Carta do ‘amigo’ Pedro aos representantes dos credores: avaliação preliminar…
"A carta que o PM enviou na quinta-feira, e a que a TSF teve acesso, revela pormenores, potencialmente polémicos entre portas". link
Bem, não será só ‘entre portas’, ou até com o ‘Portas’ que Passos Coelho terá de tratar intramuros deste melindroso assunto embora o ruído de fundo decorra sob elevados protestos de coesão da maioria.
Inacreditável é o trajecto ‘democrático’ deste Governo perante o Estado. Passos Coelho há uns meses tentou tirar da cartola o mote da ‘refundação’ do Memorando, sem conseguir explicar o que isso significava link.
Depois (Out. 2012), apareceu a sugerir que o Governo ter-se-ia comprometido com um corte ‘estrutural e duradouro’ nas despesas públicas do Estado no valor de 4.000 milhões de euros, durante a 6ª. avaliação da troika link. Ao que consta terá inscrito esse compromisso numa última versão do Memorando (não divulgada em português), que politicamente compromete a actual maioria (com algumas nuances) mas ficou distante do País (político, social e económico). Finalmente, promove debates paroquiais, encomendados e avulsos com a sua entourage política, alguns deles com black-out informativo e apresenta este simulacro como uma discussão do seu 'plano’.
Encurtando razões, na última 5ª. feira – e ao que constará numa carta ‘perdida’ ou de 'perdição' – o primeiro-ministro tem a desfaçatez de informar a troika que o plano de reestruturação do Estado ‘está fechado’[!]. Só se for no secretismo da sua missiva.
Nenhuma força política, económica ou social tem conhecimento desse plano que supostamente “contou com a colaboração de vários departamentos do governo, organizações internacionais, e um vasto número de elementos da sociedade civil” link.
A doutrina é: “melhoria da equidade entre os trabalhadores do sector público, privado e pensionistas, equidade e eficiência económicas e equidade inter-geracional”. link
Uma algaraviada. Mistura alhos com bugalhos. Equidade, eficiência económica e conflitos de gerações. Um denominador comum: desigualdade e confisco.
A dose é: “Passos Coelho afirmou terem sido feitos «alguns contactos para clarificar» o conteúdo do programa, que qualificou de «bastante duro»". link Não seria melhor e mais prudente quantificar o acentuar da 'espiral recessiva'?
A 'cassete' é: Olhar o documento como uma «oportunidade para Portugal» mudar o regime económico e implementar reformas estruturais de forma a «resolver de uma forma definitiva e sustentável os seus problemas crónicos de finanças públicas». link Para este luso indígena tudo é ‘uma oportunidade’: a emigração, o desemprego, a recessão económica, a fome, etc.
E o que adiante se verá e lerá...
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Considerações (provisórias) até ser possível aceder ao texto:
O documento continua ainda indisponível para os portugueses. Foi enviado previamente aos credores para que dêem a sua bênção. Provavelmente, ainda não foi traduzido do inglês para a língua lusa. Mas isso sendo um pormenor é o prelúdio de múltiplas ignomínias.
Insuportável é este tipo de alienação política e desvario neoliberal que julga poder substituir o debate democrático que terá forçosamente de envolver todas as forças políticas e sociais nacionais, por fechadas conversas em tertúlias neoliberais.
Percebe-se agora porque o PSD se mostrou tão 'zangado' e incomodado com o PS por este recusar-se a participar na farsa que estava a ser urdida à volta de uma pretensa 'reestruturação do Estado'.
É que o PSD sabe que os nossos credores avaliarão sempre o escondido plano de Passos Coelho/Vítor Gaspar como algo de extremamente frágil fora de qualquer tipo de consenso nacional. Esse ‘plano’ poderá comprometer (parte de) uma maioria política circunstancialmente agregada para impor ‘ajustamentos neoliberais’ mas , no contexto nacional, não corresponde a qualquer maioria social.
Trata-se, portanto, de em termos de eficácia financeira e fiscal de um plano fantasma e surreal que será ‘violentado’ e ‘canibalizado’ na próxima campanha eleitoral (até pelas forças actualmente estão coligadas em sua defesa).
Em termos económicos, representa o suicídio colectivo subsidiário da intensificação de uma incontrolada 'espiral recessiva'.
Em termos políticos, os procedimentos adoptados pelo Governo são execráveis. Roçam a ‘escroqueria política’. Trata-se de uma inqualificável burla democrática a coberto das densas sombras que pairam no interior e ao redor de um ‘Plano de Assistência Financeira’ pretensamente ‘actualizado’ mas, na realidade, muito distante do memorando de Abril de 2011 que, efectivamente, ‘condicionou’ as últimas eleições Legislativas no País.
A 'uncovering letter' de Passos Coelho aos credores poderá ser uma fantasiosa carta de amor aos mercados, mas não andará distante de uma vil e escondida traição muito reveladora de uma atitude política covarde e de uma postura democrática depravada. Esta a avaliação preliminar possível, querendo deixar de fora juízos preconceituosos.
Comentários
Vergonha ser governada por gente como esta.