Convergência e descaramento
CONVERGÊNCIA
No meu post anterior, mostrei que Portugal está a divergir da Europa. Como convergir e como lançar as bases da convergência em tempos de crise?
O espírito nacional tem sido de conformismo, tudo atribuindo à aversão ao risco herdada da mentalidade católica e do paternalismo económico do Estado Novo. Tal conformismo tem que acabar. Tal como os países do Leste da Europa conseguiram contornar a sua falta de capitais e know-how capitalista e convergir a ritmo acelerado, muitos ultrapassando Portugal- Eslovénia, Rep. Checa, estando a Estónia e a Eslováquia (que muitos deram como potencial estado falhado após a sua independência) quase a passar-nos à frente.
Porque é que Portugal não produz? Bem, há muitos factores, começando pela fraca escolaridade e formação profissional dos trabalhadores, passando pela péssima qualidade dos gestores, os custos de periferia, etc. Desculpas, de facto, há muitas.
Mas palpita-me que o problema essencial é a excessiva desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres que cada vez mais se alarga (coeficiente de Gini de 38). Tudo isto se manifesta na economia real. Há uma elite reduzida de pessoas que têm capital para investir, muitas delas as velhas famílias que viviam em simbiose com o Estado Novo, e a esmagadora maioria nada pode investir porque todo o seu rendimento é absorvido pelo consumo. As elites capitalizadas preferem investir os seus vastos rendimentos, bafejadas pela escassíssima carga fiscal sobre o rendimento de capitais, no mercado financeiro, muitas vezes em produtos meramente virtuais e intangíveis, que nenhum impacte têm na economia real (aqueles que estiveram por trás da crise dos subprime). As classes médias, que melhor estariam colocadas para inovar e investir em PME's, estão asfixiadas por uma carga fiscal pesadíssima e insustentável. O carácter oligopolista do mercado é notório, sendo que uma escassa dezena de grupos económicos e SGPS's controla quase todo o mercado.
DESCARAMENTO
E, apesar disto, o governo decide avalizar um empréstimo de alto risco, no montante de 450 milhões de euros ao BPP, sociedade gestora das fortunas de algumas das riquíssimas personalidades acima referidas, salvando-o das materialização de riscos comerciais a que se devia ter conformado. Os superricos de Portugal assim já sabem... podem investir como quiserem, que se a coisa correr mal, o Estado (e os contribuintes, tribo em que eles se não incluem) lá estará para salvar as suas fortunas.
450 milhões de Euros em avais a PME's, em empréstimos a PME's emergentes, ou numa redução da carga fiscal, isso sim teria um impacte positivo na economia real e produtiva.
É descarado e escandaloso o governo utilizar dinheiro dos contribuintes, asfixiados e exangues para salvar os investimentos de uma escassa minoria de pessoas extremamente ricas, que justamente deveriam ter assumido o risco comercial dos seus investimentos. Este tipo de conduta só contribui para continuar a aumentar a trincheira que separa os mais ricos dos mais pobres, e que perpetua a divergência da Europa e faz o sonho de prosperidade cada vez mais longínquo.
Algumas medidas cruciais: aumentar o rendimento disponível das classes desfavorecidas e das classes médias através da redução significativa do IRS; aumentar a carga fiscal sobre rendimentos de produtos financeiros não reprodutivos (futuros, commodities, divisas, hedge funds, etc.); criação de incentivos fiscais a PME's.
No meu post anterior, mostrei que Portugal está a divergir da Europa. Como convergir e como lançar as bases da convergência em tempos de crise?
O espírito nacional tem sido de conformismo, tudo atribuindo à aversão ao risco herdada da mentalidade católica e do paternalismo económico do Estado Novo. Tal conformismo tem que acabar. Tal como os países do Leste da Europa conseguiram contornar a sua falta de capitais e know-how capitalista e convergir a ritmo acelerado, muitos ultrapassando Portugal- Eslovénia, Rep. Checa, estando a Estónia e a Eslováquia (que muitos deram como potencial estado falhado após a sua independência) quase a passar-nos à frente.
