Vaticano - É preciso topete

O pregador da Casa Pontifícia, Raniero Cantalamessa, leu na sexta-feira, frente ao Papa, uma carta onde são comparados os «ataques» contra a Igreja a propósito dos casos de pedofilia com os «aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo», noticiou a agência Lusa.

O Vaticano perdeu a vergonha e a compostura. A denúncia dos crimes que atingem as sotainas é um dever, para proteger as crianças e intimidar os predadores sexuais. O seu clero não é excepção nem a pedofilia um crime exclusivamente pio. O que repugna, em primeiro lugar, é a ocultação ao longo dos anos com a cumplicidade dos bispos e de três papas. Depois é a fuga às responsabilidades e a tendência para se armarem em vítimas.

A Igreja católica arruinou a alegada superioridade moral. Dá normas para a sexualidade e comportamento das famílias e impede a interrupção voluntária do celibato ao clero.

Mas o que é verdadeiramente obsceno é a comparação ao anti-semitismo, a nódoa mais vergonhosa do cristianismo em geral e da Igreja católica em particular (não vem a aqui a propósito referir o anti-semitismo demente do Islão).

A Igreja católica já retirou do Novo Testamento as centenas de referências anti-semitas? Já pediu perdão pela expulsão dos judeus de Portugal e Espanha? Já se redimiu dos que queimou nas fogueiras da Inquisição? Já esqueceu o sequestro do menino judeu de seis anos Edgardo Mortara, sob o pretexto de que uma criada o havia baptizado? Não se recorda já da entrega a Hitler das relações dos baptizados para que se identificassem os judeus, por exclusão, atitude que os bispos protestantes também tomaram?

Quem acusou os judeus de terem matado Cristo, um judeu que morreu como tal, quem sempre os perseguiu e rezou pelos «pérfidos judeus», ao dizer-se vítima dos «aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo» está a enjeitar a sua conivência no anti-semitismo e, ao mesmo tempo, a minimizar as graves acusações de que é alvo.

Há um livro «A vida sexual do clero» exclusivamente escrito com casos cujas sentenças transitaram em julgado, em Espanha. Será que o Vaticano o desconhece?

Bastava o apoio de Pio XII a Hitler e às leis racistas de Mussolini para levar o pudor ao bairro de 44 hectares, sem maternidade nem pudor.

Comentários

Anónimo disse…
Não se recorda do monsenhor Tiso?
ou do apoio clerical a Pétain??
ou a Ante Pavelic ?
ana disse…
Gostei de constatar a tolerância dos fiéis, à saída duma missa, quando lhes foi pedida opinião sobre este assunto. Parecia que tinham engolido uma cassete: somos todos pecadores, ai, somos todos pecadores. Condenação? Nada. Aposto que serão dos mais acérrimos acusadores no caso Casa Pia. O mesmo crime, dentro da IC, perde importância, aliás, nem tem importância nenhuma. Afinal, somos todos pecadores.
Anónimo disse…
claro... todos são pecadores!!! Klaus Barbie, Josef Mengele, Ahmed Suharto, O Chacal, Bush, Stalin....
Roder Rock disse…
Excelente seu artigo, perfeito sob todos os aspectos.

Comparar as criticas a ela com o anti-semitismo mostra quanto o catolicismo sempre deturpou a história, os textos bíblicos e as evidências da verdade por tanto tempo.

Abraços
Talvez o papa melhor, até hoje (e em todos os aspectos), ainda tenha sido Celestino VI. Ver [aqui]
CIDADE DO VATICANO — A comparação feita pelo pregador da Casa Papal entre os ataques a Bento XVI pelos escândalos de pedofilia e o anti-semitismo não corresponde à linha de pensamento da Igreja, declarou o porta-voz da Santa Sé à rádio Vaticano.

http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5iM_LOXEWhw4yBJCDLcSWLaTbXI4w

O Vaticano demorou a retractar-se. Perdeu o tino.

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