Quando a tradição é crime...

Leila Hussein viu o marido asfixiar e apunhalar a própria filha de 17 anos há cerca de um mês e meio.

Depois foi a vez dela. O homem limitou-se a defender a honra da família e «os bons costumes». E a ficar impune.

Comentários

Lídia Garcia disse…
"Talvez no Futuro!"
Talvez que uma mulher não precise de resgatar a memória de sua filha. Que não "mereça" por isso a indiferença de outros filhos. Que não "mereça", por isso, a morte.
Talvez num Futuro em que "marido" não seja mais o senhor ou o dono, mas sempre o companheiro...
Talvez!
Mas até lá, ainda é longo caminho...
Anónimo disse…
1.Este é um tema mui complicado, porque

se por um lado devemos respeitar os costumes, o modo de pensar e de se organizar de cada povo e cultura

por outro há que favorecer quem, em cada povo, possa significar "evolução", "respeito pelas pessoas e pelo modo de cada um, pensar diferente"

com todo o equivoco que estes "ideias-noções" possam significar, acarretar,

e nesse sentido,

possam querer estabelecer "pontes" com outras gentes, povos, pensares
diferentes

sintetizando um conjunto de "valores humanos tendencialmente mais justos"...

2. Nós por aqui também já fomos bem barbaros entre nós - penso na santa inquisição p.e.,

e também na colonização de outros povos e culturas, escravizando a suas gentes de modo perfeitamente desumano

com a desculpa de os "civilizarmos"

3. este noticia, tragédia, tem todos os ingredientes do ser humano que potencialmente nos podemos tornar

"segregacionista", fascista mesmo, perante a raça, o genero, a classe social e profissional, cultura, etc

caracteristicas que nos deviam enriquecer e complementar na sua diversidade

4. enfim, contribuamos com nossa "alguma superioridade" conjuntural, para ajudarmos gentes a poderem sê-lo de facto, na mais ampla liberdade da diferença, do conheciemnto, do acesso a valores "mais altos", sem estigmas, sem revanches,

sem fanatismos quaisquer que eles sejam

5. E sobretudo evitar quando alguns de nós nos "libertamos", sermos depois " torturadores" dos nossos outros "semelhantes"

Claramente estas tradições algumas são crimes contra todos nós, "humanidade", e isso é terrível e penso, não pode ser de nenhum modo ser admitido, perdoado

abraço e a luta continua
O problema é que, em certos países, a "tradição" não é crime.
Ou melhor, é crime, segundo o direito internacional que obriga todos países, pelo menos os membros da ONU, que são praticamente todos. Mas é tolerada por alguns países, e pela própria comunidde internacional, sob a capa da "não ingerência" nos "assuntos internos" de cada país.
Lídia Garcia disse…
Uma boa reflexão, Aires, com um apelo à liberdade, à tolerância e à solidariedade, mas sem condescender com o crime, com a desumanidade.
Estamos, pois, todos de acordo: é tradição, é regra, é o que se espera que aconteça e, acontecendo, tolera-se, mas… ainda assim, continua a ser um crime! No meu entender e para a minha sensibilidade, um crime tão mais hediondo, quanto Leila se revelou como “o tal elemento” que, não se conformando com as regras do grupo, ganha vida para romper a inércia e afrontar a tradição que lhe sacrificou a filha e ainda a submete ao “carrasco” (é o meu julgamento e parece ter sido o dela). O tal elemento dissonante que uma vez por outra se ergue e inicia o "processo de evolução”.
Nada me move contra o Iraque ou os iraquianos, contra as suas leis ou tradições, apenas não consigo ficar indiferente com um caso destes, tal como não fico em relação à excisão feminina, ao tráfico de mulheres, a todo o tipo de violência, incluindo a doméstica, aqui mesmo, dentro de portas...
Será tradição no Iraque, mas incomoda-me e revolta-me a certeza de que a esta hora, vizinhos e familiares estejam a considerar normal os assassinatos de mãe e filha e que o culpado ainda seja enaltecido por isso. Em nome da honra, agora lavada com o sangue que lhe suja as mãos, mas não lhe pesa na consciência.
Pelo terrível crime de uma jovem ter falado com um inglês.
Em última análise, por ter nascido mulher!
Um abraço

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