António Costa, Paulo Portas e os feriados identitários

Há quem nunca se tenha conformado com a abolição dos feriados identitários, que são a marca indelével da nossa História coletiva e há quem os tenha apagado do calendário, na vingança contra a pátria que não sente sua ou contra a História cujas datas maiores não honra.

Não podendo apagar o 25 de Abril, quiseram Passos Coelho e Paulo Portas abolir o 5 de Outubro e o 1.º de Dezembro, enquanto negociaram datas com a Igreja católica no país cuja laicidade não respeitam. Lamentavelmente, o PR rubricou a ofensa com a mesma indiferença que sente pelos Cantos d’Os Lusíadas, para quem o número 9 é a média aritmética entre os cantos (vértices) de um paralelepípedo e dez Cantos do poema épico.

Acontece que António Costa, com outra cultura, sensibilidade e inteligência prometeu no dia 5 de outubro deste ano, restaurar o feriado do regime que resta da demolição a que o País foi sujeito pelos irrevogáveis Portas & Coelho a quem Cavaco concedeu uma apólice com seguro contra todos os riscos, durante a legislatura completa.
Os portugueses, estupefactos, souberam que Paulo Portas, à sorrelfa, envergonhado do conluio com o inefável Passos Coelho, quis fazer esquecer a desonra e deixar a infâmia, por inteiro, para o cúmplice da coligação, anunciando uma proposta para recuperar o feriado do 1.º de Dezembro.

Quem pretende a reposição dos dois feriados não é a direita que os excluiu, é a esquerda que, unanimemente, votou contra.
Não há um feriado isolado a resgatar, há dois feriados, que representam a restauração da independência nacional, um, e a implantação da República, outro. É em conjunto que devem ser votados, não se entendendo que entre duas datas que constituem a identidade de um povo, se amputasse metade da memória ou se recuperassem separadamente.

A questão deixou de ser problema, os dois feriados regressarão. O resto é do domínio da biologia, a diferença entre quem tem coluna vertebral e os seres vertebrados tetrápodes e ectotérmicos, entre quem não se resigna à abolição dos feriados que celebram a História que temos e o povo que somos, e os que acordam patriotas em períodos eleitorais.

Comentários

e-pá! disse…
A questão dos feriados é complexa.
Por um lado, trata-se de uma 'imposição' da troika, alegremente aceite por este Governo, em nome da produtividade (ou da competitividade?) que ninguém no País parece estar em condições de avaliar quanto aos resultados práticos.
Fica a dúvida se foi um imposição ou uma punição. Mas essa dúvida é endémica e transversal a todo o PAEF.
O sinal de derrogação da nossa soberania é difícil de apagar qualquer que seja a 'ginástica' de Portas ou o 'assobiar para o lado' do Governo.
Os portugueses terão sempre presente que, para este Governo, quer a Restauração da Independência, quer a Implantação da República, são factos históricos e identitários que foram submersos por gratuitas especulações económico-financeiras. E tal facto não os impede (ao actual Governo) de continuar a tentar empunhar a bandeira de um 'patriotismo' (manifestamente interesseiro).

Por outro lado, e por outras razões, muitos portugueses não sentirão motivação para exigir a reposição integral do 'pacote dos feriados', já que os feriados religiosos não têm (ou não deveriam ter) implicações públicas (para a República). Um deles o 'corpo de Deus' é um feriado móvel que tem (para os crentes) a ver com o calendário litúrgico sem qualquer obrigação oficial. Aliás, e difícil perceber como num Estado laico (e apesar da Concordata) não estão previstos feriados do Yon Kippur e/ou do Ramadão só para falar das religiões abraâmicas.
Outro, o extinto feriado de 1 de Novembro bem podia ser restabelecido (pelo menos em Lisboa) para relembrar o trágico episódio do terramoto de 1755 que relançou a ideia reconstrução nacional sob o modelo pombalino. Seria a comemoração da entrada solene e prática do 'Iluminismo' na política da nossa terra (num terreno muito actual - as 'obras públicas').
Depois de tantos desaires históricos é caso para plagiar Henrique IV (de França) e argumentar que: "Lisbonne vaut bien une messe"... (passe a contradição).

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