A Pátria, a tragédia e a cambada


É difícil saber se o FMI diz o que Gaspar quer ou se Gaspar diz o que quer o FMI, mas o ministro das Finanças fez saber que era um discípulo de Friedman, ignorando Cavaco, de quem foi aluno, talvez por pensar que o nome do antigo professor lhe empalidecia o currículo.

A Milton Friedman foi atribuído o Prémio Nobel da Economia, galardão que premiou o académico, ignorando a perversidade da doutrina que exonerou a ética e a justiça do que soe chamar-se ciência económica e se aproxima, cada vez mais, da teologia, a «ciência» que não tem método nem objeto.

Entregar as Finanças portuguesas a um académico sem experiência da economia real já deu os resultados dramáticos que estamos a viver. O discípulo do amoral  Friedman não pode ignorar que a experiência chilena se fez com Pinochet e o genocídio que o general levou a efeito, com uma polícia política de que não pode ainda dispor.

Tentar o mesmo modelo em democracia, embora sob o mando de quem desconhece as mais elementares normas da Constituição, é um desafio para um irreverente teórico mas uma tragédia para o povo que lhe serve de cobaia.

Gaspar talvez ambicionasse, à semelhança de Friedman, o prémio Nobel, por conseguir em democracia o que o pio facínora conseguiu com assassínios em massa, mas é muito improvável que a permanência no cargo dure a legislatura. E o cobiçado prémio era tão inverosímil nele como o da Paz seria em Pinochet.

Comentários

e-pá! disse…
O trágico deste 'relatório FMI' é de facto a sua 'paternidade'.
É tentar discernir as opções ideológicas dos chamados técnicos (que não as conseguem escamotear) e o que de programático, em termos políticos, foi concertado entre os relatores e a coligação que nos governa.
Se a finalidade deste relatório era ilibar o Governo das responsabilidades de medidas que, através do texto divulgado ontem, conheceram a luz do dia, podemos considerar que foi mais uma tarefa falhada deste Governo.
Deste relatório brota uma permanente e penosa confusão entre as medidas que tem sido paulatinamente 'preparadas' pelo Governo (e foram escondidas dos cidadãos eleitores no devido tempo) e a necessidade de fazer emergir um aval técnico que, eventualmente, as credibilizasse.
Nada disto foi conseguido. Antes pelo contrário. Este relatório é no seu conjunto uma aberração política, pejada de iniquidades sociais, com terríveis consequências económicas, onde a sombra tutelar do actual Governo não consegue ser 'disfarçada'.

A vontade de 'refundar' o Estado, essa montanha de ambição política, publicamente manifestada por Passos Coelho, pariu um rato.
Não será tão cedo que a Direita conseguirá fazer esquecer esta monstruosidade que tem apensa a sua assinatura. Isto, idenpendentemente de uma (re)conhecida necessidade de 'reformar' o Estado e adequá-lo às circunstâncias presentes e futuras.
Não podemos é confundir um guarda-chuva com a feira de Espinho.
Estou inteiramente de acordo com o post e o anterior comentário. À medida que se vão vendo e ouvindo notícias e comentários (por exemplo ontem no programa televisivo "Quadratura do Círculo") vai-se tornando cada vez mais evidente que o chamado "relatório do FMI" é da autoria - ou pelo menos coautoria - do sinistro Gaspar que, não tendo coragem para apresentar aquelas propostas como suas ou do governo, tenta convencer-nos de que elas são
provenientes do FMI.

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