O «Não» Irlandês
Por
Monteiro Valente*
Já em comentário anterior no PONTE EUROPA me pronunciei contrário a uma «democracia referendária», designadamente no que respeita a referendos à Constituição, a tratados e a outros actos políticos similares. Mas sou pelo referendo a questões relevantes que possam ser formuladas com objectividade, clareza e precisão e para respostas de sim ou não. Assim como me pronunciei também já como europeísta convicto, embora crítico relativamente ás suas orientações actuais.
Os políticos europeus andaram mal quando não submeteram referendo a adesão dos respectivos Estados à CEE/EU, ou quando não reformaram as instituições europeias antes do seu alargamento a 25. Reclamarem o apoio dos cidadãos, em jeito de ratificação, com uma UE e seus Estados-membros em grave crise, ou pretenderem uma unanimidade a 27 relativamente a um tratado que até para os especialistas é de difícil interpretação, foram opções erradas que agora pagam caro.
Não se pode culpabilizar a Irlanda por não haver evitado o referendo, como o fizeram a França, Holanda, Portugal e outros. E não é legítimo responsabilizar os irlandeses pela eventual – quase certa – morte do Tratado de Lisboa, pois não são menos do que os franceses ou os holandeses quando votaram «não» ao anterior – quase o mesmo – Tratado Constitucional. Assim como dizer que “são poucos, acrescentar que são mal-agradecidos” ou que “terão sido enganados pela demagogia dos defensores do «não» é insistir no mesmo tipo de erro que tem vindo a tornar o projecto europeu invendável a boa parte das opiniões públicas” – concordando com José Manuel Fernandes. A Europa não pode ser construída contra os seus cidadãos, quando ela se pretende reclamar precisamente de uma «Europa dos Cidadãos».
A primeira conclusão que se retira do voto negativo irlandês, como da fuga daqueles outros países ao referendo, é a da fragilidade dos sistemas democráticos representativos, cada vez menos representativos dos seus cidadãos. Não defenderam os principais partidos irlandeses o voto no «sim»? Não chumbaram os eleitores franceses e holandeses um tratado que depois os seus parlamentos ratificaram, após uns retoques de mera maquilhagem para justificar a alteração da decisão política? Concordo com Brian Cowen, primeiro-ministro irlandês, quando afirma que não voltará a submeter o mesmo texto ao eleitorado. Não se pode brincar com os cidadãos! Mas no que mais concordaria com ele seria na sua imediata demissão. Afinal não foi ele o grande derrotado? A falta de dignidade dos políticos europeus tem ferido de morte a afirmação da UE.
Quanto ao Tratado de Lisboa, creio que está mesmo morto, por muito que isso custe a José Sócrates e a outros líderes europeus, que procuram na UE a válvula de escape para as suas incapacidades e dificuldades internas. Como diz o povo, não é bom deitar foguetes antes da festa terminar! Agora, mais uma vez, o povo que pague o desperdício!
Já em comentário anterior no PONTE EUROPA me pronunciei contrário a uma «democracia referendária», designadamente no que respeita a referendos à Constituição, a tratados e a outros actos políticos similares. Mas sou pelo referendo a questões relevantes que possam ser formuladas com objectividade, clareza e precisão e para respostas de sim ou não. Assim como me pronunciei também já como europeísta convicto, embora crítico relativamente ás suas orientações actuais.
Os políticos europeus andaram mal quando não submeteram referendo a adesão dos respectivos Estados à CEE/EU, ou quando não reformaram as instituições europeias antes do seu alargamento a 25. Reclamarem o apoio dos cidadãos, em jeito de ratificação, com uma UE e seus Estados-membros em grave crise, ou pretenderem uma unanimidade a 27 relativamente a um tratado que até para os especialistas é de difícil interpretação, foram opções erradas que agora pagam caro.
