A insurreição dos camionistas

Ponte Europa - Pitecos/Zédalmeida

Ninguém, de boa fé, negará a prudência e eficácia com que foi resolvida uma grave insurreição de camionistas, selvagem na forma, violenta nos actos e protagonizada por interpostas pessoas.

Por trás dos interesses estava a camionagem, à frente dos veículos estavam os camionistas. Cometeram-se ilícitos criminais cujo julgamento se impõe e viveram-se horas de angústia com o país amedrontado. As bombas de combustível secavam, os alimentos escasseavam nos supermercados e o pânico esteve próximo.

Deixemos os casos de polícia e as paixões exacerbadas por pescadores de águas turbas. É tempo de reflectir sobre esta anárquica manifestação que ninguém controlou nem comandou. Com a subida dos combustíveis fenómenos destes vão repetir-se e nenhum Governo estará à altura de os resolver. O petróleo, que esteve na origem do surto de progresso mundial das últimas décadas, transporta em si a estranha maldição da morte.

As primeiras vítimas foram os países produtores, chega agora a vez aos consumidores e ninguém tem coragem para explicar que o fim dos combustíveis fósseis é inevitável e que numerosas indústrias estão condenadas.

Para além do drama da falta de energia barata e dos reflexos que isso terá nos países mais pobres, das guerras que se adivinham e dos conflitos sociais que já se sentem, é altura de avaliarmos a incúria nacional que começou com o Eng.º Ferreira do Amaral e continuou nos Governos seguintes com vários ministros das Obras Públicas. Mataram os comboios e puseram o País à mercê das rodovias.

Temos camiões a mais e comboios a menos. Há muitos automóveis particulares e défice de transportes colectivos. É preciso inverter rapidamente a situação. E, para aqueles que, como eu, sempre suspeitaram da energia nuclear, é tempo de reverem as suas posições pois a gravidade da crise não deixa alternativas.

São negros os tempos que se avizinham.