Porque é que Portugal não produz? Bem, há muitos factores, começando pela fraca escolaridade e formação profissional dos trabalhadores, passando pela péssima qualidade dos gestores, os custos de periferia, etc. Desculpas, de facto, há muitas.
Mas palpita-me que o problema essencial é a excessiva desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres que cada vez mais se alarga (coeficiente de Gini de 38). Tudo isto se manifesta na economia real. Há uma elite reduzida de pessoas que têm capital para investir, muitas delas as velhas famílias que viviam em simbiose com o Estado Novo, e a esmagadora maioria nada pode investir porque todo o seu rendimento é absorvido pelo consumo. As elites capitalizadas preferem investir os seus vastos rendimentos, bafejadas pela escassíssima carga fiscal sobre o rendimento de capitais, no mercado financeiro, muitas vezes em produtos meramente virtuais e intangíveis, que nenhum impacte têm na economia real (aqueles que estiveram por trás da crise dos subprime). As classes médias, que melhor estariam colocadas para inovar e investir em PME's, estão asfixiadas por uma carga fiscal pesadíssima e insustentável. O carácter oligopolista do mercado é notório, sendo que uma escassa dezena de grupos económicos e SGPS's controla quase todo o mercado.
DESCARAMENTO
E, apesar disto, o governo decide avalizar um empréstimo de alto risco, no montante de 450 milhões de euros ao BPP, sociedade gestora das fortunas de algumas das riquíssimas personalidades acima referidas, salvando-o das materialização de riscos comerciais a que se devia ter conformado. Os superricos de Portugal assim já sabem... podem investir como quiserem, que se a coisa correr mal, o Estado (e os contribuintes, tribo em que eles se não incluem) lá estará para salvar as suas fortunas.
450 milhões de Euros em avais a PME's, em empréstimos a PME's emergentes, ou numa redução da carga fiscal, isso sim teria um impacte positivo na economia real e produtiva.
É descarado e escandaloso o governo utilizar dinheiro dos contribuintes, asfixiados e exangues para salvar os investimentos de uma escassa minoria de pessoas extremamente ricas, que justamente deveriam ter assumido o risco comercial dos seus investimentos. Este tipo de conduta só contribui para continuar a aumentar a trincheira que separa os mais ricos dos mais pobres, e que perpetua a divergência da Europa e faz o sonho de prosperidade cada vez mais longínquo.
Algumas medidas cruciais: aumentar o rendimento disponível das classes desfavorecidas e das classes médias através da redução significativa do IRS; aumentar a carga fiscal sobre rendimentos de produtos financeiros não reprodutivos (futuros, commodities, divisas, hedge funds, etc.); criação de incentivos fiscais a PME's.
Comentários
O ESTADO NÃO PODE ESTAR AO SERVIÇO DE UMA CLASSE DE ESPECULADORES!
Acho que vai ser a efectivação de medidas do tipo das que propõe: aumentar o rendimento disponível das classes desfavorecidas e das classes médias através da redução significativa do IRS; aumentar a carga fiscal sobre rendimentos de produtos financeiros não reprodutivos (futuros, commodities, divisas, hedge funds, etc.); criação de incentivos fiscais a PME's, que vão decidir os resultados das próximas eleições legislativas, em termos de maioria absoluta ou relativa do PS (outra questão não se coloca no panorama político nacional, com esta Oposição...)
Pedir, ou implorar, não basta!
Alguém sabe, p. exº., quantos portugueses já perderam, neste momento, a "sua" casa, por terem perdido a capacidade de cumprir os empréstimos contraídos junto aos bancos, relativamente à aquisição de habitação própria?
O próximo ano pode ofuscar todo o trabalho anteriormente feito, independentemente, da concordância ou não com algumas das medidas tomadas.
O caso BPP, que o Governo alegremente julga ter resolvido com expedientes e justificações espúrias, pode ser a gota de água que fará transbordar o copo.
Para isso basta que o próximo ano seja mais drástico do que o Governo prevê.
Ninguém deixará de atirar à cara os 450 milhões de euros que o Governo se disponobilizou a avalizar, a uma centena de detentores de fortunas...
Como disse Barak Obama, o pior está para vir!
E ele tem a obrigação de estar bem informado...