Ataque ao site da Comunidade Islâmica de Lisboa: divagações históricas …


O ataque informático ao site da Comunidade islâmica de Lisboa (CIL) é um incidente provocatório datado e exploratório que não deve ser desvalorizado mas sim interpretado à luz de um longínquo trajecto histórico 'esquecido'.

Os apelos jihadistas inscritos no site (não os reproduzo intencionalmente) estão ligados ao conceito do ‘Al-Andaluz’ e integram uma estratégia de disseminação do terror. Esta parece ser a base consensual das interpretações possíveis.

Portugal apesar de ter sido um dos países do Ocidente que conheceu a ocupação e naturalemente a influência moura (e não propriamente árabe) pouco sabe sobre as circunstâncias que envolveram o islamismo no processo bélico que então ocorreu. É um período da nossa História relativamente mal-tratado na formação escolar, cultural e cívica dos portugueses. Existem outros episódios, como por exemplo a dominação filipina, mas o 'Interregno' configura um outro assunto.

Para além do ênfase atribuído aos primeiros reis portugueses (da dinastia de Borgonha) que desenvolveram porfiados esforços na ‘conquista dos Algarves’ esta tarefa foi sendo conotada a um critério de expansão territorial e em conformidade com características de continuidade geográfica caracterizada por uma expansão para Sul já que para o Norte e Leste as dificuldades perseguiram-nos durante séculos e, claro está, suportada por motivações religiosas. É o velho conceito de ‘dilatando a fé e o império’.
Segue-se após a conquista dos ‘Algarves’ e a consolidação dos limites territoriais (muito semelhantes aos actuais) a saga dos Descobrimentos (dinastia de Aviz) e a ‘questão moura’ foi progressivamente encerrada embora tenha sido, inicialmente, marcada por expedições ao Norte de África.

O ataque informático ao site da CIL poderá significar o rebuscar no problema do ‘Al-Andaluz’. Ou, melhor dizendo, do ‘Garb Al-Andaluz’, i.e., o ocidente do Al-Andaluz, o que significa Portugal. 

Enquanto Afonso Henriques, e quase toda a primeira dinastia, se ocupa(m) com o escorraçar dos mouros do Garb Al-Andaluz (dos ‘Algarves’) este território tinha sido governado pelo califado almóada, sediado em Maraquexe, assumidamente berbere, não dependendo de Córdova ou de Sevilha sedes tradicionais do ‘poder mouro’ (almorávida) na Península (dos califados). 

Os almóadas consolidaram o seu poder em grande parte do Magreb, extenderam o seu domínio à Peninsula Ibérica e tinham uma característica que hoje adquire enorme significado: a ‘intolerância religiosa’ subsidiária do conceito da unicidade divina à volta de um ‘Deus único e absoluto’, neste caso, Alá. 
O fundador deste poder almóada (Ibn Tumart) conquista o poder em Marrocos, extende-o pela bordadura mediterrânica até Tripoli (Líbia) e arranca para a conquista da Península, tendo como base a ‘jihad’ (guerra santa). Al-Andaluz é mencionado nos textos escritos pelos almóadas – depois da reconquista cristã – como o ‘Paraíso perdido’.

Terá sido esta a mensagem dos ‘hackers’ escrita no site da CIL considerado o contexto do actual ‘Estado Islâmico’?

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