“The Day After Tomorrow…” [*]
A Direita parece (aparece) entusiasmada com a crise interna do PS. Nas suas contas este acidente de percurso parece encaixar-se perfeitamente no imediatismo táctico que domina a sua visão política nacional. A clarificação que o PS está a tentar fazer dá-lhe ‘espaço’ para alimentar a ilusão de que é possível sobreviver daqui a 1 ano ao escrutínio dos portugueses.
Ninguém adivinha como e quando os socialistas resolverão o problema criado com os resultados eleitorais de domingo passado. Há, todavia, uma primeira constatação. O PS está a tentar tirar ilações políticas desse acto eleitoral que foi sem margem para dúvidas uma pouco participada, mas significativa, avaliação do resgate ainda em curso. Não adoptou uma ‘política de avestruz’ como fez a Direita.
O problema é que nestas eleições (europeias) não estava só em causa a pública reprovação das escolhas deste Governo para enfrentar a crise portuguesa.
O âmago da questão seria a compreensão das ‘atitudes’ de diversas instâncias europeias (Comissão Europeia, Eurozona, BCE e Conselho Europeu) e o inventariar outro tipo de respostas que poderiam (deveriam) ter ocorrido por parte do Governo português. A coligação governamental conseguiu escamotear questões que eram à partida decisivas para o nosso futuro enquanto País integrado numa UE em desagregação. Problemas como por exemplo a restruturação da dívida pública foram arvorados em tabus (cá dentro) quando são motivos de análise de políticos (não estou a falar de economistas) estrangeiros convidados a falar sobre Portugal (ver ‘aula’ de Bill Clinton em Lisboa link).
E o grande erro da(s) oposição(ões) foi embarcar na desvalorização dessa restruturação (da dívida pública e privada) durante a campanha eleitoral.
O PCP e o BE apresentaram 'soluções' que estão [hoje] desajustadas porque só teriam viabilidade se tivessem sido encaradas e decididas em 2011. A saída da zona euro, que largos sectores da esquerda defendem, teria hoje custos económicos, sociais e financeiros incompatíveis com a preservação de um Estado Democrático.
O PCP e o BE apresentaram 'soluções' que estão [hoje] desajustadas porque só teriam viabilidade se tivessem sido encaradas e decididas em 2011. A saída da zona euro, que largos sectores da esquerda defendem, teria hoje custos económicos, sociais e financeiros incompatíveis com a preservação de um Estado Democrático.
O PS mostrou receio da reacção da Direita muito ciosa dos seus 'ajustamentos'. Esta (a Direita)apressou-se a confundir 'reestruturação' com ‘calote’ e deste modo continuou a alimentar um perverso tabu.
A alternativa democrática às políticas de Direita é, como tem sido referido à saciedade, o crescimento económico, que seja capaz de nos libertar da pobreza ‘induzida’ e, concomitantemente, resolva o problema do desemprego.
A saída do programa de intervenção externa - folcloricamente festejada pela Direita - tem de ser encarada com frontalidade e profundamente avaliada em todas as suas consequências (a curto e médio prazo). Não é possível desenvolver o País com as baias que os mercados nos querem impor. Nas condições negociadas (aceites) por este Governo e que integram a sua ‘estratégia’ (DEO) não sairemos da cepa torta.
A saída do programa de intervenção externa - folcloricamente festejada pela Direita - tem de ser encarada com frontalidade e profundamente avaliada em todas as suas consequências (a curto e médio prazo). Não é possível desenvolver o País com as baias que os mercados nos querem impor. Nas condições negociadas (aceites) por este Governo e que integram a sua ‘estratégia’ (DEO) não sairemos da cepa torta.
A alternativa às políticas deste Governo deve ancorar-se em questões essenciais tais como reestruturação (renegociação) da dívida, o papel do BCE, o Pacto Orçamental, a ‘regra de ouro’, etc., e não em oito dezenas de medidas avulsas, pretensamente ‘compensatórias’ dos malefícios dos últimos 3 anos, para que, no fundamental, tudo continue na mesma link .
É preciso não continuarmos a ser ingénuos ao ponto de tentar ignorar o previsível comportamento dos mercados financeiros. Até Outubro de 2015 vão mostrar-se ‘calmos’ e remetidos para uma postura de 'espreita', entremeada com periódicos elogios à nossa capacidade de ajustamento (à pobreza). Após as eleições legislativas – e mais duramente se não correrem bem - vão de novo ‘enervar-se’ e aparecer a fazer exigências, sob o espectro da bancarrota. A saída é portanto um círculo vicioso.
A ‘questão interna’ que agita neste momento o PS passa por esta linha fronteiriça. Na verdade trata-se de uma inadiável escolha entre cuidados paliativos que têm sido propostos até aqui e a outra face da moeda, isto é, a capacidade política de gerir e controlar uma ruptura à volta de reformas democráticas e socialmente inclusivas (‘desenvolvimentistas’).
A via do 'engonhanço' esgotou-se. O tempo é, nestes próximos dias, de fracturas...
A via do 'engonhanço' esgotou-se. O tempo é, nestes próximos dias, de fracturas...
[*] – Filme americano produzido em 2004 por Roland Emmerich, cuja acção decorre num clima gélido (expedição na Antártica) e gravita redor da previsão de dados sobre o aquecimento (global) e acaba por anunciar catastróficas tempestades em vários locais do planeta…
Comentários
Muito provavelmente será Sócrates...
Vira o disco e toca a mesma...