Irlanda - União Europeia em perigo (3)
Por
A. Horta Pinto
Defensor da democracia representativa, sempre fui contra referendos, plebiscitos e "democracias directas". Acho inadmissível que um tratado com a importância deste seja rejeitado por leigos em matéria jurídica, que não o perceberem. Por essa ordem de ideias, porque não fazer um referendo sobre a construção de uma ponte ou um aeroporto? A maior parte das pessoas, a começar por mim, votaria contra por não perceber nada de engenharia.
O referendo é uma instituição falsamente democrática. Por causa de referendos é que na Suíça ainda há - ou havia até há muito pouco tempo - cantões onde as mulheres não têm direito de voto. De Gaulle - personalidade pela qual aliás tenho grande admiração - governou a França durante mais de uma década quase "ditatorialmente" em democracia, com base em referendos antes dos quais anunciava que se vencesse o "não" se demitiria.
Stalin, durante todo o tempo em que oprimiu a Rússia, só teve um gesto "democrático": apresentando-se dois projectos para a construção da Universidade de Moscovo, um deles modernista e que recolhia o apoio de todas as pessoas cultas, e outro um "mamarracho", resolveu fazer um referendo: claro que ganhou o mamarracho que lá está ainda hoje.
Por alguma razão os cidadãos elegem os seus representantes. Eu sei muito bem em quem hei-de votar, mas não percebo nada de economia, nem de finanças, nem de agricultura, nem de indústria, nem de turismo, nem de muitas outras matérias; por isso não quero que me peçam para dizer "sim" ou "não" a questões com elas relacionadas. Para resolver esses problemas lá estão os juristas, os economistas, os engenheiros em quem votei.
Em suma, acho intolerável que o destino da Europa esteja nas mãos dos borrachões dos irlandeses, que entre uma missinha e uma caneca de cerveja votam não porque estão mal dispostos com a vida.
(Não vale chamar-me xenófobo por chamar borrachões aos irlandeses! São irlandeses os dois escritores que mais aprecio: James Joyce e Samuel Beckett; mas por alguma razão ambos se exilaram voluntariamente da católica Irlanda!).
A. Horta Pinto
Defensor da democracia representativa, sempre fui contra referendos, plebiscitos e "democracias directas". Acho inadmissível que um tratado com a importância deste seja rejeitado por leigos em matéria jurídica, que não o perceberem. Por essa ordem de ideias, porque não fazer um referendo sobre a construção de uma ponte ou um aeroporto? A maior parte das pessoas, a começar por mim, votaria contra por não perceber nada de engenharia.
O referendo é uma instituição falsamente democrática. Por causa de referendos é que na Suíça ainda há - ou havia até há muito pouco tempo - cantões onde as mulheres não têm direito de voto. De Gaulle - personalidade pela qual aliás tenho grande admiração - governou a França durante mais de uma década quase "ditatorialmente" em democracia, com base em referendos antes dos quais anunciava que se vencesse o "não" se demitiria.
Stalin, durante todo o tempo em que oprimiu a Rússia, só teve um gesto "democrático": apresentando-se dois projectos para a construção da Universidade de Moscovo, um deles modernista e que recolhia o apoio de todas as pessoas cultas, e outro um "mamarracho", resolveu fazer um referendo: claro que ganhou o mamarracho que lá está ainda hoje.
Por alguma razão os cidadãos elegem os seus representantes. Eu sei muito bem em quem hei-de votar, mas não percebo nada de economia, nem de finanças, nem de agricultura, nem de indústria, nem de turismo, nem de muitas outras matérias; por isso não quero que me peçam para dizer "sim" ou "não" a questões com elas relacionadas. Para resolver esses problemas lá estão os juristas, os economistas, os engenheiros em quem votei.
Em suma, acho intolerável que o destino da Europa esteja nas mãos dos borrachões dos irlandeses, que entre uma missinha e uma caneca de cerveja votam não porque estão mal dispostos com a vida.
(Não vale chamar-me xenófobo por chamar borrachões aos irlandeses! São irlandeses os dois escritores que mais aprecio: James Joyce e Samuel Beckett; mas por alguma razão ambos se exilaram voluntariamente da católica Irlanda!).
Comentários
Qualquer dia esta a defender que para qualquer eleição só podem votar os “esclarecidos”.
Ele que beba agua que lhe vai fazer muito bem.
Preocupado ficaria eu se ele estivesse de acordo comigo; cruzes, canhoto!
É claro que o que ele diz é uma série de inépcias (do meu texto resulta que eu já estava à espera que os néscios me acoimassem de xenófobo).
Os leitores do PONTEEUROPA (à excepção do Sr. Vitor Ramalho, que está neste blog como Pilatos no Credo) terão percebido bem o que eu quis dizer. Ele, como era de esperar, não percebeu. Mas também não vale a pena tentar explicar-lhe, porque nunca perceberia. Parece que as "artes marciais" desenvolvem os músculos na mesma proporção em que atrofiam os neurónios.
Sabe quando bebo umas minis, não escrevo no blogue, tenho medo de a mão me cair para imbecilidades como as que escreveu.
O não vai vencer e sua democracia só serve para as vitorias.
Quanto ao nacional-socialismo vindo de si é um elogio que agradeço.
Saudações de braço bem ao alto, não é fascismo é como no juramento de bandeira.
Portugal é dos portugueses. Não é xenofobia eu até vi o filme do xaca zulu.
