Voos da CIA: o poder intangível, as ocultações e as revelações...
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[Conferência de Imprensa do Ministro Luís Amado, sobre os voos da CIA e as últimas revelações do WikiLeaks, publicadas pelo El País.].
Vamos lá a ver se nos entendemos.
Existiu uma Comissão de Inquérito Parlamento Europeu sobre este assunto. Realizaram-se - paralelamente - várias interpelações na Assembleia da República. O Governo assumiu uma posição firme e rígida negando veementemente que o espaço aéreo português tivesse sido utilizado para esses voos. Tudo começa com Freitas do Amaral e prossegue com Luís Amado que endurece a posição portuguesa, chegando a ameaçar com a sua demissão. Nos cables da embaixada dos EUA para o Departamento de Estado americano a posição de força manifestada por Luís Amado é analisada [no contexto político nacional] e apreciada [elogiada].
Provavelmente, o problema vêm mais de longe. Terá começado durante os Governos Durão Barroso / Paulo Portas que com duplicidade, sub-repticiamente e às escancaras [reunião da base das Lajes - Açores], apoiaram a invasão do Iraque. Portanto, uma situação herdada pelo governo presidido por José Sócrates com a qual não soube lidar. Prosseguiu, na ocultação dos factos, à revelia do movimento socialista europeu [que condenou a invasão do Iraque], preferindo não levantar ondas...
A realidade é que os voos em causa nem são passeios turísticos, nem acções militares contra Portugal. São voos ilegais porque serviam para transportar [pouco importa a questão formal de ou para Guantámano] suspeitos de terrorismo, sem uma acusação ainda definida, sem disporem de quaisquer meios de defesa. E mais grave, seriam eventuais deslocações de prisioneiros para Países onde se pratica a tortura e a pena de morte [ainda] vigora.
Uma grave ofensa à dignidade da pessoa humana [condição que prisioneiros e/ou terroristas continuam a desfrutar], i. e., a violação de um princípio basilar do Direito.
O problema não pode ser confinado aos meandros dos negócios secretos do Estado. Qualquer português quando for confrontado com a hipótese de que o seu País ter facilitado [para não dizer colaborado] nesta ignomínia, é motivo de profunda indignação. Que deve ser publicamente manifestada. Independentemente da censura que merecem as autoridades públicas nacionais que colaboraram e/ou omitiram factos tão graves [a vertente política].
Ninguém aceita, como inevitáveis, como factos consumados, argumentações do tipo que o Ministro Luís Amado produziu, ontem, na conferência de Imprensa: "Agora se houve voos secretos ou não houve voos secretos, essa não é uma questão que se coloque neste momento a Portugal...".
Não é despiciendo para a nossa segurança [a segurança tem sido a razão de Estado sempre invocada para limitar direitos individuais] que o governo português assuma que não tem controlo sobre o seu espaço aéreo. Ninguém acredita que não exista esse controlo.
O que de facto foi um imprevisto não são os voos realizados [intencionalmente omitidos ou não revelados] mas a divulgação de documentos que põem a nu esses factos.
Logo, o que correu mal em toda esta estratégia de ocultação foi a filtragem de cables diplomáticos divulgados pelo site WikiLeaks, facto que à data do inquérito parlamentar europeu era uma situação, de todo, imprevisível.
O poder cultiva o segredo, gosta de gerir silêncios e especular sobre omissões. Esses privilégios conferem [aos poderes] características de omnisciência [tal como reivindicam as religiões], possibilitando acesso a conhecimentos que não são visíveis, nem acessíveis, para os cidadãos.
O que de facto foi um imprevisto não são os voos realizados [intencionalmente omitidos ou não revelados] mas a divulgação de documentos que põem a nu esses factos.
Logo, o que correu mal em toda esta estratégia de ocultação foi a filtragem de cables diplomáticos divulgados pelo site WikiLeaks, facto que à data do inquérito parlamentar europeu era uma situação, de todo, imprevisível.
O poder cultiva o segredo, gosta de gerir silêncios e especular sobre omissões. Esses privilégios conferem [aos poderes] características de omnisciência [tal como reivindicam as religiões], possibilitando acesso a conhecimentos que não são visíveis, nem acessíveis, para os cidadãos.
Mas, se é concebível e justificável a existência de confidencialidade e secretismo em [algumas] questões de Estado [nomeadamente em assuntos militares e de segurança], tal refúgio não é aceitável em questões humanitárias.
E, no que diz respeito aos portugueses, o caso dos voos da CIA é, tão simplesmente, uma questão do Direito Português e Internacional e, finalmente, um assunto que encerra uma enorme - e sensível - carga humanitária.
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