Carta a Salazar nos 40 anos do seu passamento
Meu velho ditador:
Se pudesses ouvir, claro que não podes, e tu sabias que não havia vida para além da que tiveste, ouvirias o clamor das famílias dos que sofreram em Caxias, Aljube, Peniche, Tarrafal, S. Nicolau ou Timor.
Faz hoje 40 anos que morreste com 40 anos de atraso. Alguns fascistas ainda te evocam com nostalgia. Há sempre alguém que recorda um crápula, os que não têm memória ou os que odeiam a liberdade. Acontece o mesmo com Estaline, Mao, Franco e Mussolini, este mesmo, de quem tinhas uma foto na tua secretária de trabalho.
Tu não tinhas coração, eras um hipócrita abrigado à sombra de uma Igreja que protegeu todos os fascismos, um facínora que se escondia atrás da polícia política que aprendeu a torturar na Alemanha nazi, um demente com horror a eleições, pavor ao progresso e aversão ao povo. A censura era o teu colete anti-bala e as polícias a guarda pretoriana.
Viveste a obsessão dos medíocres e conseguiste tornar-te ainda mais vil com a mania do poder que exerceste com violência, enquanto a PIDE assassinava e os esbirros aturdiam um povo que amordaçaste com a censura, o analfabetismo, os tribunais Plenários e uma multidão de cúmplices de todas as idades e condições.
A guerra colonial foi uma paranóia pessoal que levou a morte a centenas de milhares de pessoas. Ainda hoje não se fala dela, por remorso uns, por vergonha outros, quase todos por um trauma que ficou de 13 anos da guerra injusta, inútil e criminosa.
Há quem deseje minimizar os crimes, dizendo que ignoravas que a PIDE assassinou Humberto Delgado quanto atribuíste o crime ao Partido Comunista, ou José Dias Coelho, abatido na Rua dos Lusíadas, quando puseste a circular que se tratava de ajuste de contas entre membros do seu partido.
Eras um farsante, o tirano que nunca saiu do país, o carrasco do povo a quem negaste o acesso ao ensino e à liberdade. Evocar o 40.º aniversário da tua morte é lamentar que tenhas morrido impune, que tivesses à tua volta a corja de imbecis e cúmplices que iam ao hospital da Cruz Vermelha encenar reuniões do Conselho de Ministros para que pudesses crer que ainda eras o algoz vitalício da pátria que desonraste.
Da tua herança resta o medo e a cobardia, o atraso e o servilismo, o gosto pela delação e a memória dos crimes que cometeste. E a eterna gratidão a uma cadeira.
Se pudesses ouvir, claro que não podes, e tu sabias que não havia vida para além da que tiveste, ouvirias o clamor das famílias dos que sofreram em Caxias, Aljube, Peniche, Tarrafal, S. Nicolau ou Timor.
Faz hoje 40 anos que morreste com 40 anos de atraso. Alguns fascistas ainda te evocam com nostalgia. Há sempre alguém que recorda um crápula, os que não têm memória ou os que odeiam a liberdade. Acontece o mesmo com Estaline, Mao, Franco e Mussolini, este mesmo, de quem tinhas uma foto na tua secretária de trabalho.
Tu não tinhas coração, eras um hipócrita abrigado à sombra de uma Igreja que protegeu todos os fascismos, um facínora que se escondia atrás da polícia política que aprendeu a torturar na Alemanha nazi, um demente com horror a eleições, pavor ao progresso e aversão ao povo. A censura era o teu colete anti-bala e as polícias a guarda pretoriana.
Viveste a obsessão dos medíocres e conseguiste tornar-te ainda mais vil com a mania do poder que exerceste com violência, enquanto a PIDE assassinava e os esbirros aturdiam um povo que amordaçaste com a censura, o analfabetismo, os tribunais Plenários e uma multidão de cúmplices de todas as idades e condições.
A guerra colonial foi uma paranóia pessoal que levou a morte a centenas de milhares de pessoas. Ainda hoje não se fala dela, por remorso uns, por vergonha outros, quase todos por um trauma que ficou de 13 anos da guerra injusta, inútil e criminosa.
Há quem deseje minimizar os crimes, dizendo que ignoravas que a PIDE assassinou Humberto Delgado quanto atribuíste o crime ao Partido Comunista, ou José Dias Coelho, abatido na Rua dos Lusíadas, quando puseste a circular que se tratava de ajuste de contas entre membros do seu partido.
Eras um farsante, o tirano que nunca saiu do país, o carrasco do povo a quem negaste o acesso ao ensino e à liberdade. Evocar o 40.º aniversário da tua morte é lamentar que tenhas morrido impune, que tivesses à tua volta a corja de imbecis e cúmplices que iam ao hospital da Cruz Vermelha encenar reuniões do Conselho de Ministros para que pudesses crer que ainda eras o algoz vitalício da pátria que desonraste.
Da tua herança resta o medo e a cobardia, o atraso e o servilismo, o gosto pela delação e a memória dos crimes que cometeste. E a eterna gratidão a uma cadeira.
Comentários
Um pequena nota histórica...Ele saío do país (discretamente) pelo menos uma vez para se encontrar com Franco (na Galiza). O nunca ter saido do pais foi mais um acto de propaganda do que uma realidade.
O encontro com Franco foi em Badajoz.
O encontro de Badajoz entre os dois ditadores está registado.
Do da Galiza não encontro referências mas a parte importante do post é a que se refere à ditadura que muitos se esforçam por branquear.
Não é o nosso caso.
E concordando com quase tudo, penso que não devia ser uma carta dirigida a Salazar.
Esta carta devia ser dirigida aos políticos que lhe sucederam.
Aos políticos, aos banqueiros, aos capitalistas e sindicalistas, aos jornalistas e juizes e a todos os «instalados».
A esta gente, pelo seguinte: porque uns são novos e nunca querem saber porque chegámos ao "botas", e outros são velhos, já se esqueceram porque caímos naquele «estado novo».
Porque a bandalheira actual, principalmente os banqueiros, faz-nos lembrar um pouco o Alves dos Reis. E este já foi julgado pelo Salazar.
Claro que isto não é mais que um pensamento trazido pelo post.
Claro que o abutre de Santa Comba já não ouve, e os túmulos não abrem por dentro, mas esta «carta» é um pretexto para que os mais novos saibam.
Também concordo, em geral, com o que escreveu.
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