Eleições na Suécia...

A Suécia não tem vivido os tempos difíceis desde que a Europa luta contra a crise financeira que – convém não esquecer – começou em 2007-2008 nos EUA. 

Como foi insistentemente sublinhado em Portugal e objecto de estudos internacionais a Suécia fez o seu trabalho de casa atempadamente e muito embora viva, de novo, o espectro de mais uma bolha imobiliária, existe uma considerável solidez financeira e social no País. 

Na crise bancária de 90-93 subsidiária do afundamento do mercado imobiliário, a Suécia, então governada por liberais (Carl Bildt), conseguiu então varrer o lixo tóxico de cima da mesa de modo a assegurar a saúde do sector financeiro, com base numa intervenção estatal pontual e na ‘ameaça’ de nacionalização da totalidade do sistema bancário. 
Paralelamente, procedeu-se a uma racionalização do Estado Social que, apesar disso, continua a ser um dos mais avançados do Mundo. Claro está que a Suécia na crise do início da década de 90 pode contar um soberano instrumento: a existência de moeda própria. 
Este conjunto de circunstâncias permitiu uma ponderada gestão mista (político-financeira) da crise, longe da gestão austeritária (orçamental) que, hoje, grassa pela Europa.

A Suécia não é por essas razões (…e mais algumas) um exemplo paradigmático do que está a acontecer em muitos países europeus onde mecanicamente têm sido aplicadas as velhas receitas monetaristas do FMI, prontamente adoptadas pelo BCE e a Comissão Europeia.

A vitória do partido social-democrata, dirigido por Stefan Loefven, link ficou aquém das projecções do início da campanha eleitoral  e, portanto, longe da maioria absoluta. Será complexo o processo negocial pós-eleitoral com vista a assegurar uma maioria estável no Parlamento. 
Trata-se, contudo, de uma viragem à esquerda do eleitorado sueco e, esse facto, abre uma brecha na ‘sagrada aliança’ do Centro e Norte da Europa no ‘apoio’ à prossecução, pela UE, de cegas e severas políticas de austeridade.
Não vale a pena embandeirar em arco como sucedeu aquando da eleição de François Hollande. De qualquer modo, as eleições suecas permitem à massacrada social-democracia europeia respirar uma lufada de ar fresco.

Não existe espaço para festejar. Existe motivação para lutar. Na realidade, a par desta vitória verificou-se um enorme  crescimento do Partido dos Democratas da Suécia (extrema-direita) que mais do que duplicou a percentagem de votos e passa a ser o 3º. partido mais votado no Parlamento. Este o lancinante aviso à navegação.

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