E agora José?... [*]


O Presidente da República caiu na tentação de utilizar as redes sociais (Facebook) para exibir a sua total inaptidão para o cargo para que foi eleito. E não perdeu a oportunidade para mais uma vez afinar o seu discurso com a maioria governativa manifestando uma clara impossibilidade de mediar e arbitrar ‘consensos’ que tanto apregoa. Aliás, o ‘isolamento’ do PR face aos portugueses tornou-se bem visível nas comemorações oficiais do 25 de Abril, na AR, onde ‘’ logrou obter aplausos da coligação PSD/CDS link.

Perante o anunciado ‘fim’ do PAEF, Cavaco Silva, incapaz de manter uma postura institucional, não se conteve e aproveitou o ensejo para desafiar aqueles que alertaram para a possibilidade da execução do citado programa (que se prolongará por mais de uma dezena de anos) levar o País a solicitar um 2º. resgate.
E o comentário não poderia ser mais deslocado, infeliz, chegando mesmo a roçar a brejeirice: “O que dizem agora?link.

Foram vários os protagonistas políticos que ao longo do decurso desta atribulada intervenção externa – e por variadas razões políticas e de análise - levantaram a hipótese de podermos estar a caminhar para um segundo resgate. Esta questão foi uma presença constante na política portuguesa desde o início do programa de intervenção externa a que estamos submetidos. Não se percebe - até em termos humanos - a sobranceria do PR a não ser que existam problemas 'mal resolvidos'. Na verdade podemos dizer que quase todos os políticos portugueses andaram por aí.

A começar pelo próprio primeiro-ministro que usou esta arma (2º. resgate) para 'ameaçar' os portugueses a quando do chumbo pelo Tribunal Constitucional da chamada ‘convergência de pensões’ (Agosto de 2013) nos seguintes termos: "Se não formos capazes nos próximos meses de sinalizar aos nossos credores esta reforma estrutural do Estado, que garanta que a despesa do Estado desça de forma estruturada, não estaremos em condições de prosseguir o nosso caminho sem mais financiamento, sem um segundo programa que garanta ao Pais os meios de que ele precisa"… link.
Para quem esteja já esquecido deste episódio de pura chantagem política será oportuno recordar que estavam em questão, neste acórdão do TC sobre os cortes nas pensões da CGA, um ‘buraco’ orçamental no valor 167 milhões de euros. Se levássemos a sério o primeiro-ministro poderíamos pensar que escapamos a um segundo resgate por exemplo pela venda dos quadros de Miró e mais uns pózinhos da arca de horrores do BPN. Na realidade, o 2º. resgate foi amplamente usado para manipular e mascarar a ‘crise governativa’ do verão passado na falta de ouras saídas democráticas (p. exº: eleições antecipadas).

Aliás, nessa mesma altura [10.07.2013] foi o próprio Cavaco Silva que declarou “o risco de termos de pedir um novo resgate é considerável…link . Não se tratava de uma inocente análise da situação política nacional mas de um instrumento para pressionar um ‘acordo de salvação nacional’ entre o CDS/PSD e PS.
A diferença entre os políticos e forças partidárias, nomeadamente a Oposição, que esgrimiram a possibilidade de um segundo resgate e o primeiro-ministro, acolitado pelo PR, é que os primeiros questionavam o rumo (ou até a existência) do programa em curso e os segundos utilizavam-no como uma ameaça sobre os portugueses. Uns advertiam que o ‘ajustamento’ programado não era adequado, que assentava em pressupostos errados e não contemplando alternativas podendo levar a uma ‘espiral de resgates’; outros transformaram essa possibilidade (que também esgrimiram) num ‘papão’ para ameaçar os portugueses e ‘justificar’ o aprofundamento (a cada visita da Troika) das políticas de austeridade e de empobrecimento do País.

Se é esse ‘agora’ que o Presidente está questionar a resposta não é difícil: Por agora [ainda] não!
Mas não vale a pena cantar hossanas à situação porque como os portugueses dizem ‘até ao lavar dos cestos é vindima’. E a ‘vindima’ está para durar…

[*] – Poema de Carlos Drumond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?
...

Comentários

Kurcudilo disse…
Cavaco Silva não é brejeiro !
Não tem inteligência para tal.
Este Aníbal, é um ser rancoroso, hipócrita, mau e mentiroso !
Portugal nunca se poderá sentir honrado em ter como seu mais Alto Magistrado, um indivíduo de tão baixa índole.
Não vai deixar saudades.
Expliquem ao senhor que Sócrates já não é o líder do PS!

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