Fátima, Futebol e Fados



Não, não sou avesso ao futebol nem indiferente ao sucesso dos compatriotas. Senti que o dia de ontem como um suplemento de ânimo para o país que descrê de si próprio e é dado à depressão.

Quando, no mesmo dia, os jogadores da seleção nacional se consagram pela primeira vez campeões europeus, Sara Moreira campeã da Europa, em meia-maratona, Patrícia Mamona, em triplo salto, e Portugal se tornou campeão europeu, simultaneamente em meia-maratona e futebol, não é apenas uma grande alegria que se sente é uma enorme confiança que desperta no país que somos e nos compatriotas que temos.

Ontem o atletismo português conquistou três medalhas de ouro e duas de bronze, depois de ter conquistado uma de prata na véspera. Foi pena que os feitos do atletismo fossem ofuscados, na voragem do futebol e na agenda da comunicação social, pelas cerimónias exclusivas do futebol.

Temo que os sucessos de ontem nos distraiam da vigilância cívica que nos cabe e da atenção ao que se passa na Europa e no mundo com inevitáveis reflexos para Portugal.

Não gostaria de ver o meu País a regredir ao tempo dos três FFF. Ontem julguei ver no futebol uma espécie de diagnóstico diferencial entre Fátima e Lourdes, dois centros de turismo pio que originam mais desastres do que milagres.  

Comentários

e-pá! disse…
Ontem com a final em Paris e hoje com a chegada a Lisboa da selecção nacional é imperativo equacionar o poder mobilizador do futebol. Passando ao lado das iniquidades de tratamento que se verificam em relação ao atletismo, à canoagem, ao hóquei em patins, etc., não deixa de ser impressionante a mobilização que o País conheceu à volta de um evento futebolístico de âmbito europeu.
Vários problemas e muitas interpretações se colocam à volta destes factos.

Em pleno século XXI não basta caracterizar o futebol como um simples processo alienante que visa colmatar (esconder) problemas sociais. Não basta enquadrar esta actividade como uma variante do 'ópio do povo' ou como se fosse mais uma 'religião'(até porque as religiões mobilizam cada vez menos 'fiéis').

A dicotomia entre futebol-desporto e futebol-negócio (e a preponderância desta última vertente) está presente nestas competições mas não justifica tudo porque o mercado do futebol - que com certeza esteve presente no Europeu em gabinetes e ocupou agentes desportivos - não é directamente pressentido nos estádios.
A transformação de um desporto de entretimento que terá ocupado (...e divertido) muitos portugueses na infância e adolescência, num complexo quadro de representações sociais é deveras impressionante e só tem sido possível porque foi um objectivo adoptado e diligentemente trabalhado pelos 'mass media'.

Os negócios à volta do futebol continuam na sombra e hoje mesmo com 'sociedades desportivas', adquiridas por (suspeitos) oligarcas, a 'clubite' persiste, enche estádios e domina os shares televisivos.

Impressionou a intensidade da representação social que o futebol é capaz de mobilizar. Um seleção dos nossos melhores jogadores de futebol, profissionais saliente-se, que com brio, esforço e sacrifício venceu um torneio transforou-se num caso com outra dimensão. Hoje, por todo o País, e também na nossa diáspora, todos somos 'campeões'.
Qual o veiculo social ou cultural que sustenta e catalisa esta transformação e determinam que um desporto da aristocracia inglesa tenha no presente uma raiz tão popular?
Ou ficamos só pelo 'negócio'?
E-Pá:

Aqui está uma boa reflexão a merecer tratamento num post.

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