Vasco Graça Moura - um cavaquista na encruzilhada

Vasco Graça Moura (VGM) se tivesse em sensatez política a cultura que tem, seria um estadista.

O fogoso plumitivo embirrou com o acordo ortográfico e zurziu-o com a riqueza dos adjectivos e o destempero da sua idiossincrasia. Não lhe minguando os argumentos de quem é vesgo, faltou-lhe visão política e o equilíbrio emocional. Bateu-se por uma causa perdida que outros defenderam com argumentos tão sólidos quanto os seus.

VGM é brilhante na forma, sofrível na substância e medíocre na visão política. O maior tributo que o PSD já lhe prestou, por defender todas as asneiras oriundas do PSD, foi fazê-lo ajudante de ministro num qualquer Governo do consulado cavaquista.

Agora, o homem remói desgostos e faz piruetas para responsabilizar o PS pelo acordo que tardou, com prejuízo para a língua comum de 220 milhões de falantes, mas VGM queria ser o guardião do templo da língua que o tempo acabaria por matar. No fundo o homem é um arcaísmo político na defesa da virgindade idiomática. Como se a actual ortografia fosse ainda a virgem herdada das cantigas de amigo e de escárnio!

O que dói ao adversário do Acordo não são as opiniões respeitáveis de ilustres filólogos e escritores, o que lhe acicata a bílis é o facto de o Acordo Ortográfico ter sido subscrito em 1990, quando era primeiro-ministro de Portugal o Prof. Cavaco. E, para que o cálice da amargura do inveterado cavaquista seja bebido até à última gota, coube agora ao PR o dever de ratificar o segundo protocolo modificativo do Acordo Ortográfico.

Não sabendo o bilioso polemista para que lado cair, qual tolo no meio da ponte, não encontrou outro desabafo para, sem se dar conta, diminuir Cavaco Silva:

«O Presidente da República é hoje o único alto responsável político português que tem plena consciência de que o Acordo Ortográfico é um deprimente chorrilho de asneiras. E de que a sua adopção introduzirá um cancro incurável na ortografia da língua portuguesa», não obstante tê-lo então subscrito em S. Bento e ratificado agora em Belém, depois de amplamente aprovado na Assembleia da República.

A lógica de Vasco Graça Moura merece constar em qualquer manual da asneira.

Comentários

jrd disse…
Sim Senhora!
(Ter-lhe-á respondido Cavaco).
e-pá! disse…
VGM - o cavaleiro do pundonor

O Acordo Ortográfico, para VGM, é uma questão de manter o bom nome.
Ou melhor dizendo, é como perder o nome e ficar com uma alcunha.
Para ele o Acordo é qualquer "coisa" de grotesco.

Mas entrou em vigor e não vale a pena repisar mágoas, nem chorar sobre o leite derramado...

Com a flexibilidade imprimida, as cedências controladas, poderemos ter "libertado" a língua portuguesa, do seu cárcere europeu.
Ao fim e ao cabo, torná-la maior!
Para animar um pouco este assunto:

A crónica que Vasco Graça Moura publicou no «DN», e aqui referida, foi transcrita, com sua autorização, [aqui], com o compromisso de que lhe serão reenviados os comentários que, eventualmente, lá receba.

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