O PSD e o TGV em ziguezague

Quem não é perito nem tem acesso aos complexos estudos sobre o TGV só pode expor desejos e dúvidas em vez de certezas e argumentos, embora haja uma percepção política do que convém ao País.

Penso que é errado manter Portugal à margem da rede ferroviária da Europa dilatando o isolamento a que a periferia nos condenou. A ligação de Lisboa a Bruxelas parece-me uma necessidade não apenas política mas também ferroviária. Já a ligação de Lisboa ao Porto, em alta velocidade, se me afigura um desperdício que todos os autarcas advogam com paragens no seu concelho.

Surpreendente é a posição do PSD ao longo dos anos. Não sei se foi a falta de projectos políticos ou a falta de carácter que levou Durão Barroso, na oposição, a condenar duas linhas propostas por Guterres, execrando o TGV, para depois, como primeiro-ministro, assinar com Aznar nada menos do que quatro linhas, num governo em que era ministra das Finanças e de Estado a actual líder do PSD.

Agora, por convicção ou oportunismo, Morais Sarmento defendeu a queda do projecto do TGV, num programa de rádio em que substituiu Manuela Ferreira Leite. Quem pode acreditar nos compromissos do Estado, nas decisões que os políticos tomam, se condenam na oposição aquilo a que se comprometeram no Governo?

Comentários

Também acho essencial, dado o facto de Portugal ser um país geograficamente periférico em relação ao centro da Europa, diminuir a "distância" (medida em tempo)que dele nos separa por todos os meios possíveis (aéreos, por auto-estrada e pelo TGV). É uma questão essencial e estrutural para o País.
Quanto ao TGV Lisboa-Porto, por deficiente informação minha, não me pronuncio. Mas o Governo devia explicar melhor aos portugueses quanto é que essas obras custam realmente aos contribuintes, e se as despesas são ou não compensadas pelos benefícios. É que ainda hoje, conversando com dois competentes economistas meus amigos, por sinal um do PS outro do PSD, ambos foram peremptórios em dizer que a parte dessas obras suportada pelo Estado era muito reduzida, sendo a maior parte suportada pelas comparticipações da U.E. e pelas empresas concessionárias. Se assim é ou não, não sei, mas concerteza todos gostaríamos de saber. Têm a palavra os economistas.
e-pá! disse…
Estou de acordo com o comentário de "ahp" de que o TGV é "uma questão essencial e estrutural para o País"...

Penso que a questão do TGV é levantada agora - neste preciso momento - porque o PSD precisa de um cavalo de batalha para mostar que existe como oposição.

Cabe a Sócrates não deixar transformar este cavalo no mitológico cavalo de Tróia.

Aliás, para cá, Tróia já foi entregue ao Belmiro de Azevedo e já ganhou,com outros empreendimentos de diversos grupos financeiros, - passando ao lado da Lusoponte sobre a qual recaí um inquietante silêncio - um aeroporto na proximidade.

Não se pode ter tudo!
RJ disse…
Concordo com o que o AHP disse.

Com o investimento nos últimos anos nos comboios pendulares sera prioritário reconstruir a linha do norte adaptada a eles de modo a encurtar as distâncias entre Lisboa e Porto. Afinal, pouco mais de 20 min é a diferença entre um IC e um Alfa Lx-Porto, com uns 10€ de diferença nos bilhetes.

Uma rede de TGV é muito mais exigente a nível de construção, tanto nos materiais de aterro usados (consequência da velocidade da composição), como no traçado. Não permite nem grandes inclinações (obriga à opção por túnel em algumas zonas, muito mais cara) nem grandes desvios (para mudar de direcção necessita de uns poucos km em curva).

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