O Vaticano e a vida
Longe de mim insinuar que o Papa acredita na bondade da sua religião, ou, sequer, na existência do seu deus, mas seria ingénuo não ver no rol de pecados que anuncia a mão de um velho censor que abomina a ciência com a ferocidade de um talibã.
Se adivinhasse, Constantino – o imperador que converteu a heresia judaica de Paulo de Tarso em religião do Império romano e encomendou a Eusébio de Cesareia um corpo uniforme de doutrina a partir das vinte e sete versões dos Evangelhos –, certamente teria mandado acrescentar as proibições canónicas com que B16 envergonha os crentes e irrita a comunidade científica internacional.
«O Vaticano condena a fertilização in vitro, a investigação com células estaminais embrionárias, pílulas do dia seguinte, clonagem reprodutiva ou com fins terapêuticos, diagnóstico genético pré-implantatório para evitar defeitos genéticos, criopreservação de embriões ou ovócitos para fertilização artificial, interferência no número de embriões implantados para prevenir gravidezes múltiplas, recurso à injecção intracitoplásmica de espermatozóides para ultrapassar problemas de fertilidade masculina, manipulação genética para qualquer forma que não seja tratamento médico» – lê-se hoje no Público.
Se Bento 16 se limitasse a impor os seus preconceitos aos crentes, e deixasse em paz os que lutam para aliviar o sofrimento humano, nada haveria a opor, mas o sumo pontífice, que tem a santidade como profissão, não desiste de convocar o seu poderoso exército de bispos, padres e beatos contra a ciência.
Nos países onde a laicidade ainda não chegou as leis reflectem os preconceitos clericais e a saúde e a própria vida estão sujeitas à sua vontade. Por isso, em nome da vida e da felicidade, é preciso lutar contra a vontade dos padres atribuída a um deus de cuja existência não apresentam provas.
Comentários
Da vida!?...
Talvez da "boa-vida" de alguns!
Felicidade?...
Depende! Há quem se sinta feliz pensando o contrário. Por isso, querer generalizar conceitos abstractos e personificáveis é... absurdo (no mínimo)
É preciso lutar contra a vontade dos padres?... E quem são os guerreiros? Lutam com que armas e contra quê? E, quem é que tem que lutar?
Não estarão os padres apenas a “alertar para”, em vez de “vender algo”? Os padres não têm o negócio da conservação as células estaminais, por exemplo…
Se é condenável a ideia da “purificação a raça”, a ideia da padronização das características humanas?
Não sei! Sei é que Hitler defendia tais técnicas… e eu nunca fui-á-bola com ele!
um Deus de cuja existência não apresentam provas
E tinham de provar a quem? Aos membros da Igreja ou aos ateus?
Para os primeiros, já está provada a sua existência; para os segundos, é assunto que não lhes diz respeito!
É preciso lutar contra a vontade dos padres?
Lutam com que armas e contra quê?
RE: Só luto pela palavra. Nunca usarei outras armas. Abomino os tribunais do Santo Ofício.
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Sei é que Hitler defendia tais técnicas… e eu nunca fui-á-bola com ele!
RE: Eu também não, mas pergunte de onde veio o anti-semitismo.
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Finalmente, se está de acordo com as proibições papais, espero que não queira que sejam obrigatórias para quem não é católico.
Porque se intromete então nestas "coisas" da Ciência, que até funcionam em consonância com Comissões de Ética?
Será para, daqui a uns séculos, um seu sucessor vir publicamente pedir desculpas, como sucedeu em relação a Galileu?