

Quanto aos 200 euros que eu perdi. Se estivesse no poder a direita, pura e dura, tê-los-iam perdido os mais pobres e não eu.

O que está em causa é de que lado se puxa a manta e quem se deixa a descoberto.
Graza disse…
Entendo que o verdadeiro cerne da questão passa pela atitude do PS face a Manuel Alegre e não o contrário, sublinho o que escreveu aqui, e-pá!: “... Ele foi “enxovalhado” dentro do PS, nas últimas eleições presidenciais. Ninguém procurou “compor” este tremendo erro ou sequer admiti-lo publicamente...” Nunca me tinha apercebido de tanto desprezo no PS por quem não estava com a linha oficial. A campanha de Alegre foi de uma grande correcção em relação a Soares, ela foi até um levantar dos valores da Liberdade e da Cidadania como há muito não acontecia, o que o PS não vinha sabendo fazer, há muito. O PS continua a lavrar agora no mesmo erro e a pensar que quem esteve com Manuel Alegre não esteve de alma e coração naquele projecto. Os votos de Manuel Alegre estarão ainda intactos e serão porventura mais, quanto mais o PS persistir em encarregar figuras como Vitalino Canas ou Vieira da Silva de saltar em palcos na afanosa tentativa de o descredibilizar. Todos os que estiveram com Alegre sentiram e sentem-se constantemente “enxovalhados” como se fosse um estigma estar com a sua corrente de pensamento. Existe ali uma enorme vontade debater o Socialismo e a Esquerda por oposição à MODA do Neo-Liberalismo que tudo tritura.

Só admito estas palavras de Carlos Esperança, pelo desconhecimento do que se passou de verdadeiro nas Campanhas de Alegre e Roseta. Nunca esperei sentir tanta acrimónia no PS e esse foi o mal, foram todos tomados por um ressaibo inaudito, como se fosse proibido pensar de forma diferente e foi tanto mais grave, quanto aquela forma se provou estar certa, e para que não se esqueça foi tudo feito por gente anónima e contra a corrente. Foi um movimento bonito de uma grande transversabilidade. E talvez seja isto que ainda dói no Largo do Rato.
Graza:

É capaz de ter razão em tudo o que diz. Só o não confirmo porque nunca entrei numa sede do PS e desconheço o que lá se passa.

Mas o problema que eu levantei é outro. É o da legitimidade de participar numa manifestação hostil ao PS (ou a qualquer outro partido) mantendo-se deputado desse partido.

Os partidos são o que são e não o que gostaríamos que fossem.

O problema vai passar-se com Santana Lopes. Não tem o direito de hostlizar o PSD enquanto não resignar ao lugar de deputado.

Se cada deputado seguir a sua própria consciência nas votações (seria eticamente extraordinário) o país tornar-se-ia ingovernável.
Graza disse…
Na óptica do PS é uma manifestação hostil, dado os últimos acontecimentos com o BE. Contudo a "Festa" que não o "Comício" ou Manif já estava programada antes de tudo, e Alegre já disse claro que não é disso que se trata. E sejamos honestos com ele, acha que é homem para ir para ali apunhalar a sua história e os seus companheiros em conluio com outros? É essa falta verticalidade que este homem inspira? Francamente, não me parece!

Saudações.
Graza disse…
Dir-lhe-ei amanhã se tinha razão para os seus receios. Agora vou para a Festa.
Graza disse…
Cumprindo o prometi aqui fica o que achei da Festa no Teatro Trindade, ontem.

