Política, justiça e governação
Não penso, como Proudhon, que a propriedade seja um roubo e bem gostaria que se tornasse realidade a utopia de dar a cada um segundo as necessidades e de exigir a todos segundo as suas possibilidades.
Modestamente, sigo Torga: «quem faz o que pode, faz o que deve». Tenho-me mantido fiel, aqui no Ponte Europa e na vida, feliz por ter recebido habitualmente mais do que mereci e, em absoluto, mais do que precisei, sem necessidade de abdicar de princípios, de ser subserviente ou de receber favores.
Falamos de política no Ponte Europa, quase sempre entre democratas cujo carácter foi moldado pela cultura e pelas experiências de vida. Actualmente é estimulante ler o que cada um escreve a pretexto do mote lançado pelos meus textos. Lamento que o projecto colectivo com que foi pensado o Blogue se tenha tornado na voz monocórdica de um só. Mas, enfim, em qualquer momento, agora que os insultos e os impropérios terminaram, é possível que os outros «contribuidores» se entusiasmem e apareçam.
Voltemos à política nacional porque é sempre de política que se fala quando se tem em vista a justiça social, a criação e redistribuição de riqueza, as formas de intervenção do Estado (ou não intervenção) e a distribuição de riqueza ideologicamente condicionada.
Creio que partir do pressuposto que mais tarde ou mais cedo as contas públicas terão de estar equilibradas é uma ideia politicamente neutra. O resto é espírito de caloteiro. O maldito défice ficará a zero, a bem ou a mal, um dia.
Verifico que se exigem ao Estado os benefícios para os quais se lhe negam os meios de obtenção. As classes privilegiadas são as que mais reivindicam, e com mais sucesso, numa espiral que aprofunda as diferenças sociais e exclui cada vez mais indivíduos dos níveis mínimos de subsistência.
Nos partidos – ao que me dizem –, discutem-se mais os lugares do que as ideias e as rupturas são muitas vezes por ressentimento e, raramente, por opções ideológicas. Nos períodos de crise, quando as dificuldades se agravam, surgem divergências partidárias e é vulgar aparecerem projectos pessoais que pouco têm a ver com a resposta à crise estrutural da economia mundial.
Apesar da atenção com que sigo a evolução internacional e os problemas nacionais, não encontrei ainda quem me propusesse um modelo diferente dos sistemas comunistas cujo paradigma era a URSS, o liberalismo mais ultra ou a social-democracia. É dentro deste último, que inegavelmente prefiro, que gostaria que alguém me dissesse se devemos, por exemplo, baixar as reformas que ultrapassem a do Presidente da República, limitar os vencimentos tendo o do PR como referência, aumentar impostos ou qualquer outra sugestão para acudir aos cada vez mais numerosos espoliados de uma vida digna.
Modestamente, sigo Torga: «quem faz o que pode, faz o que deve». Tenho-me mantido fiel, aqui no Ponte Europa e na vida, feliz por ter recebido habitualmente mais do que mereci e, em absoluto, mais do que precisei, sem necessidade de abdicar de princípios, de ser subserviente ou de receber favores.
Falamos de política no Ponte Europa, quase sempre entre democratas cujo carácter foi moldado pela cultura e pelas experiências de vida. Actualmente é estimulante ler o que cada um escreve a pretexto do mote lançado pelos meus textos. Lamento que o projecto colectivo com que foi pensado o Blogue se tenha tornado na voz monocórdica de um só. Mas, enfim, em qualquer momento, agora que os insultos e os impropérios terminaram, é possível que os outros «contribuidores» se entusiasmem e apareçam.
Voltemos à política nacional porque é sempre de política que se fala quando se tem em vista a justiça social, a criação e redistribuição de riqueza, as formas de intervenção do Estado (ou não intervenção) e a distribuição de riqueza ideologicamente condicionada.
Creio que partir do pressuposto que mais tarde ou mais cedo as contas públicas terão de estar equilibradas é uma ideia politicamente neutra. O resto é espírito de caloteiro. O maldito défice ficará a zero, a bem ou a mal, um dia.
Verifico que se exigem ao Estado os benefícios para os quais se lhe negam os meios de obtenção. As classes privilegiadas são as que mais reivindicam, e com mais sucesso, numa espiral que aprofunda as diferenças sociais e exclui cada vez mais indivíduos dos níveis mínimos de subsistência.
Nos partidos – ao que me dizem –, discutem-se mais os lugares do que as ideias e as rupturas são muitas vezes por ressentimento e, raramente, por opções ideológicas. Nos períodos de crise, quando as dificuldades se agravam, surgem divergências partidárias e é vulgar aparecerem projectos pessoais que pouco têm a ver com a resposta à crise estrutural da economia mundial.
Apesar da atenção com que sigo a evolução internacional e os problemas nacionais, não encontrei ainda quem me propusesse um modelo diferente dos sistemas comunistas cujo paradigma era a URSS, o liberalismo mais ultra ou a social-democracia. É dentro deste último, que inegavelmente prefiro, que gostaria que alguém me dissesse se devemos, por exemplo, baixar as reformas que ultrapassem a do Presidente da República, limitar os vencimentos tendo o do PR como referência, aumentar impostos ou qualquer outra sugestão para acudir aos cada vez mais numerosos espoliados de uma vida digna.
