A petulante (e 'diabólica') reforma…
A 'reforma' do mapa judiciário ocupou durante o dia de hoje a comunicação social e mobilizou o poder político quer na sua defesa quer na contestação.
Independentemente do amadorismo que se evidencia neste primeiro dia onde os contentores e as resmas de processos apinhados são uma imagem de marca (no sentido negativo do termo) existe um problema de fundo que está, também, a ser maltratado. Trata-se da noção de proximidade. Nesta caso invoca-se que salvaguarda a proximidade porque se abriram tribunais especializados e pretende-se com este ‘malabarismo’ ofuscar o fecho de comarcas no interior (onde a proximidade é crucial).
Na verdade, esta reforma não foi ditada pela melhoria da administração da justiça de forma a beneficiar os cidadãos. É de pressupor que os cidadãos para o exercício dos seus direitos e para a verificação do cumprimento dos seus deveres que resultam da inserção da comunidade onde vivem tem no acesso à Justiça a viabilização prática e formal (de Direito) dessas faculdades e obrigações que são, em última análise, factores relevantes de coesão da sociedade. Na realidade, a sociedade enquanto todo tem de estar salvaguardada de forças externas que, por exemplo, cerceiam direitos aos mais débeis e conferem privilégios aos mais poderosos.
Os tribunais são os guardiões dos direitos civis daí derivados e asseguram a partir dessa base o exercício de outros direitos: políticos, sociais e culturais.
Faltam aqui os direitos económicos. Estes estariam, em princípio, conotados com modelos de participação harmoniosa (e justa) na distribuição da riqueza colectiva. E é aqui que a presente reforma se desmascara. Quando este Governo fecha Tribunais no Interior (na Província) para abrir secções especializadas nos grandes aglomerados urbanos, está a diminuir o peso da administração da Justiça no campo cívico para o transferir para as questões jurídicas que inquinam a actividade afecta ao Direito comercial (da concorrência) e empresarial. Esta inversão de valores é apresentada como uma modernidade que transfere os tribunais para outro campo, tornado-os uns meros ‘instrumentos de competitividade’, capazes de incentivar 'os investidores', em detrimento das funções cívicas.
Faltam aqui os direitos económicos. Estes estariam, em princípio, conotados com modelos de participação harmoniosa (e justa) na distribuição da riqueza colectiva. E é aqui que a presente reforma se desmascara. Quando este Governo fecha Tribunais no Interior (na Província) para abrir secções especializadas nos grandes aglomerados urbanos, está a diminuir o peso da administração da Justiça no campo cívico para o transferir para as questões jurídicas que inquinam a actividade afecta ao Direito comercial (da concorrência) e empresarial. Esta inversão de valores é apresentada como uma modernidade que transfere os tribunais para outro campo, tornado-os uns meros ‘instrumentos de competitividade’, capazes de incentivar 'os investidores', em detrimento das funções cívicas.
A aleivosia é uma desmedida vaidade quando se pretende comparar este ajuste do mapa judicial à reforma de Mouzinho da Silveira. Este político (nascido em Castelo de Vide onde por estes dias o primeiro ministro vai perorar) faz, no advento da Revolução Liberal, na área da Justiça, uma verdadeira reforma que tem um impacto político, social e económico, brutal. Trata-se da ruptura com o Antigo Regime: fim dos vínculos (morgadios); redução (ou extinção) das sisas; reforma da administração pública e extinção dos forais e expropriação dos bens da Coroa. Em questões de reformas orgânicas cria o Supremo Tribunal de Justiça e estrutura o Ministério Público.
Qualquer comparação entre as alterações do mapa judiciário com uma reforma da justiça como a que foi feita no advento do liberalismo é pura petulância. Mais nada!
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