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A mostrar mensagens de agosto, 2014

O Estado Islâmico e o pavor

Quando os celerados cruzados invadiram o Iraque, para abater um ditador laico, nunca pensaram que a mentira, que lhes serviu de pretexto, traria consequências tão trágicas. A inteligência de Bush, o maquiavelismo de Blair, a piedade de Aznar e o oportunismo de Barroso levaram a mais trágica sementeira do ódio ao mais fértil terreno da vingança, produzindo a crueldade e o pavor para cuja colheita se oferecem europeus e americanos, caucasianos e cristãos islamizados, numa alucinante sedução assassina. Depois da destruição do país e da desarticulação das forças que o aglutinavam, persistir na ocupação era agravar o desastre e sair, era apressar a tragédia. Derrubaram a ditadura laica, apoiada por sunitas, que oprimia os xiitas, para criar um estado teocrático onde os xiitas não prescindiram de oprimir todos e, em particular, os sunitas, até que se criaram os sunitas de laboratório, apostados em criarem um sangrento califado. A lei de Murphy cumpriu-se. Tudo o que podia correr mal, c

A complexa situação ucraniana ou um 'global' impasse…

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"Mirotvorcheskiy" é uma palavra russa que significa literalmente ‘manutenção da Paz’. Uma palavra com uma conotação distante e diferente do conceito ocidental de ‘pacificação’ atitude que, por cá, está reservada a acções humanitárias e de verificação do cessar-fogo, habituais no final dos conflitos bélicos. Será este conceito (‘mirotvorcheskiy’) que na frente diplomática está a ser invocado pela Russia para justificar a sua cada vez mais explícita intervenção militar na parte oriental (russófila) da Ucrânia, do mesmo modo que fez, em 2008, em relação à Geórgia. É cada vez mais nítido que a Rússia após a anexação da Crimeia debaixo dos brandos protestos do Ocidente (UE, EUA, NATO, etc.) necessita (economicamente e militarmente) de ter um acesso directo (terrestre) entre a penisula já conquistada [Crimeia] e a ‘Mãe Russia’, através da bordadura territorial que limita a Norte o Mar de Azov. Esta solução, ou este ‘arranjo’, permitiria à Russia controlar todo o mar de Azov

Notas soltas: julho/2014

José Sócrates – O político foi julgado três vezes em eleições e castigado nas últimas. A perseguição sistemática e os ódios de estimação, com acusações perversas, alimentaram o mito e anteciparam a reabilitação do inimigo que queriam enterrar. Banco de Portugal – A imagem do governador, retocada pelos ventríloquos do poder, depois de assegurar que a almofada financeira do BES era à prova do pior dos cenários, liquefez-se na incúria da atuação e na cratera esculpida em reiteradas fraudes. BES – Quando da auditoria do BP às empresas do grupo, Carlos Costa devia ter varrido logo a administração, mas aguardou que fosse Ricardo Salgado a encomendar o funeral e, assim, em vez de marcar a cirurgia, que era urgente, assistiu à autópsia do cadáver. Governo – À semelhança do BES, em que foi criado um Banco Mau e um Banco Bom, devia ter sido criado um Governo Mau, para absorver ministros tóxicos, e um Governo Bom, resultante de novas eleições, com todos os membros substituídos.

Bertolt Brecht, Mota Pinto e a Ópera dos Três Vinténs

Quando Paulo Mota Pinto, sem problemas éticos, suspendeu as funções de presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa (CFSIRP) para aceitar a sinecura de chairman do BES, pareceu que não restava mais um módico de pudor, um resquício de amor-próprio, uma noção vaga de serviço público no país que lhe concedeu uma reforma obscena aos quarenta anos como ex-conselheiro do Tribunal Constitucional. Nem o facto de ele ter votado o período de nojo obrigatório a quem exerce funções no SIRP, impedindo a entrada numa empresa privada com os segredos que detém, fez com que o chefe dos fiscais se sentisse vinculado ao que os fiscalizados estão sujeitos. A decadência ética tem acompanhado a dívida pública e, se a segunda chegou ao ponto de impagável, a primeira atingiu o ponto de não retorno. Brecht, na Ópera dos Três Vinténs, coloca-nos no Soho, bairro pouco recomendável de Londres, no século XIX, onde antecipa o Portugal venal, corrupto e marginal de h