Reconheço as doenças do sistema e não sei a terapêutica. Não basta que me digam que as coisas estão mal, todos o notamos. Digam-me como fariam para as melhorar. E, sobretudo, o que fariam diferente.
Comentários
Foram convocados alguns dos que já aqui andaram, e, em determinado momento da já longa vida deste blogue, ajudaram à sua dinamização.
Para alguns Carlos Esperança é uma referência, na vida, na postura ética e mesmo profissional.
Mas, existe muitas vezes um mas, dá, devido à sua imensa tolerância, guarida aqueles que:
"Nos partidos – ao que me dizem –, discutem-se mais os lugares do que as ideias e as rupturas são muitas vezes por ressentimento e, raramente, por opções ideológicas. Nos períodos de crise, quando as dificuldades se agravam, surgem divergências partidárias e é vulgar aparecerem projectos pessoais que pouco têm a ver com a resposta à crise estrutural da economia mundial."
Pois é, este blogue já publicitou lutas partidárias e nessa época tem mesmo muita ajuda - que logo termina quando a peleja acaba.
Se essa gente deixasse de ser como é, muitos mais eram os convocados e talvez algum escolhido para o ajudar.
Mas não se venha queixar de si próprio. Há políticos que já tentaram cavalgar este blogue !
Os srs. magistrados têm o seu sistema de saúde e dele não abdicam. Nem sabiam, coitadinhos, onde iriam ficar se lhes tirassem o seu sistema. Talvez na ADSE, que eles nem sabem o que é.Tinham o seu "justo" subsídio de renda de € 700,00, que eles próprios isentaram de IRS.Mas choraram baba e ranho e agora têm 775,00.
Os funcionários públicos têm € 1 250,00 de ordenado médio. No privado, 750,00. Quem mais se queixa?
O rendimento do casal presidente é de quantos ordenados mínimos? Mas não perdem oportunidade para falar nos "problemas sociais" (que os outros têm, é claro).
Deveria haver um tecto para as reformas? Acho que sim. Mas quem calaria os que as têm douradas?
A ambição dos portugueses não tem limites. Alguns não comem para pagar a prestação do carro novo. Outros, ou os mesmos, vão de férias a crédito.
Pelo que li recentemente, há gestores de empresas que declaram vencimentos de € 600,00. O que diriam se fossem investigados?
Muita coisa há a fazer. Mas quando se quer fazer alguma coisa, ai Jesus que isto é uma ditadura e vou já mas é pôr a fábrica noutro lado e quem ficar no desemprego que se arrange.
Os armadores exigem subsídios e conseguem-nos. Os grandes agricultores também e bem precisam, para comprar os jipes com estofos de pele.
Pois, é uma questão de educação. Para que não vejo solução nos tempos mais próximos.
AH! E O REI DA NORUEGA – HARALD, DE SUA GRAÇA.
Política, justiça e governação são questões de cidadania e cada vez menos o calcorrear do político carreirista que percorre afanosamente e repetidamente o “circular” trajecto entre o Largo do Rato, Rua da Imprensa à Estrela, Rua Prof. Gomes Teixeira e S. Bento, até atinar no seu destino.
E sendo uma questão de cidadania:
- começa por dar ênfase aos direitos políticos;
- ser sinónimo de democracia (numa sociedade cuja participação nas estruturas política-econômica-social e cultural é abundante, livre e profícua);
- traduzir-se em crescimento, mas também desenvolvimento da expressão social;
- é viver numa sociedade autónoma;
- é lutar contra os obstáculos com as dificuldades que nos mencionou Einstein: “é mais fácil desagregar um átomo do que os preconceitos"
Política, justiça e governação são grandes objectivos, nobres, que vale a pena lutar.
Agora, quando olho para a visita dos Reis da Noruega a Portugal e penso num País de pescadores, que incorporou as benesses da produção petrolífera para passar a viver próximo do Éden, tal a equidade e justeza da repartição da riqueza.
Tem um sistema social baseado na cidadania. Nesse caso, nada muda quer esteja no poder um governo conservador ou social-democrata.
Como chegaram a este grau de desenvolvimento?
Alguém lhes ofereceu: Política, justiça e governação?
Ou no início do século XX não existiam (lá) analfabetos.
Como se distingue num País assim um conservador de um social-democrata?
Manuel Alegre está próximo deste estatuto civilizacional. Merecia ir viver para a Noruega e disfrutar de um doce remanso.
Mas não! Para além de deputado é um ilustre cidadão nacional com autonomia suficiente para escolher o terreiro onde vai pelejar pelo desenvolvimento, pela democracia e pela preservação da autonomia do Homem.
Porque muitos são os homens poucos os servidores da cidadania.
É assim que vejo a sua participação na Festa deste dia 3.