Não se pode culpabilizar a Irlanda por não haver evitado o referendo, como o fizeram a França, Holanda, Portugal e outros. E não é legítimo responsabilizar os irlandeses pela eventual – quase certa – morte do Tratado de Lisboa, pois não são menos do que os franceses ou os holandeses quando votaram «não» ao anterior – quase o mesmo – Tratado Constitucional. Assim como dizer que “são poucos, acrescentar que são mal-agradecidos” ou que “terão sido enganados pela demagogia dos defensores do «não» é insistir no mesmo tipo de erro que tem vindo a tornar o projecto europeu invendável a boa parte das opiniões públicas” – concordando com José Manuel Fernandes. A Europa não pode ser construída contra os seus cidadãos, quando ela se pretende reclamar precisamente de uma «Europa dos Cidadãos».
A primeira conclusão que se retira do voto negativo irlandês, como da fuga daqueles outros países ao referendo, é a da fragilidade dos sistemas democráticos representativos, cada vez menos representativos dos seus cidadãos. Não defenderam os principais partidos irlandeses o voto no «sim»? Não chumbaram os eleitores franceses e holandeses um tratado que depois os seus parlamentos ratificaram, após uns retoques de mera maquilhagem para justificar a alteração da decisão política? Concordo com Brian Cowen, primeiro-ministro irlandês, quando afirma que não voltará a submeter o mesmo texto ao eleitorado. Não se pode brincar com os cidadãos! Mas no que mais concordaria com ele seria na sua imediata demissão. Afinal não foi ele o grande derrotado? A falta de dignidade dos políticos europeus tem ferido de morte a afirmação da UE.
Quanto ao Tratado de Lisboa, creio que está mesmo morto, por muito que isso custe a José Sócrates e a outros líderes europeus, que procuram na UE a válvula de escape para as suas incapacidades e dificuldades internas. Como diz o povo, não é bom deitar foguetes antes da festa terminar! Agora, mais uma vez, o povo que pague o desperdício!
A UE não está morta, nem irá morrer, ainda que esteja atacada por uma grave doença. Avançará mais devagar, mas resistirá. E com as suas orientações políticas actuais até nem será mal que tal aconteça, enquanto aguarda por melhores timoneiros e melhores políticas! Os seus actuais responsáveis deverão reflectir seriamente nas palavras de Vaclav Klaus, Presidente da República Checa: O «não» ao Tratado de Lisboa “é uma vitória da liberdade e da razão sobre os projectos elitistas e artificiais e sobre a burocracia europeia”.
Enfim, o que a UE precisa é de verdadeiros líderes, capazes de relançar o sonho de Robert Schuman e Jean Monet numa Europa do século XXI, concretizando o projecto de uma autêntica «Europa dos Cidadãos».
.
* Maj. General (R)
Comentários
Para vocês só é democracia quando ganham não é??? Pois...
Porreiro pá !!!
Mas tive prazer em dizê-lo, AINDA posso ????
Claro que não deviam ser sujeitos a referendo! Eu já percebi a vossa maneira de ver a vida e a politica!
Quando têm maioria absoluta, acham que não deve haver referendo para tomar decisões, quando não a têm deve existir referendo! E mais, quando perdem o referendo, acham que deve existir outro o mais rápido possível!
É assim a vossa democracia...
Já agora, diz assim o Programa do XVII Governo Cosntitucional, páginas 152 e seguintes:
"No curto prazo, a prioridade do novo Governo será a de assegurar a ratificação do Tratado acima referido (Tratado Constitucional da União Europeia). O Governo entende que é necessário reforçar a legitimação democrática do processo de construção europeia, pelo que defende que a aprovação e ratificação do Tratado deva ser precedida de referendo popular, amplamente informado e participado, na sequência de uma revisão constitucional que permita formular aos portugueses uma questão clara, precisa e inequívoca."
Depois não querem que lhes chamem mentirosos !!!!!
Se não fosse o cherne, este suposto meu colega não estava onde está !!!!
