Breve remoque ao Sr. Primeiro-ministro nesta quadra e para além dela…

Tive sérias dúvidas no encaminhamento e denominação a dar a este remoque. Trata-se como uma legitima reacção (de indignação e de enfado) às tradicionais 'lengas-lengas mensageiras’ que infestam este período. Hesitei quanto à formalidade de este ser dirigida ao cargo institucional que (ainda) exerce, ao chefe de um partido ou ao cidadão Pedro. Se, na verdade, o último endereço possibilitaria um maior desbrago e abertura das minhas opiniões e posições permitindo o recurso ao coloquial ‘tu cá-tu lá’ é certo e sabido que o cerne das questões que informam esta forma de expressão deverá ser, objectivamente, o exercício institucional.
Esta confusão instalou-se porque ninguém percebeu em que qualidade falou o mensageiro Pedro Passos Coelho. Se enquanto primeiro-ministro, se no papel de presidente do PSD, se enquanto cidadão nacional. Esta ‘mistura’ é reveladora do ponto a que chegamos da promiscuidade político-partidária.

A frase-chave da mensagem natalícia é um lancinante apelo: “Não queremos deitar tudo a perderlink.

Certamente que esta catilinária não pretende ser direccionada à generalidade dos portugueses. Já estamos a falar de ‘perdas’, seria bom olhar para aqueles que mais perderam. E não esquecer também aqueles que já tendo perdido muito, muitos deles o essencial para continua a ter dignidade (humana) vivem no espectro de continuar a perder ainda mais (e não são poucos).
Esta a ‘negritude das nuvens’ que foram alegoricamente esbatidas na pintura da mensagem mas que anunciam ‘borrasca’.

Falar do colapso do BES para continuar a ignorar, ou encobrir, olimpicamente, o seu rebate no sistema financeiro e na economia nacional ou passar ao lado do pesadelo que representa o ‘Pacto Orçamental’ é, literalmente, enganar os portugueses. Ambas estas situações – uma interna e outra europeia – condicionam o nosso futuro de maneira determinante. A primeira faz com que os resultados do exercício orçamental (em termos de défice, p. exº.) sejam mais uma maquilhagem (como tantas outras que as contas públicas tem sido objecto) e a segunda uma imposição ditada por Berlim é, na sua rigidez e cegueira, um garrote nos condiciona o desenvolvimento (e não só o crescimento económico) e nos arrasta, inexoravelmente, para um empobrecimento progressivo e destruidor.

De reter que a expressão “não queremos deitar tudo a perder” nunca poderá ser entendida como um mensagem de esperança ou de futuro. É não entender que a sociedade portuguesa está sedenta de 'mudança'.
Em primeiro lugar, a expressão do primeiro-ministro não passa de um slogan partidário assente na visão neoliberal deste Governo e revela antecipadamente a bandeira com que a actual maioria pretende apresentar-se ao eleitorado. Lamentável, que o primeiro-ministro teça e dirija ao País uma mensagem assente em propaganda partidária.
Finalmente, é justo que os portugueses anseiem pela reversão de um doloroso e vergonhoso empobrecimento que nos fez regredir decénios (política, social e civilizacionalmente). E é esta reversão que só não acontecerá se não tivermos a força de deitar muita coisa ‘conseguida’, nos últimos 4 anos, pelos indignos mensageiros, numa implacável, consciente e desejável 'rota de perdição' …

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