A política, os partidos, os líderes e o País


Não partilho da arrogância dos que pretendem que os partidos sejam a extensão das suas convicções ou, quiçá dos seus interesses. Considero que cabe aos militantes partidários a escolha dos líderes e, quando no Governo, obrigá-los ao cumprimento dos programas e, sobretudo, das promessas eleitorais.

Desconfio dos que censuram as atitudes dos partidos alheios como se estes tivessem a obrigação de replicar as ideias e o comportamento do seu próprio partido. Por piores que sejam, os partidos políticos são sempre melhores do que um partido único.

Os aparelhos partidários, com os seus defeitos e virtudes, são fundamentais para a vida democrática dos países. É pena que se deixem capturar numa lógica de poder egoísta ou de perpetuação de grupos, mas isso é um assunto interno que cabe a quem milita.

Do que nenhum partido está livre é do escrutínio da opinião pública e das intenções dos eleitores. É por isso que os líderes mais queridos nos partidos, ou que melhor dominam os seus aparelhos, só por acaso são os mais apetecidos do eleitorado.

Ouvi hoje António José Seguro, líder do PS, a defender o aprofundamento da autonomia das Regiões Insulares, à semelhança do que quase todos os líderes defendem, sem se dar conta da tragédia que tem sido a autonomia da Madeira, à revelia de qualquer controlo, e sem definir um quadro de regionalização administrativa para o Continente.

Pareceu-me uma imponderação despropositada quando os grandes problemas nacionais passam muito mais pela definição do mapa administrativo do que pelas competências já delegadas e que mereciam ser objeto de ponderação.

Pareceu-me uma leviandade equivalente ao despropósito com que há tempos alvitrou a redução do número de deputados, velha ambição do PS e do PSD para  bipolarizarem a AR e empobrecerem o Parlamento com a eliminação dos pequenos partidos.

Com objetivos destes, Seguro pode amarrar o PS mas não atrai o eleitorado sem vínculo partidário. O mimetismo com Passos Coelho, o mais pérfido e perigoso PM do período democrático, arrefece a esperança e revolta quem aguarda uma alternativa fiável.

Assim, não. O PS não precisa de outro Passos Coelho, carece de um programa e de uma alternativa que se oponha à extrema-direita que conquistou por dentro o PSD.  

Comentários

e-pá! disse…
No post enuncia-se (anuncia-se?) a transformação (mutação?) da política na praxis do 'chorrilhar' ( promessas, asneiras, presunções, aleivosias, soundbites, etc.) e os cidadãos (com ou sem partido) numa caixa de ressonância.
Mau. Muito mau em tempos difíceis.
É de facto extremamente lamentável e pernicioso - para os próprios partidos e para a democracia - que os dirigentes partidários se preocupem mais com as tricas internas dos seus partidos e com o apoio dos "influentes" do partido - cuja "influência" por vezes resulta apenas da distribuição de sardinhadas e copos de tinto, ou da participação em tertúlias noturnas em botequins, quando não da distribuição de favores - do que com a opinião e os anseios dos seus eleitores.
Assim, "impingem" candidatos medíocres ou pouco recomendáveis aos eleitores, na ilusão de que têm o voto destes assegurado, sejam quem forem os candidatos. Mas não têm, e ainda bem.
Isso produz um efeito muito grave para a democracia: a grande percentagem de abstenções.
Manuel Galvão disse…
A máquina de fabricar candidatos a primeiro-ministro a este estado de coisas nos conduziu...

Para que a gestão partidária volte a entrar nos carris da decência, é necessário que muitos mais cidadãos-comuns sejam ativos partidariamente falando. Participando nos núcleos locais dos partidos, nas autarquias, nas reuniões partidárias abertas a não militantes, etc.
Partilho da sua opinião, Manuel Galvão, embora eu me limite a escrever. O que é mau, reconheço.

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