Para si só alguns iluminados é que podem prenunciar-se sobre determinados assuntos.
Depois os Irlandeses são uns bêbados.
Por ultimo as Artes Marciais fazem as pessoas burras.
Você é um bom exemplo dos democratas que Abril fabricou.
Também o sr. vítor ramalho deveria beber algumas minis antes de escrever, talvez assim os seus comentários tivessem alguma lógica. Dispara incoerências à esquerda e à direita mas nem a direita mais truculenta consegue ser tão incongruente.
Os disparos são certeiros e incomodam a esquerda kaviar do blogue.
Se bem percebi, concluo que o povo tem competência para eleger os que decidem em matéria que escapa ao seu próprio discernimento. Enfim, segundo as teorias democráticas, o povo é soberano, mas entrega o seu destino nas mãos dos súbditos. Porque, pelos vistos, estes são mais dotados do que ele, povo.
O que a gente aprende, quando menos espera.
Já agora e antes de finalizar:
É certo que Miguel Torga escreveu o que vem no frontão deste blogue (Diário --- Coja, 9 de Dezembro de 1973).
Mas também disse:«(...)somos agora oficialmente europeus de primeira, espanhóis de segunda e portugueses de terceira.» (Ob. cit. ---Coimbra, 2 de Janeiro de 1993).
E ainda:«(...). Já não temos fronteiras marcadas e respeitadas, nem alfândegas de autoridade a verificar o que entra e sai, nem poder de decisão, nem voz própria, nem mesmo liberdade de semear e colher. Nem vontade de trabalhar e viver à nossa custa, e não de mão estendida como pedintes desavergonhados, de todo esquecidos do que sempre fomos, esforçados, autónomos, remediados, e ufanos da nossa mediania. E ricos, sim, de humanidade e sonho de aventura. E de tudo abrimos mão. Que mais nos falta perder?» (Ob. cit. --- Coimbra, 22 de Agosto de 1993).
Será que estes pensamentos de Torga também provêm da atrofia que os seus neurónios sofreram em consequência do muito exercício que, na qualidade de caçador infatigável, deu aos músculos da locomoção?
Quanto ao Sr. J.M. Cymbron:
Certamente que o Sr. tem ideias políticas bem definidas e é um cidadão interessado. Eu também me prezo de o ser. Mas sabe se o IVA deve ser de 20% ou de 21%? Eu não sei. Sabe se o défice deve ser de 2,6 ou de 2,7? Eu não. Sabe se o Alentejo deve ser aproveitado para plantar batatas? Eu não.
Não estou pois interessado em que me venham pedir para responder "sim" ou "não" a essas questões. Deixo esses problemas ao cuidado das pessoas, certamente competentes, que o povo elegeu para tratar deles. Para isso é que há eleições, Parlamento, Governo e Presidente da República.
Ora, se os irlandeses começam por dizer, pela boca do seu 1.º ministro, que não percebem o Tratado, que sentido faz perguntar-lhes se concordam ou não com ele?
No entanto continuo a achar que tudo o que escreveu é xenófobo e preconceituoso.
Por muito menos estão a ser julgadas algumas pessoas.
Com efeito, se foi o primeiro-ministro a declarar que não percebe o Tratado, onde está o ilogismo dos Irlandeses?
Se censura o primeiro-ministro, não me repugna dar-lhe razão. Mas estender esse juízo de reprovação,a todo o povo irlandês, parece-me excessivo.
Por duas razões:
1-Dentro do sistema da democracia representativa (e se bem compreendi o seu raciocínio), cabe ao povo escolher os seus mandatários para depois estes conduzirem a política da respectiva comunidade. Ora os Irlandeses escolheram um primeiro-ministro que, movido por um impulso que o Sr. reprova, tomou esta decisão.
2-Será que o povo irlandês (já não falo do primeiro-ministro), será que este povo, se votar não, o está fazendo por não compreender os termos do Tratado ou por não querer a União? Acho que seria bom aguardar e, depois do escrutínio, se ganhar o não, analisar os motivos que ditaram esse resultado.
Se afinal é mais idoso do que eu pensava, deixe-me fazer-lhe a clássica pergunta: onde estava no 25 de Abril?
Joaquim M.ª Cymbron
A sede da representação popular é o Parlamento, directamente eleito pelo Povo para o representar. Ora certamente que no Parlamento irlandês, e designadamente na sua Comissão de Negócios Estrangeiros, há-de haver pessoas que conseguem compreender o Tratado. Era pois o Parlamente irlandês, em quem o povo da Irlanda delegou a sua soberania, que devia decidir se ratificava ou não o Tratado, como aconteceu em Portugal e nos outros países da União Europeia.
Agora se o povo irlandês não quer a União Europeia, então que tenha a hombridade de saír dela, em vez de andar hipocritamente a fazer de "empata". Não há nada pior do que os "empatas"!
Como o Sr. preza muito os níveis de competência, para falar com tanta segurança sobre quem, na Irlanda, devia apreciar o Tratado, presumo que conhecerá a constituição irlandesa. Nesta base, pelo que o Sr. diz, haverá uma eventual inconstitucionalidade (talvez orgânica) no acto que convoca o povo irlandês para um referendo.
Não acha melhor ser o povo irlandês a julgar essa eventual violação da sua constituição? Ou, assim como, no seu entender, lhe falta competência para julgar o Tratado, também não sabe ver que a sua própria constituição está a ser atropelada?