Sem ofensas, indignado com a cantilena de Vitalino Canas que o acusa – vejam lá – de falta de solidariedade. Haja tino!
Vitalino podia passar uns anos para a Noruega a fazer um estágio de porta-voz e voltar com outra música.
Quanto a soluções, C.Esperança, a distribuição poderia começar mesmo por aí: Presidente da República era o limite. Começavam já a sobrar aqui muitas centenas de milhares de euros.
Egas Moniz, no início do séc. XII, dirigiu-se a Toledo, á presença de Afonso VII, com parte da sua família, munido de um baraço ao pescoço, como penhor da quebra das promessas do seu educando D. Afonso Henriques.
Este gesto é tido como um exemplo de fidelidade.
Manuel Alegre, foi ontem ao Teatro da Trindade, também, simbolicamente, fazer o mesmo gesto. Pisou um palco histórico, um alfobre da nossa cultura - por aí passaram Tasso, Isidoro, Rosa Damasceno, Eduardo Brasão, Palmira Bastos, Vasco Santana, Beatriz Costa, Luisa Satanela, Estevão Amarante, António Silva, Costinha, Irene Isidro, Chaby Pinheiro - para falar alto e em bom som e para colocar a voz bem longe a fim de a mesm a chegar às profundezas de um Portugal .
É um homem do PS, livre! Homens como Vitalino Canas, José Lello, António Vitorino, ee outros, pretendem “empurrá-lo” borda fora.
O PS está no Governo depois de uma campanha eleitoral pública, com um programa de Governo, e como um estatuto doutrinário autónomo.
Não cabe aqui recordar o repositório de propostas, planos, intenções, promessas e realizações propostas nessa altura.
Hoje o retrato do País é uma série de dados que estão disponíveis no Eurostat e que basicamente retratam a situação extremamente difícil da pobreza e de desigualdades sociais.
Não vale a pena a chicana política de afirmar que estes dados do Eurostat se referem a 2004. Existem mais do que indícios de que a situação da pobreza e das desigualdades, no nosso País, se tem agravado.
Vamos ser justos. Têm havido transferências sociais como o Rendimento Mínimo Garantido que se mostraram “altamente eficiêncientes”. Aliás a Direita odeias, exactamente por essa razão.
Mas estamos em fim de ciclo político. É a hora de balanços. E o saldo, sejamos novamente realistas, é insuficiente quanto às políticas sociais e em termos de medidas concretas dirigidas à população mais carenciada. Isto apesar do tremendo esforço para equilibrar o deficit orçamental.
Cerca de 2 milhões de portugueses são pobres. Isto é, a redistribuição da riqueza nõa tem funcionado.
Aliás, a nossa pobreza não é a consequência de uma crise episódica e de curta duração. Tem um carácter muito estrutural e que não tem sido ultrapassado, sejamos novamente correctos, há muito tempo (para além deste Governo).
A nossa pobreza atingiu tal profundidade que já não se combate com subsídios e ajudas transitórias. São necessárias medidas completas, um pano de combate integrado e que se desenvolvam programas de inserção das pessoas na vida activa.
Hoje, quando olhamos para o QREN (2007-2013) e se prevêem transferências da ordem dos 21,5 milhões de euros de fundos da EU, temos de perguntar quanto desse enorme montate está destinada a colmatar as desigualdades económicas e sociais que, paradoxalmente, se têm acentuado desde a entrada de Portugal na comunidade europeia.
E o exemplo, até Cavaco Silva já “pegou” no tema, é sempre o mesmo: Temos salários claramente abaixo da média europeia, mas se formos a um quadro superior de uma grande empresa portuguesa, os salários já estão nivelados pelo nível da média comunitária.
Isto +é, interpretado pelo capital como demagogia e já ouvi um patrão da industria dizer que os salários nas empresas são determinados pelos CA e os portugueses nada têm a ver com isso. Só o fisco!
Como é possível ter, neste País, uma classe empresarial que não compreende que medidas como esta aprofundam o fosso entre os mais ricos e os mais pobres.
E, nunca mais acabávamos…
Foi por isso que Manuel Alegre foi dar a cara, como Egas Moniz, ao Trindade. Mostrou-se um homem livre, fora dos “rodriguinhos” que limitam os políticos. Aquilo que se chama o “politicamente correcto”.
Pela luta contra a pobreza. Não foi solucionar a pobreza. Tarefa emergente e urgente que compete ao Governo, com o contributo de toda a sociedade.
Não devia estar sozinho. Ao lado deveria estar José Sócrates e o Governo.
Esta, para mim, a grande ausência.
Porque a história ensina-nos que onde há opressão (a pobreza é uma das mais aviltante opressões humanas) há resistência.
Pelo que não se entende tanto alarido, um intolerável ruído de fundo, dentro das hostes socialistas e, já agora, o seu profundo eco no sector comunista que em nome da autonomia, se isola.
A Esquerda precisa de resolver estas “tricas”. Porque a conjugação de esforços para resolver a situação de pobreza de mais de 2 milhões de portugueses é inadiável.
Envergonha-nos!