Onda de violência na Grécia

A onda de violência a que se assiste na Grécia revela a profunda decadência social e instabilidadede um regime político profundamente corrupto e autoritário. Um regime em que o poder está dividido entre três clãs (o clã Papandreou que domina o Partido Socialista Grego- PASOK e os clãs Karamanlis e Mitsotakis que dominam o partido conservador Nea Demokratia). Um regime autoritário, em que a polícia e o exército, o 29º maior do mundo e 6º maior da Europa, com 16 militares activos por mil habitantes (em Portugal, país da mesma dimensão: 4,25 soldados por mil habitantes, 75º maior exército do mundo, 11º maior da Europa) são treinados de forma bruta e espartana, sendo condicionados para odiar os países vizinhos e activistas políticos estranhos ao establishment. Um regime em que a liberdade de expressão é severamente condicionada, em que partidos políticos são arbitrariamente proibidos, e em que as minorias étnicas são reprimidas e oficialmente declaradas inexistentes. Um regime que ensina às crianças que educa o ódio pelos países vizinhos, considerando esta propaganda como condição necessária para a sua independência: os turcos porque foram a antiga potência colonial, por causa das guerras balcânicas e de 1921-22, por causa da divisão de Chipre e porque os "malvados" ficaram com Constantinopla e toda a costa Ocidental do mar Egeu); os búlgaros por causa da segunda guerra balcânica, da ocupação durante a II guerra mundial, e ainda por terem ficado com a zona de Pirin, que os gregos consideram como devendo ser sua; os albaneses por serem imigrantes pobres na Grécia e por, desfaçatez da desfaçatez, terem obtido aquando da sua independência duas cidades (Sarandë e Girokastër) que a Grécia considera serem cidades helénicas; os macedónios porque a Grécia entende ter direitos de autor sobre o nome do seu país, e porque vêm a pequena nação, com o seu exército mal equipado e onze vezes menor que o grego, desprovido sequer de aviação, como uma ameaça à independência e integridade territorial grega. Um regime fanático, corrupto, beato, autoritário, militarista, e podre por dentro.

O PASOK de Papandreou poderá ganhar as próximas eleições, mas faltar-lhe-há a vontade de reformar o Estado, baseado que está este numa estrutura de clãs que lhe é favorável. Não reformando o Estado, corre o risco de o poder cair na rua. Uma situação muito instável.

Comentários

andrepereira disse…
Ora. Muito obrigado pela explicação! É que tudo isto me estava a passar ao lado e não percebia as imagens de violência que chegam pela televisão...
Significa, então, que há uma "corte comunicacional" entre a população e o Estado? A República alienou-se dos cidadãos e vivem em mundos separados, agora reencontrados por uma "bala perdida" que matou o pequeno Alexis?
E quem diria, que no mesmo instante da História, mais a norte o Alexis II, patriarca da igreja ortodoxa russa, haveria de nos deixar?
Uma semana de grandes mudanças nos países ortodoxos, que merecem a maior atenção!
Rui Cascao:

Também, tal como o André, agradeço este esclarecedor post.

Num país onde a religião era obrigatoriamente mencionada no B.I, até há dois ou três anos, o autoritarismo é o corolário lógico de uma democracia imatura.

Os políticos ainda tomam posse em nome da Santíssima Trindade, apesar da recusa de alguns deputados socialistas (poucos).

A Grécia que foi o alfobre da democracia corre o risco de se tornar coveira.
e-pá! disse…
Um post extremamente didáctico!

Contudo, as circunstâncias envolventes da situação grega levam-nos a pensar no futuro da Europa.
E a interrogar-nos.

Como será possível construir uma UE, se no seu seio perduram crises do sistema democrático deste tipo?

Onde está a comunidade dos povos, convivendo numa Europa civilizada, desenvolvida economicamente, das conquistas sociais, berço de civilizações e centro de irradiação de cultura?

Como conseguir a cooperação política, institucional – chame-se, ou não, federalismo – a capacidade de influir no curso dos acontecimentos mundiais, se à sua porta se passam perturbações deste tipo?

Como tolerar que o sistema político esteja bipolarizado e manietado perante uma sociedade que se radicaliza e se torna violenta?

Como compreender um governo que é elogiado pela EU pelo controlo das finanças públicas, mas vive num mar de corrupção e na mais indigente ineficiência dos serviços públicos?

Como entender a longevidade de dinastias políticas como a das famílias Karamanlis e Papandreou?

Perante este quadro de que serve o Tratado de Lisboa?
Unknown disse…
eu queria uma imagem e que falassem só mais um poquinho sobre o lado negativo da Grecia trabalho escolar

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