Investigação confirma ‘jogo político’


Não, não chamarei crápulas, bandalhos ou canalhas a nenhum dos cúmplices que quiseram incriminar José Sócrates no alegado envolvimento no caso Freeport, através de uma campanha que tinha como alvo denegri-lo durante a campanha eleitoral.

Nada me autoriza a suspeitar que o braço-direito de Santana Lopes era «informador do processo» com conhecimento do candidato – o pior primeiro-ministro desde a ditadura de Pimenta de Castro –, e nada garante a cumplicidade na perfídia.

O facto de um deputado municipal do CDS, Zeferino Boal, ter feito chegar uma carta anónima ao inspector da PJ (autor da estratégia), José Torrão, denunciando alegadas irregularidades e, apesar de o despacho da procuradora Inês Bonina confirmar a teia de interesses, nada me permite afirmar que sejam miseráveis pulhas.

Houve vários encontros, dados como provados pelo MP, entre os investigadores e várias pessoas, algumas ligadas a Santana Lopes: «Miguel Almeida (deputado e membro da Comissão Política do PSD e da Comissão de Estratégia e Acção da campanha das últimas legislativas); o seu amigo Armando Jorge Carneiro (na altura proprietário da sociedade Euronotícias, editora da revista Tempo); o jornalista daquela publicação. Vítor Noronha; e o advogado Bello Dias, que partilhou o escritório com o então ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, o mesmo onde Santana Lopes chegou a trabalhar».

Não se pode deduzir do parágrafo anterior que houvesse uma associação de malfeitores, até podia dar-se o caso de se reunirem para rezar o terço pela conversão da Rússia.

Os encontros, na casa de Armando Jorge Carneiro, na Aroeira, terão sido propostos pelo inspector Torrão a Belo Dias e o objectivo dessas pessoas podia não ser «fornecer informações sobre o licenciamento do Freeport de Alcochete mas sim lançar suspeitas sobre José Sócrates» como adianta fonte judicial.

Armando José Carneiro tinha em seu poder uma cópia dos documentos da PJ e interesse em ver publicada informação que denegrisse a imagem do candidato do PS beneficiando o seu próprio partido – o PSD.

Claro que são pessoas de bem, excelsos chefes de família e nada lhes vai acontecer. É por isso que não me atrevo a qualificá-los como um bando de pulhas ou a imaginar que pudessem conluiar-se contra a democracia ou perpetrarem o assassinato político de
Sócrates.

A conspiração, a existir, parece não ser crime. Crime é um homem honrado, com relevantes serviços prestados ao País, acossado por um grupo de velhacos, dizer: «estou-me cagando para o segredo de justiça».

Nota: Este artigo foi elaborado com base na Visão n.º 698, (pág. 52 e 54) – Paulo Pena e Ricardo Fonseca.

Comentários

Anónimo disse…
e a propósito de quêC.E?
essa discursata "subliminar"
Anónimo disse…
o bobo:

A propósito das revelações que vêm hoje na Visão. Embora conhecidas só agora aparecem escritas.

Não há aqui «subliminar», há uma reflexão sobre a pulhice humana.
Anónimo disse…
Chapelada a este post!
Mano 69 disse…
Dois post sobre o governo e seguidos? É obra...
Paulo disse…
Nada melhor do que a LIBERDADE, né?


Abraço

paulo
Anónimo disse…
mano 69:

Este post não é sobre o Governo. É sobre a teoria da conspiração que tem pernas para andar.

E mais uma vez me vêm à memória Portas, Cardona, Salvado e outros malvados que repetidamente vou lembrando.

Aconselho todos a ler o artigo que citei da Visão, de hoje.
Anónimo disse…
Sendo assim aplaudo e as minhas desculpas a C.E.
Mas fui induzido em erro, pois o seu afã "militante" levou-me a pensar em causas mais do "meio".
E já agora digo-lhe que nunca duvidei que esse caso fosse uma atoarda.
Anónimo disse…
o bobo:

Não tem que pedir desculpa. Mesmo que fosse uma posição de forte discordância era bem vinda ao debate das ideias.