O Islão misericordioso e o terrorista

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Corre por aí que há um Islão benevolente e outro terrorista. O primeiro é o que se baba de gozo nas madraças e aparece compungido em público em cada ato de violência pia, a reiterar a benevolência do Corão, a execrar o terrorismo e a reclamar a paz. O outro é o que ulula, crocita e uiva na rua islâmica por cada infiel decapitado ou adúltera lapidada. O Islão, o benevolente, oprime as mulheres, evita a modernidade e recusa a democracia. Ignora direitos humanos que o coíbam de cumprir a vontade de Alá e do Profeta, exulta com lapidações, folga com chibatadas e excita-se com decapitações. Não precisamos de olhar para o Islão terrorista, basta-nos o benévolo, aquele que há vários séculos impede, onde conquista o poder, que alguém despreze a religião ou tenha qualquer outra. Os povos não são dementes, é o Islão que, à semelhança de outras religiões, contém em si o germe do crime. O terrorismo é a aplicação dos preceitos do livro sagrado contra os infiéis e a crueldade o método presc

A ‘golpada’ imoral…

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A golpada do PSD-Madeira à volta de um regime excepcional, com piedosos laivos pretensamente 'autonómicos', para o ensino de educação moral e religiosa naquela Região, não passou no Tribunal Constitucional link . De facto, as forças retrógradas não desarmam. Agora, o pretendido, no diploma emanado da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira (ALRAM), seria o enveredar pelo campo da omissão (permissão) esquecendo que a regra do Estado Português é outra, i. e., a laicidade como consequência da Liberdade.  Esta tentativa de inversão da ordem de valores democráticos e republicanos concebendo como ‘natural’ a educação religiosa 'universalmente' (regionalmente!) aceite e a excepção (a ‘desobriga’) como um privilégio individual carente de requisição, teve uma resposta adequada do TC. Num Estado democrático o que, de facto, poderia existir em substituição desta anacrónica disciplina seriam aulas de Educação Democrática. Espaço formativo onde se abord

Espanha – movimento eclesiástico

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Enquanto o arcebispo de Valência vai para Madrid, onde substituirá o cardeal franquista Rouco Varela, de 78 anos, Antonio Cañizares (na foto) regressa de Roma onde tem sido prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, desde 2008, para presidir à diocese de Valência.

Orçamento Rectificativo 2014: sol de pouca dura…

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O Orçamento Rectificativo apresentado hoje pela ministra Maria Luís Albuquerque link , em nome do Governo, mais parece uma peça de teatro do absurdo. Primeiro, criou-se a ideia, através de um habitual porta-voz das medidas em incubação link , de que estaria na calha mais um aumento de impostos, nomeadamente, sobre o consumo. Assim, alimentou-se, no inconsciente colectivo, a quase inevitabilidade de mais dificuldades para muitos portugueses. Depois, segue-se uma vulgar acção de propaganda. Afinal, o País está bem e os cortes do Tribunal Constitucional ocorridos em Maio e os de Agosto não perturbam o défice nem a estabilidade política como anunciou um alto responsável da bancada parlamentar do PSD link . O Governo diz porquê: pôs o País a crescer e diminuiu as prestações sociais porque baixou a taxa de desemprego. Na verdade, o crescimento não será assim tão notório e com o arrastar da crise muitos dos desempregados vão perdendo os subsídios que têm até aqui usufruído por

A luta interna no PS

Tenho procurado não me intrometer na legítima luta pela liderança do PS embora tenha a esse respeito ideias formadas sobre a capacidade de cada concorrente. Penso que é um assunto interno do partido, apesar da importância para o país. Surpreende-me que, na urgência de substituírem o Governo e o PR, que qualquer crente pensa serem castigo divino, apelem a simpatizantes, alargando possibilidades de fraude, tradição do universo partidário, desde os financiamentos às chapeladas eleitorais internas. O que me surpreende é a indigência mental dos que, em vez de atacarem o Governo que nos desgraça, se excitem nos ataques a quem julgam afastá-los da gamela ou da sinecura num ódio violento e numa irracionalidade primária. Um partido com estes militantes cria aversão aos indiferentes e desconfiança de muitos simpatizantes. Imaginemos que os arruaceiros conquistam lugares de destaque e que o País terá de suportar tamanha incultura, ódio recalcado e boçalidade. Manda a prudência evitar o voto

Factos & documentos

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FRANÇA: Emmanuel Macron mais um rosto da indisfarçável deriva...