Fazer humor com assuntos sérios, há quem o consiga, mas requer um bom texto ou talento.
Também não o tenho - e por isso não me atrevo -, mas no seu caso, parece que perdeu uma oportunidade, mas não foi de fazer graça, com certeza!...
O oportunismo e a irresponsabilidade que veio aqui defender não são os atributos que mais nos recomendem ou que melhor resultem para o esforço que a crise de hoje e a sobrevivência no futuro exigem de todos. De todos, incluindo os acomodados e os que se fazem anteceder por determinado grau académico, como se este fosse garantia de inteligência, de respeitabilidade ou... de competência.
E a propósito, Senhor Engenheiro Rui Siva:
Essa sua insistência em invocar um "pseudo-caso" que, não vindo ao caso até já "prescreveu" (pelo tempo, pela inconsistência e porque não é condição para ser nem Primeiro Ministro nem Presidente da República), é por defeito de carácter, ou por falta de imaginação?! É claro que faz com o seu canudo o que muito bem entender, é seu direito, mas não lhe ensinaram que as pessoas valem pelo que são e pelo que fazem e que o seu "acrescento", tão afanosamente divulgado e exposto, não lhe granjeia aqui nem mais respeito, nem mais admiração?! ´
Já lho disseram aqui de tantas formas e ainda não entendeu?!
Deixe o título em casa (olhe que é um bom conselho!), sinta-se "apenas" gente e vai ver que chega aqui mais leve, que o azedume lhe pesa menos...
Ah! E deixe trabalhar agora quem tem legitimidade no cargo para que foi mandatado e que, com títulos ou sem titulos, com mais ou menos popularidade, não desmerece em propósito e em esforço de alguns outros que ocuparam o cargo em situações bem mais favoráveis mas com menos empenho.
Depois, quando se lhe acabar o tempo, vá em frente e candidate-se!
Quem sabe se não chega lá?
Mas haja em vista a sua concordância a 100% com JoeRod, o que, portanto, implica também a sua simpatia pelo abominável cabo que incendiou a Europa, acabou de perder o meu voto!...
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No fim, o que devia ter vindo no começo:
Carlos Esperança, só para dizer que também partilho do mesmo pensamento e da mesma certeza: Vai demorar mais, mas a nossa Europa vai acontecer!
Obrigada por este artigo.
O Sr. eng.rui.silva (eng. faz parte do nome,não é assim?) que ainda não esclareceu se herdou o nome do pai ou da mãe, não percebeu. Mas comenta. Se tivesse havido referendo, continuaria a não perceber, mas teria votado.
É assim mais ou menos como ser adepto do Sporting ou do Benfica, pensar dá muito trabalho e leva tempo. Nada como repetir o que dizem lá no café, pelo menos ali costuma ter graça.
De vez em quando esta Ana perde uma oportunidade de estar calada!!!!
Já agora, coloco eng. por dois motivos: (vamos lá ver se a "senhora", percebe ou terei que fazer um esquema)
1º Rui.Silva; Ruisilva; Rui-silva; rui_silva, todos eles já existiam!
2º utilizei o eng só mesmo para vos chatear (e pelos vistos deu resultado, vocês são tão previsíveis): Pelos vistos tudo o que é eng. é como uma pedra no sapato para vocês !!! eheheheh Porque será ???
eu entendo eu entendo....
Quanto à Lídia, não perco tempo, pois por motivos de força menor não merece resposta!!!!
Não sei quem é a Ana, que aprecio pela coerência e inteligência com que valoriza a troca de ideias no Ponte Europa.
Pelo que diz o Sr. Engenheiro Rui Silva, vejo que me conhece e fiscaliza os sítios onde vou com a minha mulher. Já a PIDE tinha o hábito de me vigiar, mas hoje é mais interessante discutir ideias do que localizar pessoas.
Embora exija esforço intelectual.
De facto, a qualidade deste post, de um militar de Abril e general do Exército, levanta problemas que exigem ponderação e cultura.