Passos Coelho, o Estado e a (re)invenção da pólvora…
Passos Coelho, lídimo e esforçado dirigente do PSD esteve presente num “Fórum de Políticas Sociais: Educação; Saúde e Segurança Social” que o seu partido realizou no Porto este fim-de semana.
E aí botou faladura para apresentar-se, a si próprio e ao seu partido, como um arauto do combate às perversões nessas áreas, declarar o falhanço do Estado Social e mostrar-se aberto para “redesenhar as políticas sociais”.
Prometeu, inclusive, uma “convenção alargada” para discutir tais assuntos depois de colher doutas opiniões (de académicos, conselheiros e burocratas, acrescento). link.
Há contudo uma coisa que o dirigente do PSD não consegue esconder mesmo emboscando-se atrás daquilo que para os eleitores jurou ter defendido durante a última legislatura. De facto, ao promover cortes cegos nas áreas sociais o ex-responsável pelo anterior Governo sempre afirmou que estaria a conferir sustentabilidade ao Estado Social. Inclusive, armou-se num seu mítico ‘salvador’ link. Ora um ‘salvador’ de causas perdidas ou falidas ou em que não se acredita, não sendo propriamente um deslize ou filantropia é, com certeza, mais uma mentira que o tempo está a revelar.
Na verdade, o actual dirigente partidário em fase de procura de assuntos candentes que projectem uma imagem promocional foi ao Porto debruçar-se sobre um velho problema político em que quis enxertar, à sorrelfa, aspectos de uma cândida novidade. Isto é, não é preciso ser mundividente, ter cultura cívica ou ser capaz de elaborar um raciocínio político premonitório para ter a certeza que Passos Coelho foi ao Fórum propor uma convenção que sancione uma sempre desejada mudança que tem procurado ocultar dos portugueses: Transitar do Estado Social para um Estado Liberal.
Não é, como sabemos da história das ideologias políticas, uma questão nova. A única surpresa poderia ser a sua concepção partir um partido que continua a reclamar-se da ‘social-democracia’ ('sempre' diz ele). Todavia, este é outro assunto que é sempre toldado pela vergonha (receio) de assumir publicamente a deriva neoliberal.
Em vez de andar a procurar em fóruns ou na praça pública - qual 'Diógenes pós-moderno’ - a verdade sobre a situação social bastaria colocar na sua bagagem (pessoal ou intelectual) e levar, este ano, para a sua vilegiatura na Manta Rota, uns livritos (básicos para qualquer pretendente a 'voos políticos') onde Marx, Owen, Proudhon, de um lado, e Simth, Hume, Stuart Mill, do outro, já escalpelizaram com profundidade as bases teóricas e filosóficas sobre a natureza e funções do Estado que tanto parece incomodar, agora, o neo-dirigente do PSD.
O que é verdadeiramente impressionante é a desfaçatez com que se sobe ao palanque para anunciar que em breve irá promover a (re)descoberta da pólvora…
Comentários