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  Macron rumo a 'Bercy' Se uma justificação fosse necessária para fundamentar a ‘deriva liberalizante’ do Governo de François Hollande, encabeçado pelo ‘socialista de Direita’ Manuel Valls, a substituição do anterior ministro da Economia [Arnaud Montebourg] por Emmanuel Macron é extremamente reveladora.  Trata-se de estimular o tal ‘Pacto de Responsabilidade’ que ‘atribui’ 40 mil milhões de euros às empresas que, registe-se, foi entusiasticamente aplaudido pela confederação patronal Movimento das Empresas de França (MEDEF) link . Valls prossegue este errático caminho ‘liberal’  na ‘militante’ esperança que essas poupanças, extorquidas aos contribuintes franceses e às prestações sociais, não vão parar directamente aos bolsos dos accionistas em dividendos e - pelo contrário - estimulem o crescimento, aumentem a competitividade e façam diminuir o desemprego galopante, o Presidente francês foi descobrir [no seu ‘inner circle’ do Palácio do Eliseu] um ex-banqueiro de

A Sandoz e o negócio de diamantes em Coimbra (Crónica)

No ano de 1976 já se tinham desvanecido os ecos da mais idiota e injusta das greves que o pequeno educador da classe operária, Chaves Alves, tinha conseguido fomentar numa multinacional cuja autogestão exigia – segundo disse à imprensa –, ávida de agitação e a que não faltavam declarações de idiotas úteis e provocadores convictos. Ajudou-o na tarefa o Cabral da Costa, que tinha maior amor à greve do que à gramática, que maltratava, e que deu origem à dupla Chabral da Costa. Para gerir, havia máquinas de escrever, pastilhas, supositórios e xaropes, vindos da Suíça, onde o operariado jamais se solidarizou com a vanguarda Chabral. A euforia e o medo de passar por reacionário permitiram suportar a coação psicológica a que nem o António Gonçalves, respeitado pelo passado de resistente, durante a ditadura,  logrou pôr cobro. Até ao dia em que a fadiga e o impasse deixaram o líder sem tropas. A Sandoz ocupava um lugar destacado na indústria farmacêutica e decidira manter dois grupos pro

Salazar – Quarenta e quatro anos depois

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A morte, na cultura judaico-cristã, é o detergente que limpa todas as nódoas, a lixívia que desencarde o mais negro dos passados e a circunstância que transforma um crápula numa pessoa de bem. Em 1970, no dia de hoje, exalou o último suspiro o vil ditador que vegetava desde 3 de agosto de 1968. Mais de 40 anos de partido único, de perseguições, de julgamentos sem culpa formada, no país que manteve beato, tímido e analfabeto, deram lugar às lamúrias das carpideiras contratadas, dos cúmplices do regime e dos esbirros da ditadura. Em Lisboa houve bailes de ação de graças, foguetes a sul do Tejo e alívio generalizado de quem via no cadáver adiado a peçonha de décadas do país «orgulhosamente só». O tom laudatório da imprensa, sujeita a censura prévia, destoava do alívio generalizado e do regozijo silencioso. A encenação da dor coletiva foi percursora da de outros biltres que morreram na cama. Os telegramas de condolências do genocida Francisco Franco e de Paulo VI foram anunciados c

26 de agosto – efemérides

1789 – A Assembleia Constituinte francesa aprova a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. (Fizeram mais os deputados franceses num só dia do que todos os clérigos desde que o deus de cada um deles criou o Mundo). 1931 – Tentativa de golpe de Estado em Portugal contra a ditadura. (Há azares que se pagam durante duas gerações. Este levou quase 43 anos a reparar). 2004 – O Supremo Tribunal do Chile retirou a imunidade ao antigo ditador Augusto Pinochet. (Vale mais tarde do que nunca).

Aurélie, s'en va...