Só há democracia com contraditório.
Anónimo disse…
. Se analisarmos com racionalidade esta inacreditável e maligna trama;
. Se conseguirmos juntar todas as peças;
. Se nos inserirmos contexto temporal(pré-eleitoral);
- Temos um acabado e urdido exemplo de CONSPIRAÇÃO POLÍTICA.

Será um episódio inédito na "paisagem" política nacional?
rascunhos disse…
A verdade vem sempre à tona.Às vezes demora, quando as pessoas implicadas têm poder...
Anónimo disse…
O caso dos cartoons dinamarquês não foi condenado nos tribunais desse país pq a liberdade de expressão estava acima de qq outro direito. Esta decisão baseou-se em precedentes em que alguns políticos, nomeadamente o PM, tinha sido difamado pela imprensa e aquando da queixa contra a difamação o tribunal usou a mesma justificação: liberdade de expressão.
O seu post indignado contra a difamação esbarrará no mesmo problema: está a querer suprimir a liberdade de expressão tal como os tribunais dinamarqueses a entendem?

el s.


el s.
Anónimo disse…
el s:
Aqui não se trata de liberdade de expressão ou falta dela e não vejo a mímima relação.

A tentativa de prática de crime não é crime. É isso que vale a répteis capazes dr todas as peçonhas.

Mas politicamente não pode deixar de ter custos. Para os bandalhos e para o respectivo partido.

Os crápulas que quiseram destruir Sócrates são agora conhecidos.
Anónimo disse…
Teorema:
" A liberdade de expressão só é defendida quando não intrefere direcamente com a nossa pessoa ou os nossos ideais"

Demonstração:

Segundo a lei dinamarquesa a difamação é crime, contudo a aplicação da lei por estes considera que o direito à liberdade de expressão se sobrepõe à lei sobre a difamação. Assim sendo os tribunais apesarem de julgarem a existência ou não desta não punem os seus autores com base no direito à liberdade de expressão que toma prioridade sobre a lei anterior.
Foi com esta base jurídica que os tribunais dinamarqueses se absteram de julgar o "caso" dos cartoons, em que, diga-se, alguns deles difamavam TODAS as pessoas ligadas a uma religião associando-os serem TODOS terroristas, tentando provocar o assassinato moral e social dos muçulmanos.

Assim sendo a defesa da liberdade de expressão sobre os cartoons que difamavam uma religião e promoviam o assassinato social de grupos de pessoas foi por si aprovado e aplaudido.
A divulgação de uma difamação sobre uma pessoa (sem consequências de maior) é para si um acto a condenar, não interessando se estamos a reduzir a liberdade de expressão.

Q.E.D.

Nota:
A verdade é que a defesa da liberdade de expressão sem qualquer limite, como o fez a alguns meses atrás, leva a que esta difamação possa tb ser vista como um acto de liberdade - assim é a interpretação dos tribunais de justiça.

el s.
Anónimo disse…
Nota final:

Além da conspiração para denegrir a imagem de Sócrates ficou-me uma dúvida.

Estes conspiradores, conspiraram para tornar públicos documentos indiciadores de irregularidades praticadas por Sócrates ou simplesmente fabricaram as "provas".

Do seu post parece-me que alguém viu o que podia ser indiciador de irregularidades e usou isso para denegrir a imagem, já que os conspiradores parece que conspiraram +ara tornar públicos documentos indiciadores de irregularidades.

el s.
Anónimo disse…
El-S:

1 - Da leitura do artigo fica-se com a ideia de que se trata de um bando de crápulas que procurava «arranjar» motivos para denegrir um adversário.

2 - Continuo a defender a liberdade de expressão como um bem de primeira necessidadde.

3 - Do mesmo modo me sinto no direito de denunciar os crápulas que assassinaram politicamente Ferro Rodrigues.

Isto não invalida as consequências criminais de alguns actos.

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