Moção de censura: ‘o rei vai nu’…
A moção de censura ao Governo teve o epílogo esperado link. Pouco adiantou em termos de clarificação política interna, já que os partidos representados na AR, repisaram críticas que vêm fazendo, uns há largos meses, outros desde o início do Memorando.
Todavia, em termos 'imagem externa' (um obsessão e uma bandeira desta maioria), e aqui está incluída a UE, esta moção foi importante e desmistificadora.
Ela põe fim a um consenso, de resto artificial e cheio de contradições, sobre o programa de resgate negociado nas difíceis condições existentes há 2 anos. Na altura, vivíamos perante implacáveis exigências dos ditos ‘credores’ de que não conhecíamos o rosto, mas ouvíamos o burburinho e alguns anotavam solícitos os desejos.
Estamos no meio da Legislatura e já existe tempo e distanciamento suficiente para proceder a avaliações. E só por miopia política alguém se pode dar por satisfeito. Perante um caminho penoso e recheado de dificuldades, os resultados resumem-se numa palavra: desastrosos.
O Governo sai desta moção de censura isolado e machucado na sua prosápia perante uma Europa que se encontra em dificuldades políticas, sem liderança credível e, portanto, sem rumo.
Paulo Portas apercebeu-se desta situação no discurso de encerramento do debate, quando nas entrelinhas pretendeu adiar a consumada ruptura. O apelo a “não levar longe demais esta ideia de rutura definitiva”, pedindo “mais soluções do que moções” link mostra a real dimensão dos danos que esta moção de censura causará na estratégia política da maioria governamental.
De facto, não é possível este Governo continuar a representar lá fora o papel de um executivo que emerge de um povo submisso e conformado, que aceita pacientemente e sem questionar, os ajustamentos que estão a ser feitos através de uma leitura liberal do Memorando (que durante muito tempo teve a veleidade de 'querer ir além').
A imagem que se torna cada vez mais nítida é a de que este Governo transformou-se numa clique que não tem por detrás qualquer suporte social, tendo definitivamente assumido o papel de um grupo de 'funcionários dos mercados', atentos, veneradores e obrigados.
Enfim, a moção não teve efeitos práticos cá dentro mas evidenciou aos portugueses que - ‘o rei vai nu’.
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