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A carta escrita pela Ministra da Cultura e Comunicação francesa, Aurélie Fillippetti, e enviada ao presidente François Hollande e ao primeiro-ministro Manuel Valls,  foi ontem publicada no jornal Le Monde   link merecendo ser lida e analisada. Nessa carta aberta estão estampadas questões fundamentais que inquinam o programa político do Governo Francês (questões de lealdade aos ideais e compromissos eleitorais) mostram que a actual crise interna em França não se resolve com remodelações governamentais.  O balanceamento entre Solidariedade , Responsabilidade e Lealdade está bem presente no conteúdo do documento tornando-se esta trilogia político-partidária importante mas prioritariamente condicionada por uma outra impressa no cabeçalho da referida carta ( Liberdade , Igualdade e Fraternidade ).  A desilusão que está patente ao longo de todo o texto desta carta é reveladora do modo como a liderança e o desempenho do Governo do Presidente Hollande desmotivou alguns ‘ compag

Política, guerra e dignidade

Não esqueço a imprudência e maldade que levou a Alemanha e o Vaticano, na ânsia de atraírem a Croácia e a Eslovénia, católicas, a desintegrarem a Jugoslávia, empurrando a Europa para a cumplicidade na aventura. Depois, não sei se a Europa se converteu em joguete, cúmplice ou instigadora dos EUA no estímulo à falhada aventura da Geórgia e, depois, à destabilização da Ucrânia, numa provocação à Rússia cuja proximidade da NATO abomina, naturalmente. A indiferença perante as minorias russas, numa espécie de vingança póstuma da URSS, leva a União Europeia, por conta própria ou a mando alheio, a lançar-se em aventuras a que falta uma diplomacia comum, visão estratégica, potencial bélico e razoabilidade. Colocar Putin, que os interesses europeus deviam tentar seduzir e não hostilizar, entre a capitulação e a agressividade, é um jogo que revela a falta de inteligência e temeridade com que a UE reincidiu na Sérvia, criando o entreposto da droga e da Jihad no Kosovo. Dito isto, não posso

Hollande, Montebourg e a ‘tempestade’ anunciada…

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O Governo francês demitiu-se em consequência de duras críticas tecidas pelo (ex)Ministro da Economia, Arnaud Montebourg , acerca das políticas de austeridade que fustigam a França e a Europa. Classificou os 'profetas da austeridade' (Merkel?) como os responsáveis pela crise económica europeia e os promotores de sacrifícios inúteis   link .   A esquerda do PSF está em polvorosa. Muita gente bate a porta a Francois Hollande que fica, cada vez mais, isolado e prisioneiro do ‘liberalismo socialista’ que poderá 'desbaratar' a actual maioria na Assembleia Nacional. Um dos mais virulentos ataques a Hollande partiu de Jean-Luc Mélenchon , antigo candidato presidencial, oriundo da área socialista e fundador do Partido de Esquerda que, em declarações proferidas há 2 dias em Grenoble, considerou o actual presidente ‘pior’ do que Sarkozy link .   A Direita, neste momento, liderada de facto pela FN de Marine Le Pen perdeu todo o respeito ao presidente francês e pede a

Do Médio Oriente a Cascavel…

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Penitenciária de Cascavel, Paraná, Brasil A decapitação do jornalista James Foley às mãos de um súbito britânico sob o comando do megalómano ‘ califa ’ Abu Bakr al-Baghdadi, putativo chefe de um mítico Estado Islâmico, suscitou uma onda de indignação e levantou questões ainda por resolver no combate ao terrorismo. A conotação entre estes extremistas religiosos e o Islão na sua vertente sunita, facção wahabita (salafista) é fácil de estabelecer o que foi, de imediato, a conclusão no Ocidente, a reboque de ilações directas, mas superficiais. O que não interessa é saber quem financia o trágico e pretensioso califado. A Arábia Saudita é um parceiro energético insubstituível e um ‘aliado’ do Ocidente e o Qatar um mediador silencioso e eficaz para a libertação de alguns prisioneiros (Theo Curtis, p. exº.) . A bárbara e selvática execução do jornalista norte-americano mais do que indignou, chocou o Mundo, em termos humanitários e civilizacionais, modificou a sensibilidade e a tole

A esquerda e a laicidade

O pensamento de esquerda, foi-se estruturando desde o Renascimento, teve o apogeu no Iluminismo e tornou-se o motor das transformações sociais, económicas e políticas que conduziram à modernidade. Não vale a pena negar as violências cometidas e crimes em que imitou o absolutismo monárquico. Nunca a ideologia nobre se conseguiu emancipar da herança que rejeitou. Os direitos humanos devem mais à Revolução Francesa, com a violência praticada, do que a séculos de poder absoluto, de origem divina, onde o despotismo nunca foi alheio. A esquerda que não consegue fazer a autocrítica deixa de ser ideologia e passa a crença. A esquerda, humanista e plural, tem um património recente, mas é a herdeira da melhor tradição e dos mais nobres ideais. Logrou, aliás, civilizar alguma direita e convencê-la a defender os seus princípios fundamentais, com exceção do modelo económico. A liberdade de expressão e de reunião, a igualdade de género e a defesa do Estado de direito, são hoje um património co

