No dia 2 de setembro
O calor era abrasador neste princípio de tarde. O fumo, ao longe, anunciava o incêndio que a cada minuto envolvia a vegetação. O céu escurecia e a visibilidade reduziu-se-me na estrada que liga Vale de la Mula a Almeida, nos escassos quilómetros que separam a aldeia da sede de concelho.
Dentro das muralhas, do alto da fortaleza fui observando o círculo de fogo que avançava devastador. Os meios aéreos e os carros de bombeiros foram impotentes. Nas terras, de onde emigraram as pessoas que as amanhavam, ficaram sozinhas as árvores, envoltas no matagal impenetrável que só o fogo invade.
Agora já vai longe. Veio até perto da vila, com apetite devorador, onde deixou troncos fumegantes, e foi para outras paragens a desafiar bombeiros, com o vento a encaminhá-lo para sítios imprevisíveis numa dança em que extenua os que o combatem e torna imprevisíveis os caprichos da sua caminhada.
Dezenas de hectares de carrasqueiras que foram dos meus pais, e eram agora o orgulho do meu irmão, catedrático de Finanças que transporta genes de agricultor, alimentaram o incêndio e deixaram de servir aos javalis que ali iam em busca de alimento. O mesmo sucedeu a centenas de hectares contíguos que uma frente de vários quilómetros devorou.
O ar que as plantas tornavam respirável degradou-se. Logo, não irei ver aquelas pedras calcinadas, o terreno fumegante das raízes que ardem, o habitat dos coelhos, raposas e outros animais que por ali davam a ilusão da vida que vai faltando nestas terras raianas.
Depois da crise financeira, veio uma série infindável de outras. Os incêndios existiram sempre mas tornaram-se cada vez mais atrevidos com a fuga de pessoas e o abandono dos campos. Parece que há um projeto oculto que metódica e eficazmente vai reduzindo Portugal a escombros.
Dentro das muralhas, do alto da fortaleza fui observando o círculo de fogo que avançava devastador. Os meios aéreos e os carros de bombeiros foram impotentes. Nas terras, de onde emigraram as pessoas que as amanhavam, ficaram sozinhas as árvores, envoltas no matagal impenetrável que só o fogo invade.
Agora já vai longe. Veio até perto da vila, com apetite devorador, onde deixou troncos fumegantes, e foi para outras paragens a desafiar bombeiros, com o vento a encaminhá-lo para sítios imprevisíveis numa dança em que extenua os que o combatem e torna imprevisíveis os caprichos da sua caminhada.
Dezenas de hectares de carrasqueiras que foram dos meus pais, e eram agora o orgulho do meu irmão, catedrático de Finanças que transporta genes de agricultor, alimentaram o incêndio e deixaram de servir aos javalis que ali iam em busca de alimento. O mesmo sucedeu a centenas de hectares contíguos que uma frente de vários quilómetros devorou.
O ar que as plantas tornavam respirável degradou-se. Logo, não irei ver aquelas pedras calcinadas, o terreno fumegante das raízes que ardem, o habitat dos coelhos, raposas e outros animais que por ali davam a ilusão da vida que vai faltando nestas terras raianas.
Depois da crise financeira, veio uma série infindável de outras. Os incêndios existiram sempre mas tornaram-se cada vez mais atrevidos com a fuga de pessoas e o abandono dos campos. Parece que há um projeto oculto que metódica e eficazmente vai reduzindo Portugal a escombros.
Comentários
Ouvi dizer que o autor foi um descamisado que já foi bombeiro, e agora era sapador florestal. Não sei.
que pena que a quinta tenha ardido... adoro ir lá com seu irmão.. adoro mesmo.. mas a casa não ardeu.. do mal o menos
talvez vá amanha com zepaulo lá
um abraço de solidariedade
Luciano leal