ÉBOLA: Algumas considerações...
A virulenta epidemia de ébola que presentemente assola a África Ocidental e ameaça o Mundo - conforme reconheceu a OMS ao dar-lhe o estatuto de ‘emergência sanitária internacional’ link - manteve-se sempre acantonada ao (interior) continente africano desde o primeiro surto conhecido (1976), que provocou 431 mortes (oficiais). Daí para cá ocorreram novos surtos sendo os mais relevantes os ocorridos nos anos de 1995, 2000 e 2007, e que originaram várias centenas de mortes.
Todos estes surtos decorreram de modo mais ou menos 'silencioso' já que tratava de mais uma epidemia que fustigava um continente ‘sofredor’ e sanitariamente 'indefeso' onde as situações gravosas de saúde pública são para controlar (atenuar) pontualmente (essencialmente os efeitos colaterais nos outros continentes) e não para erradicar. Para entender estas circunstâncias basta olhar para o problema da malária que fustiga este continente há séculos.
Depois, e concomitantemente, existe todo o lastro cultural e as crenças anímicas (entre elas as superstições) dos povos africanos que decididamente não ajudam a resolver questões que para o Mundo são de saúde pública. O vírus do ébola sobre o qual se conhece a cadeia de transmissão (embora com algumas lacunas) será para muitos destes povos um acidente ‘natural’ de Agosto, o mês em que - segundo a tradição cultural da África Ocidental – os “diabos andam à solta”.
Porém, alguma coisa, neste novo surto, está a correr mal e que ultrapassa a ritualidade africana. Trata-se da contaminação dos grandes centros urbanos africanos o que associada à mobilidade interna das populações, fruto do subdesenvolvimento e da pobreza, o que torna as medidas de prevenção, de âmbito estrictamente sanitário, ineficazes. Um dos factores determinantes da componente ritual são as cerimónias fúnebres destas populações de África onde o manuseamento dos cadáveres é a regra (difícil de abandonar). Segundo a tradição em vigor nesta região do globo os familiares do falecido deverão lavar o corpo e preparar o cadáver para ser exposto o que facilita a contaminação.
Por outro lado, as cidades (nomeadamente as capitais) da África Ocidental são hoje pontos de trânsito para muitos negócios já que se tratam de locais produtores de matérias-primas, importantes para o comércio internacional. São nestes centros urbanos que, eventualmente, poderá instalar-se uma espécie de caixa-de-ressonância epidemiológica. E será esse o motor remoto das presentes preocupações internacionais acrescida à possibilidade deste surto ter uma duração superior à habitual dada a galopante infestação urbana.
Embora a sua disseminação para o resto do Mundo não seja previsível, nem esperada, já que o reservatório natural do vírus são os morcegos frugívoros com habitat nesta região africana, o controlo das vias de contaminação por contacto com fluidos fisiológicos continua, no terreno, a ser difícil e encerra algumas surpresas.
Quando se olha o mapa de recursos instalados no terreno (Laboratórios e Unidades Hospitalares) é fácil observar que só a Serra Leoa tem alguma cobertura e mesmo assim concentrada na faixa fronteiriça com a Libéria.
Na realidade, a contenção do actual surto passa por medidas de controlo nos locais de residência do hospedeiro nomeadamente a ingestão de carne de macaco como sugerem algumas ONG (os morcegos são portadores sãos) mas fundamentalmente por melhores e adequados (em relação aos padrões culturais) circuitos de informação junto das populações locais e intensificar a formação de técnicos sanitários residentes. Muitos dos autóctones, potenciais alvos de infecção, não acreditam na existência do vírus, nem compreendem os mecanismos de contágio. Algo de semelhante se passou, também em África, em relação ao vírus da SIDA.
Mais, muita outra gente, acredita que o pessoal de saúde voluntário (oriundo do estrangeiro) a trabalhar no debelar deste surto poderá ser a causa do mesmo. Há, no entendimento indígena, uma relação directa, aparentemente com nexo causa-efeito, entre a presença de equipas de auxílio internacional e a recrudescência da epidemia que terá de ser esclarecida e desmistificada. Todavia, o que não deve (nem pode) voltar a acontecer é quando chegarmos a Novembro ou Dezembro e o actual surto estiver debelado ou atenuado estes intervenientes sanitários (estrangeiros) regressarem aos seus laboratórios (europeus e americanos) para só reaparecerem daqui a 1 ou mais anos se acaso surgir um novo surto…
Mais, muita outra gente, acredita que o pessoal de saúde voluntário (oriundo do estrangeiro) a trabalhar no debelar deste surto poderá ser a causa do mesmo. Há, no entendimento indígena, uma relação directa, aparentemente com nexo causa-efeito, entre a presença de equipas de auxílio internacional e a recrudescência da epidemia que terá de ser esclarecida e desmistificada. Todavia, o que não deve (nem pode) voltar a acontecer é quando chegarmos a Novembro ou Dezembro e o actual surto estiver debelado ou atenuado estes intervenientes sanitários (estrangeiros) regressarem aos seus laboratórios (europeus e americanos) para só reaparecerem daqui a 1 ou mais anos se acaso surgir um novo surto…
Hoje, sabe-se que o vírus do ébola sofreu uma nomadização continental (africana). Tendo começado (revelado) na África Central (Gabão, R.D. Congo, Uganda, Sudão do Sul) ‘deslocou-se’, neste último surto, para a África Ocidental (Guiné, Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim, Nigéria).
Mas sabemos mais: morcegos do mesmo tipo – portadores (sãos) de anticorpos anti-vírus do ébola - foram referenciados no Bengaladesh e na China…
Mas sabemos mais: morcegos do mesmo tipo – portadores (sãos) de anticorpos anti-vírus do ébola - foram referenciados no Bengaladesh e na China…
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