Homenagem a Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti

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Hoje, 23 de Agosto de 2014, cumprem-se 87 anos que Sacco e Vanzzeti foram mortos por eletrocussão, nos EUA. A sua inocência é inquestionável. Cinquenta anos depois da sua execução em 1927, a justiça americana reconheceu o erro e declarou-os inocentes. Foram executados porque eram anarquistas e emigrantes. Assassinados pela intolerância política (o juiz considerou não comprovada a acusação mas antes "inimigos das instituições") e porque eram italianos (num clima de histeria xenófoba), são mártires que interpelam sobre a xenofobia e a macabra pena de morte.

Os tortuosos caminhos da fé

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Quando alguém se converte, na política ou na religião, é um herói. Se deserta, é traidor. É deste maniqueísmo que se alimenta o poder e se forjam os juízos morais. Há quem morra por um mito e mate por uma utopia, quem se imole na apoteose da fé ou assassine na esperança de uma vida melhor de cuja existência não há o menor indício ou a mais leve suspeita. Se um pobre, embrutecido pelo álcool e com o raciocínio embotado pela fome, mata ou rouba, é um criminoso. Se um indivíduo é impelido para a barbárie pela demência da fé e a crença na eternidade, é um mártir. É demasiado ténue a diferença entre a abnegação e a estupidez, a linha que separa o herói do pusilânime, e subtil o motivo que provoca a raiva ou o afeto. A moral é a ciência dos costumes e não a vontade de um ser imaginário. Os homens de hoje são mais humanos do que os seus antepassados e repugna-lhes executar a vontade de um ente irreal em cuja crença foram fanatizados desde crianças. Essa evolução feita com o sangue dos

O BES BOM e o logotipo

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Só quem desconhece a vida curta das borboletas podia aceitar uma como o logotipo do NOVOBANCO. A opção por um lepidóptero que passa por metamorfoses, que na fase de lagarta é voraz e na adulta vive entre duas semanas a três meses, só podia ser tomada por quem aprecia larvas antes de se tornarem crisálidas e se fixa na cor sem ter em conta a longevidade. Não ocorreu ao decisor que não é por terem dois pares de asas que as borboletas voam mais depressa.  Ou então estava a pensar na espirotrompa com que sugam o néctar mas, para isso, não precisamos de borboletas, já temos este Governo há três anos.

De mal a pior

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O Islão é pacífico

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O Estado Islâmico é perigoso mas o estado do islamismo é trágico

Médio Oriente: o ‘tirocínio churchilliano’…

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O bárbaro assassínio no Iraque de um jornalista norte-americano perpetrado pelo chamado Exército Islâmico (EI), aparentemente tendo como carrasco um súbito britânico exportado para a ‘guerra de libertação’ da Síria, indignou o mundo civilizado mas, paralelamente, levanta várias questões políticas de fundo link . Sejamos claros: quando o ‘Ocidente’ numa santa aliança com a Turquia e alguns países do Golfo resolveu apoiar na Síria a insurreição contra Bashar Al Assad nunca acreditou que os rebeldes tinham como intenção instaurar aí uma democracia do ‘tipo ocidental’. Fizeram-no sem medir consequências mas elas, infelizmente, estão à vista. Efectivamente, tudo começou nas ‘primaveras árabes’, mais concretamente na Líbia, onde a OTAN desempenhou um papel fundamental no armamento de grupos rebeldes que não eram mais do que facções fundamentalistas. Hoje, no Iraque (Levante?), perante o histórico e convulsivo conflito entre xiitas e sunitas que parece não ter solução política (em B