Foram três belíssimos discursos de Esquerda, de José Soeiro (BE), Isabel Allegro Magalhães (Independente) e Manuel Alegre (PS), daqueles que andamos a precisar de ouvir e que nos fazem acreditar ainda um pouco. É urgente resolver o problema dos que vivem nos limites da pobreza, nesta sociedade que insiste em achar normal por exemplo, que a empregada de limpeza de um Banco, contratada por uma empresa de trabalho temporário, ganhe dois euros e quarenta e dois cêntimos por hora, a entrar às seis da manhã, enquanto o gestor vai para casa descansar com trinta e cinco mil euros por mês. Estamos a criar ghettos que explodirão de alguma forma a seu tempo, se não soubermos encontrar caminhos. E o que a Esquerda quer dizer é que esta disparidade não faz sentido e não tem que ser a fatalidade que a Direita dá como a resposta, quando fala do insucesso dos pobres. Hoje o fosso alarga-se não só porque os pobres são os mais vulneráveis pela ausência de verdadeiros planos de irradicação da pobreza, mas porque todos conhecemos a força com que o poder económico impõe a receita neo-liberal, e a dependência que a necessidade de garantir um posto de trabalho cria desse modelo preverso e nos tolhe o protesto às injustiças.

Falou-se apenas disto, e de uma vontade grande de um novo discurso de Esquerda, e como diz Alegre que adicione Esquerda à Esquerda. Os socialistas que ali estiveram viram a sua esperança revitalizada e não foi preciso que ninguém abdicasse daquilo em que acredita. Era o que mais faltava.

Como dizia a canção: Foi bonita a esta, pá!

Saudações.
Graza disse…
Rectifico no último: Foi bonita a Festa, pá!
Anónimo disse…
As coisas valem o que as pessoas e instituições lhe atribuem como importancia...

Não pensava intervir sobre este tema,

pois subscrevo na integra o que diz CEsperança, aliás como quase sempre e há muito tempo...

MAS,

depois de ver os comentarios, e hoje os noticiarios,

mais acho alguns destes personagens algo caricatos nas suas posições assumidas,

se calahr "quimicamente puras", mas por completo desligadas do mundo concreto

onde as gentes tem problemas e ou os resolvem ou não, neste ultimo caso, adiando para gerações mais novos os respectivos custos das "insoluções" adoptadas...

Serão "coerentes", falam ao coração e ao sentimento do "povo de esquerda", e há gentes que em boa fé os seguem, naturalmente desanimados com a realidade dificil em que se vive...

que gera ou "oportunistas" a aproveitarem-se dos factos dessas realidades

ou quiçá mesmo, tentivas de soluções autocráticas, na base da respectiva predisposição de aceitação das pessoas, face às dificuldades sentidas

há muitos anos que penso que "este tipo de coerencia", isolada dos problemas concretos, não é senão uma invenção da direita - é ela que mais a argumenta - para uso de algum tipo de "esquerda"

neste sentido "algo folclórica", porque redundante da politica dura a doer da nossa sociedade

onde aquela direita não perdoa, e usa todas "as corencias" de esquerda, para os seus objectivos paragmáticos de poder...

e quando se passa a vida a argumentar com a luta passada pela Liberdade, então aí perde-se completamente a razão dos contextos do "aqui e agora",

pois muitos de nós também o fizémos, logo é assim argumento passadista sem qualquer lógica moral e actual.

Uma nota final: também não gosto da pesporrência de alguns acólitos do poder, no caso Sr. Canas suponho, quase tão .... como os nossos personagens históricos a fazerem figura de "opereta"...

abraço e a luta continua!!!!
Graza:

Independentemente da forma nas críticas e da falta de substância nas propostas concretas,

Prefiro, de longe, festas de esquerda à mobilização da direita.
Graza disse…
Carlos Esperança:

Não deixa de ser uma alegria ler isso, apesar de o ter como certeza.
ana disse…
Manuel Alegre foi um óptimo poeta. As suas palavras estão vivas ainda hoje. Acredito também que seja uma boa pessoa. Mas apontar males sem apontar as soluções (viáveis) é o que todos nós fazemos. Dele espera-se mais. Não basta falar alto e com voz grossa e dizer umas verdades que todos gostam de ouvir. Até porque parece que enquanto deputado votou aquilo que agora critica. Mas enfim, não quer ser esquecido, ainda busca os seus 15 minutos de fama. E neste momento Alegre é uma alegria para a direita.
Anónimo disse…
Ana...

falou - escreveu alias - pouco e bem... parabens

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides