À margem do Congresso do PS…

O XIX Congresso do PS decorreu como mais um ritual democrático para consagração do líder já previamente eleito. link

Mais do que conhecer ‘novidades’ programáticas resultantes das bissectrizes entre diversas sensibilidades o País está ansioso por detectar e apreciar ‘novas’ alternativas.

Na verdade, este Congresso realiza-se no dealbar de uma nova moldura, isto é, quando a cega e dura ‘avalanche austeritária’ começa, por toda a Europa, no mínimo, a ser reavaliada e a capacidade para impor por mais tempo e arbitrariamente esta via começa a desmoronar-se. link; link.

Este recuo não aparece agora por mudança de orientação política nem por complacência para com os povos atingidos pela excessiva austeridade mas porque a ‘experiência’, numa primeira fase, serviu para consolidar a hegemonia germânica no espaço europeu e, neste momento, dado o carácter sistémico da recessão induzida, em todo o ‘programa’ subavaliada, ameaça ter um ‘efeito boomerang’ e voltar-se contra os seus progenitores.

Este o desafio que o congresso do PS deverá de responder. Ao ‘abrandamento’ (estancamento) da austeridade para preservar o ‘mercado europeu’, seguir-se-á uma ‘escalada tecnocrática’ para mascarar as insuficiências ideológicas, procurando canalizar e rentabilizar outras ‘mais valias’ liberais. Os instrumentos preferidos deverão as folhas de Excel, as medianas europeias (cuidadosamente ‘torturadas’), a captura da simpatia dos mercados e o controlo dos média.

Esta nova fase [do mesmo processo] vai centrar-se naquilo a que seráfica e abusivamente os neoliberais pretendem apresentar como sendo ‘reformas estruturais’. Provavelmente, está na hora de revisitar a célebre obra de Friedrich Engels – ‘A Ideologia Alemã’.

A resposta dos socialistas terá necessariamente de preparar-se (antecipar-se) para estas mudanças, isto é, para as previsíveis inflexões que a deriva neoliberal, virá a assumir (por imposição exterior), esvaziando-as.

Amanhã, não bastará ao PS proclamar o crescimento económico como sendo objectivo fulcral. Trata-se de uma situação que deverá ser, mais uma vez, ‘colonizada’ pela Direita.
Para além do crescimento económico e do combate ao desemprego galopante, no contexto de um sério e adequado rigor orçamental, é preciso saber como a riqueza, criada através do desenvolvimento, será distribuída. E, a curto e médio prazo, o veículo adequado, fundamental, para garantir o mínimo de redistribuição equitativa é o reforço e a sustentabilidade do Estado Social. Esta, portanto, a próxima batalha a travar e que andou um pouco ofuscada, nos 3 dias de Congresso, por algumas manobras de diversão (discurso presidencial, nova 'carta de consenso’, etc.). Não basta recusar o 'monstruoso' corte dos 4.000 milhões de euros.
É preciso regressar às boas estratégias políticas (pensadas, credíveis e mobilizadoras) e dar menos ênfase a epifenómenos, sempre fugazes e menores.

Este foi para os portugueses – e não somente para os militantes socialistas – o grande desafio que pairou sobre o Congresso que teve como palco a Feira.

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