A morte lava mais branco

O funeral do cónego Eduardo Melo, da Sé de Braga, deu origem a uma importante concentração fúnebre.

Uns foram para terem a certeza de que ficaram livres de uma testemunha incómoda, outros para prestarem homenagem a um homem que não hesitaria em defender a Igreja à bomba.

Não foi a devoção que o celebrizou, foi o poder que o tornou temido e respeitado. A estátua que lhe fizeram não foi uma homenagem às ave-marias que rezou, às missas que disse ou à frequência com que sacava do breviário. Foi a paga dos favores que fez, das cumplicidades que teceu, do poder que detinha. Não era homem para andar de hissope em punho a aspergir beatas que arfavam à sua volta antes da Revolução de Abril, era um homem de acção. Do futebol à política. Do salazarismo ao MDLP.

O cónego Eduardo Melo pode não ter sido responsável pelo assassínio do padre Max, cujo crime ficou impune graças a uma investigação pouco eficiente, mas presume-se que não o chorou.

Na morte teve a acompanhá-lo o inevitável presidente da Câmara, Mesquita Machado, o Governador Civil e um secretário de Estado, além de gente anónima que aproveitou os autocarros gratuitos para ir a Braga.

O bem-aventurado cónego, que nunca renegou a admiração por Salazar e a animosidade à democracia, foi a enterrar quatro dias antes do 25 de Abril que tanto detestava. Podia ter vivido até ao 28 de Maio. Era uma data mais grata à sua alma, uma consolação para quem nunca se adaptou à democracia.

Comentários

Anónimo disse…
Curiosamente, o Cónego Melo encostou-se ao PS de Braga, sendo grande amigo do Presidente Mesquita Machado e doutros socialistas minhotos...

Pelos vistos o Partido Socialista, não está longe da ideologia salazarenta.
Anónimo disse…
Caro anónimo:

No primeiro parágrafo limita-se a repetir o que diz o meu texto.

No segundo tira uma conclusão abusiva.

Ou o facto de se ter um amigo fascista faz de alguém outro fascista!?

E Mesquita Machado é o paradigma dos socialistas?
Anónimo disse…
La está o carlos a renegar a realidade.
Conego Melo é uma figura que poucos deixou indiferente. Era uma homem corajoso que teve a devida homenagem com milhares de pessoas presentes no seu enterro.
Mais uma vez, e esta é para si, dos fracos nao reza a história.
Ele, como muitos outros portugueses, não se acomodou ou facilitismo e perseguição que o 25 de abril trouxe à sociedade portuguesa.
Se Portugal fosse governado por conegos melo seriamos um pais muito mais integro e evoluido. Sem corrupção, sem boys nem caciquismo.

Já agora, onde é que viu que os autocarros eram à borla? quem os pagou? E ainda assim, qual o problema das pessoas poderem apnhar uma boleia para ir ao enterro de uma pessoa que admiram?
Por ultimo, é mais etico pagar autocarros para disponibilizar meios para as pessoas poderem ir assistir a um funeral, ou disponibilizar autocarros para se assistir a um comicio propagandistico do primeiro ministro? ou pagar a crianças para figurar numa apresentação do primeiro ministro, pagas com dinheiro do herario publico claro?
Responda se tem algum pingo de honestidade
ana disse…
"Era uma homem corajoso que teve a devida homenagem com milhares de pessoas presentes no seu enterro."

Aqueles milhares que votam no partido que o padre indica? De Lisboa, Alentejo, Algarve, também foi muita gente?

"Se Portugal fosse governado por conegos melo seriamos um pais muito mais integro e evoluido. Sem corrupção, sem boys nem caciquismo."

Portugal já foi governado por cónegos melo e nessa altura os males que refere não chegavam nem aos jornais. Hoje, chegam aos tribunais e ao povo, que vota em quem quer.
Anónimo disse…
Uma pequena correção: a estátua não foi erguida, por que a contestação foi forte.
Uma pergunta: o tal servidor de deus foi a Fátima fazer o quê? Refugiar-se? E já agora, ele morreu de quê? Deus chamou-o por que precisava dele para evitar que ele tivesse um fim de vida muito culpablilizante? Última pergunta: ele era detestado, e temido, no seio da hierarquia da igreja, porquê? Há mais perguntas, mas...

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