A Europa e a insubstituível união europeia

Por muito que arrelie os meus amigos, estou menos distante da senhora Merkel do que de Putin, sou europeísta convicto e defensor do euro, defendo a democracia política e não demonizo os EUA, que ajudaram a Europa a libertar-se do nazismo e foram o seu guarda-chuva militar durante a guerra fria.

O que não compreendo nos que raramente têm dúvidas ou nunca se enganam, é a fé nas orientações partidárias, na intuição própria ou no que julgam politicamente correto. Não percebo como países que colaboraram na divisão da Jugoslávia a abominam na Ucrânia; como colaboraram no massacre da Sérvia para lhe amputarem o Kosovo e se enfurecem com o apoio russo às suas populações na Ucrânia; como persistem no apoio a uma das partes na Ucrânia, dividida e instável, e não têm opinião sobre a Catalunha e a Escócia, esta sem língua própria.

Por que raio o primeiro-ministro inglês faz discursos contra a secessão da Escócia e a Ucrânia há de discutir militarmente o desejo das regiões pró-russas?

Confrange-me a desagregação de países numa imparável espiral que arrastará a Europa, para gáudio de muitos e desgosto de europeístas, mas não vejo diferença entre a divisão da Jugoslávia e a da Ucrânia, como não compreendo a aversão ou o apoio, por difusas razões ideológicas, à Rússia. Parece que a violação de fronteiras pelas tropas da NATO é virtuosa e pelas da Rússia é abominável.

A História ensina que a alteração de fronteiras é um vespeiro que se abre. Digeri mal a secessão eslovaca da Chéquia, apesar de pacífica, e, sobretudo, a divisão cipriota, há 30 anos, com armas turcas e gregas à beira de provocarem um sangrento conflito.

Como não me importo de ficar isolado, defendo a união europeia, de Portugal aos Urais, e não aceito a ostracização da Rússia e o avanço da NATO até às suas fronteiras, numa atitude agressiva e gratuita, com manifesto prejuízo europeu.

Respeito quem pensa o contrário de mim e desprezo quem toma posições, porque sim. Penso que a união europeia é a única forma de preservar uma paz que não faz parte da sua matriz genética e de poder enfrentar as guerras que o Islão quer exportar. Basta de autoflagelação com erros e crimes passados, temos de enfrentar os perigos futuros.

Quem viu na Rússia um perigo para a Europa acrescentou, aos perigos reais, mais um e perdeu a noção das proporções quanto aos riscos que ameaçam o velho continente.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

José Batista disse…
Claro e desassombrado.
Felicito-o.
e-pá! disse…
O 'trilema' é que nem Putin nem Obama e muito menos Merkel.
Bmonteiro disse…
Demasiado independente e global, para as mentalidades e rotinas instalados.
E dizem-se eles democratas.
Do Atlântico aos Urais, aí está um boa imagem de outro europeu culto e sabedor: Charles de Gaulle.
Que a UE parece difícil de entender.
Não admira, limitada aos negócios do imediato.
lino disse…
Excelente texto. O problema desta Europa é não ter políticos à altura da situação.
Obrigado, caros leitores, pelos amáveis comentários.
brites disse…
O QUE É SER INDEPENDENTE?
NÃO CONHEÇO NADA NEM NINGUÉM QUE POSSA ESTAR, SER ASSIM INDEPENDENTE. NEM UMA PEDRA!

QUEM TEM...TEM MEDO! E FICA A MODOS QUE TONTINHO A PRECISAR DE CUIDADOS PRIMÁRIOS, PRÓXIMOS,SEGUROS...

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