A imigração vinda do Magrebe

Vêm do lado de lá do lago que une a África e a Europa e separa os europeus e africanos. Chegaram do corno de África, das savanas improdutivas e sobretudo fugidos das areias que os empurram em busca de água e alimentos, das areias que lhes cobrem as magras pastagens e desertificam o habitat. Uns cruzaram o continente, outros abalaram de mais perto, com a família a ser pasto de corvos depois de esquartejada à catanada a mando de senhores tribais. Fogem das guerras que os dizimam, das epidemias que os procuram e da fome que vive com eles. São párias da terra, nascidos do instinto e destinados a morrer crianças, numa perpetuação de velhas escravaturas e novas tragédias, onde poucos se tornam adultos e raros se libertam das grilhetas. Morrem porque não deviam ter nascido ali, por fazerem rituais diferentes ou porque há sítios onde não se pode nascer. Há mães que deixam para trás os filhos que já não aguentam a caminhada, pasto de aves necrófagas, desoladas por não poderem morrer com os

Vade-retro União Nacional

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Há 82 anos (1932) foram publicados os estatutos da União Nacional (UN), a única força política autorizada em Portugal, durante a ditadura fascista. Quem nunca viveu o horror de um partido único, o cinismo de um frio ditador e o poder discricionário de um regime terrorista, pode pensar que era honesto o crápula e inocente o ideólogo. Quando o general Humberto Delgado foi assassinado pela PIDE, em Espanha, ele e sua secretária, o ditador foi à televisão garantir que os autores do crime eram os comunistas. Quando o maior escândalo sexual do regime teve lugar, com ministros, generais e altos dignitários eclesiásticos, o antigo seminarista e presidente do CADC proibiu as notícias e a investigação policial e judicial. O regime não pode ser avaliado apenas pelo número dos que prendeu, torturou e matou, mas pelos que deixou morrer e, sobretudo, impediu de viver. Caxias, Tarrafal, Peniche, Aljube e Campo de S. Nicolau foram alguns dos mais perversos centros de tortura onde penaram intel

A náusea que impede as palavras

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Há momentos em que as palavras estão a mais http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKBN0GI20T20140818 Gritos de mulheres e crianças enterradas vivas atormentam refugiados no Iraque | Mundo | Reuters Por Humeyra Pamuk DAYRABUN, Iraque (Reuters) -... BR.REUTERS.COM

Efemérides amargas de duas décadas de horror – 19 de agosto

1934 – Um plebiscito ratifica Adolfo Hitler como führer da Alemanha; 1936 – Os sequazes de Franco fuzilaram o poeta Garcia Lorca; 1948 – A polícia fascista de Salazar, durante a campanha presidencial, cercou a casa do candidato Norton de Matos e prendeu os participantes da reunião com o general; 1954 – Os dirigentes do Movimento Nacional Democrático, Ruy Luís Gomes, Virgínia de Moura, José Morgado, Albertino Macedo e Lobão Vital foram presos pela PIDE. Não há ditaduras eternas e, mais frágeis, não se perpetuam as democracias. Há quem se esqueça das tragédias que nos bateram à porta e não pense naquelas que nos espreitam, na crueldade que se abateu sobre a Europa, na demência que a infetou e no sangue que a ensopou. Hoje, quando condições idênticas parecem convidar a soluções análogas, a experiência histórica devia substituir a memória dos que não viveram a tragédia nem tiveram mortos para chorar. Nunca tão dramática hecatombe tinha sido provocada pelos homens. Foi o maior hor

Passos Coelho e Pires Veloso

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O falecimento do general Pires Veloso deu origem a alguns comentários sobre a personalidade deste militar e o 25 de Novembro de 1975 link ; link . Vasco Lourenço, no DN, definiu o papel de Pires Veloso – nesse período conturbado no desenvolvimento do 25 de Abril - como “muito controverso” link o que está de acordo com a vivência dos acontecimentos e revela um ‘saber de experiência feito’ . Continua a faltar, contudo, o necessário distanciamento histórico para uma descrição rigorosa e objectiva dos acontecimentos colectivos, ou de ‘grupos’, actuantes no 25 de Novembro, apesar da abundante ‘literatura’ já publicada, facto que condiciona o avaliar de comportamentos e desempenhos individuais e a expressão utilizada pelo actual presidente da Associação 25 de Abril e, na altura, recém-nomeado comandante da Região Militar de Lisboa, demonstra isso mesmo. Por outro lado, o actual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho que, na altura dos acontecimentos era um imberbe rapaz com

