Eleições na Áustria e na Baviera: a crise dos Partidos tradicionais

Na Baviera a CSU perde, pela primeira vez em mais de 50 anos, a maioria absoluta.
Mas não à custa de uma subida dos socialistas. Antes de uma maior votação numa lista de independentes e outra de liberais.

Na Áustria, o Partido Socialista (Social-Democrata) conserva o primeiro lugar.
Mas a grande lição destas eleições é a de que o eleitorado puniu aqueles que romperam a coligação governamental entre os social-democratas e os conservadores, designadamente o Partido Popular.

Contudo, a segunda e talvez mais eloquente dedução que podemos fazer é a de que o eleitorado procura, mais uma vez, os partidos não tradicionais.
Na Áustria refugiam-se na extrema-direita populista, nacionalista e xenófoba, que atinge perto de 30%, se juntarmos os votos dos dois partidos desta linha política.

As sondagens em Portugal indicam que a extrema-esquerda se aproxima dos 23%.

Estes dados significam que 1/3 do eleitorado está a entrar em ruptura com os partidos tradicionais: os socialistas e os conservadores.

Procuram alternativas, por vezes em "independentes", outras nos nacionalistas, outras vezes na extrema-esquerda.

É tempo de os partidos socialistas mudarem de rumo. Devem repensar as suas propostas e, sobretudo, a sua forma de fazer política.

É necessário que os partidos socialistas, por toda a Europa, voltem a ter verdadeiro contacto com as classes trabalhadoras, com as classes médias, com o aparelho produtivo, com as classes intelectuais, com as vanguardas culturais e com as redes de acção social.

Isso conduz-nos, mais uma vez, à discussão sobre a figura do "político".

É sabido que a deslocação para os palácios do poder da capital torna muitas pessoas distantes das suas origens e os fazem esquecer da missão para que foram eleitos ou designados.

Assim sendo, devem os partidos ter mecanismos de permante regeneração, de constante "intranquilidade", que conduzam a uma renovação das pessoas e dos processos.

Aqui vão duas propostas:

- limitação a dois mandatos do exercício de cargos no secretariado nacional, distrital e concelhio;

- entrega de declaração de interesses e rendimentos a um órgão de supervisão no Partido;

É tempo de os partidos tradicionais, sobretudo os socialistas, repensarem a sua política.

No mês em que o "capitalismo de casino" à la Reagan ruiu, as eleições na Baviera e na Áustria vieram mostrar que as pessoas confiam cada vez menos nos Conservadores e nos Populares.

Mas também não vieram inteiramente cair nos braços dos socialistas, nem sequer da esquerda.

Antes procuram alternativas mais ou menos nacionalistas ou folclóricas, mais ou menos conjunturais, mas que constituem, mais do que um sinal de alerta, um grito de revolta contra os políticos pequeninos que têm feito carreira na Europa.

Comentários

e-pá! disse…
CRISE: PARTIDÁRIA OU POLÍTICA?

As notícias mais recentes, mostram-nos que não basta cumprir regras, como por exemplo, aceitar de modo acrítico uma economia de mercado.

A social-democracia, por exemplo, e já que nos referimos às eleições na Aústria e na Alemanha (Baviera), não pode confiar, no que, há séculos, guardou no armário da História e que conserva como relíquias doutrinárias e esteios programáticos.

Na Baviera, já depois disso, em rota contemporânea, Franz Josef Strauss, pensava que tinha esvaziado esse armário...
Hoje, saberia (se estivesse vivo) que não! Liberais e independentes tinham-se enfiado lá dentro!

O problema não são os partidos (tradicionais ou não) mas a maneira como se faz política. A praxis política.

Primeiro, o primado do conteúdo ideológico. Os partidos devem ser "escolas" de ideologia - da sua e da dos "outros".
Depois, a maneira como se faz a política; com paixão, entusiasmo, ou, desprezo, indiferença?

Finalmente, entender uma importante mudança comportamental do eleitorado. Acabaram-se as fidelidades a toda a prova. A volatilidade é a regra. Por isso quem pisar é, na próxima oportunidade, castigado. Predomina a memória recente.

Ninguém aceita ficar preso a concepções, mesmo que culturalmente válidas, mas a vida quotidiana mostra ultrapassadas. Hoje, vive-se o quotidiano.

Não existe, nesta Europa em que vivemos, uma civilização (que desejaríamos universal) onde politicamente se defendam consensos e, socialmente, se cimentem laços de solidariedade.

O interesse individual próximo, imediato, condiciona tudo. Inclusive os resultados eleitorais.
Fidelidade canina só para os clubes de futebol...

Os partidos tradicionais são marcos, fixos, estáticos, onde o eleitorado em permanente movimento, num trânsito desenfreado, tropeça, acoita-se das tempestades passageiras ou foge, porque repudia atitudes, comportamentos, i.e., opções políticas. Evita ficar ancorado a esses marcos. Aos partidos.

Voltando à social-democracia.
A sua debilidade é tão grande, a sua crise ideológica tão sistémica que, não saberá, como aproveitar politicamente o soçobrar do modelo de "capitalismo selvagem", espectáculo que, a América do new deal, nos está a oferecer oferecer, de bandeja.
Vai ficar a contemplar a Wall Street e a espreitar a White House!
A crise social que se adivinha e avizinha, passará ao lado.
Depois, vêm as eleições e é tarde.

Como se diz em Coimbra: Inês é morta!

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