Dois pesos e duas medidas...


As gigantescas manifestações populares contra a austeridade e o desemprego, apesar de duramente reprimidas por cargas policiais, ameaçam continuar. Os governantes parecem desnorteados e, para lá da repressão, já pensam em limitar o direito constitucionalmente consagrado: manifestações, sem necessidade de autorização.

Ana Botello, poderosa presidente da autarquia de Madrid, mulher de Aznar e membro do Opus Dei, pode alhear-se dos problemas dos espanhóis que sofrem o desemprego e os cortes nos salários, na educação, na saúde e nos serviços sociais, mas foi determinada a declarar a Corrida de Touros Património Cultural Imaterial. Essa mulher só não aceita, com o peso da sua pulseira de diamantes, de 9 mil euros, oferecida pelo amantíssimo esposo e invasor do Iraque, as reincidentes manifestações de desagrado da população contra o Governo do seu partido – o PP.

Ana Botello queixa-se de que há agora demasiadas manifestações enquanto, há poucos anos, apoiava as constantes demonstrações de força contra as leis da família, votadas no tempo de Zapatero, manifestações onde não faltavam bispos a agitar as mitras, brandir os báculos e exibirem os anelões, onde as beatas depositavam ósculos de pia devoção, acompanhados de multidões de padres, monsenhores e pios militantes.

Solidária, a delegada do Governo em Madrid, Cristina Cifuentes, já veio corroborar as acusações veladas da autarca, afirmando que a lei é demasiado permissiva e ampla com o direito de reunião e manifestação admitindo um debate sobre os limites do direito ao protesto. Cinfuentes pede mudanças legais para «modular» o direito de manifestação, um curioso eufemismo para o limitar ou, quiçá, para o submeter ao poder discricionário do Governo.

Aliás, este pedido de alteração da lei sobre o direito ao protesto reforça a ofensiva lançada em abril passado pelo ministro do Interior, Jorge Fernandez Diaz, autor de uma proposta de emenda para endurecer penas por desobediência e resistência à autoridade.

Fica-se com a convicção de que os direitos de manifestação e de protesto deviam estar sujeitos à orientação ideológica do PP ou do Opus Dei e serem um exclusivo do referido partido ou da poderosa seita. A senhora Aznar é bem digna do marido, que quis comprar a mais alta condecoração dos EUA.

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