O Opus Dei é diferente da Al-qaeda

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Há na Igreja católica uma organização que, por enquanto, trocou o cinto dos explosivos pelo cilício, a Bíblia pelos 999 pontos para a meditação, a liberdade pela censura e a fé pelo poder. Substituiu o Espírito Santo, a quem era atribuída a maçada de iluminar os conclaves, na eleição de João Paulo II e de Bento XVI, a quem subsidiou, sobretudo ao primeiro, as atividades políticas e o marketing pessoal. O Opus Dei é, sem esquecer a «Comunhão e Libertação» e os Legionários de Cristo, a seita mais reacionária da catolicidade e a mais poderosa financeiramente. Deve-se-lhe a obsessão na criação de santos, a começar pelos da casa, e a acabar em todos os mártires que combateram ao lado das ditaduras. Em Espanha, faltam altares para tantos defuntos franquistas. O «Caminho» é para os membros da seita o que o Mein Kampf foi para o nazismo. Os 999 pontos para a meditação é o número cabalístico com que santo Escrivá remeteu para o 666 do Apocalipse. É a besta de patas para o ar. Os membros

A frase

[Sobre o BES] «Não há matéria para se criar uma comissão de inquérito. É um aproveitamento político por parte do PCP». (Pedro do Ó Ramos, vice-presidente da bancada do PSD)

Capa para um livro que virá ou não

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A. P.

A lucidez de Pacheco Pereira

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Passos Coelho e a festa do Pontal

O Pontal é, na liturgia do PSD, a Festa do Avante dos pequeninos, de sinal contrário, e uma espécie de Chão de Lagoa continental, sem poncha, porque o fígado dos líderes nacionais não tem o tirocínio de Coimbra e quatro décadas de experiência madeirense. Hoje não tem o esplendor de outros tempos, nem um orador que entusiasme os devotos com o fulgor de outros líderes e os resultados de outra governação. Se não faltou gente é porque os devotos foram supridos por avençados, a vida está difícil, e os empregos são cada vez mais raros. Passos Coelho a falar de ética parece a honorável Cicciolina a perorar sobre a castidade; a pronunciar-se sobre a governação, a Maia a predizer o futuro; a evocar os chumbos do Tribunal Constitucional, um delinquente a invetivar os tribunais. O putativo PM fez birra e ameaçou desistir de governar, como se soubesse o que isso é, sem sugerir a demissão ou assustar, dessa forma, os favoritos das sinecuras que reparte. Apelou ao consenso com a sinceridade de

O drama pungente dos Yazidis

No norte do que foi o Iraque, que os cruzados de Bush, Blair, Aznar e Barroso deixaram à mercê das lutas tribais e de ódios religiosos, num país com balcanização adiada, há um povo que pratica uma exótica religião curda, de vetustas raízes indo-europeias e que crê na metempsicose. São pobres e, ao contrário dos prosélitos, não procuram converter ninguém, passando as almas entre si por herança geracional, numa síntese de crenças com resquícios de islão, cristianismo, zoroastrismo, judaísmo e maniqueísmo, uma sopa de culturas que parece fundir as mais diversas crenças numa fé restrita para uso doméstico. Podem encontrar-se comunidades na Arménia, Turquia ou Síria mas estão a desaparecer na emigração ou agarradas aos rebanhos no Monte Sinjar, onde os trogloditas do Estado Islâmico desejam assassiná-los, porque a pequena seita ligada ao iazdanismo, resistiu ao Islão durante séculos ou, tão só, porque o gosto do sangue é o cimento da restauração de um anacrónico califado de crentes sect

O equívoco pronunciamento no calçadão de Quarteira …

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Calçadão de Quarteira Ontem, no calçadão de Quarteira, num suposto convívio partidário que ainda se julga no Pontal, o primeiro-ministro deu discretas mostras de ter compreendido alguma coisa (penso que pouco) do que tem sido a jurisprudência maioritária que impera nas decisões do Tribunal Constitucional (TC). Isto é: o ajuste orçamental não deve ser feito à custa de cortes cegos nos salários dos trabalhadores da função pública e nas pensões baseado no entendimento constitucional acerca da “equidade e solidariedade”, quadro com amplos reflexos políticos, sociais e económicos que Passos Coelho confessadamente não entendeu mas foi forçado a aceitar ao fim de nove ‘chumbos’ link . Esta ‘guerrilha’ (repetidamente desmentida pelo Governo) teve elevados custos que não tardarão a emergir dentro da sociedade portuguesa e que são totalmente injustificáveis quando centradas em comportamentos erráticos, como a teimosia. Na verdade, o concerto orquestrado com a colaboração da UE, BCE e FM