Paulo Mota Pinto, um pilar da ética

Se tivesse um módico de pudor, não seria preciso esperar pela sinecura no BES para Paulo Mota Pinto renunciar a todos os lugares políticos.

Um ex-conselheiro do Tribunal Constitucional que, segundo creio, usufrui uma reforma vitalícia, superior ao vencimento de ministro, não viu inconveniente em tornar-se CEO do BES, sendo presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa (CFSIRP).

A indicação feita por um ex-ministro da Propaganda, como Sá Carneiro designou esse maquiavélico ideólogo da direita portuguesa – Proença de Carvalho –, teria alertado um homem cuja ética não variasse na razão inversa do peso corporal.

Paulo Mota Pinto não viu incompatibilidade entre as sensíveis funções que ocupava e as que aceitava, apesar de, no dia em que foi conhecida a sinecura, ter votado um período de nojo para que um colaborador dos serviços secretos possa aceitar uma relação laboral com uma empresa privada. A confiança de Ricardo Salgado bastava para se sentir mais limpo do que um pecador contumaz após a absolvição de um padre.

O aspirante a banqueiro, «cancelando todas as atividades no âmbito destas funções», já se julgava sem problemas de consciência, algo que cada vez menos se sabe o que é e para que serve.

A queda em desgraça de Ricardo Salgado impediu-o de disfrutar a avença e de se iniciar na banca. Perdeu uma «pipa de massa», na pitoresca expressão de outra referência ética do PSD, especialista em armas químicas, Durão Barroso.

Pensar-se-ia que Mota Pinto renunciasse irrevogavelmente à presidência do CFSIRP ou, não tendo a noção da incompatibilidade entre as funções que ocupava e aquelas a que se propunha, o PSD o dispensasse.

Como se nada tivesse acontecido, o homem de confiança de Proença de Carvalho e de Ricardo Salgado, regressa às funções que, em boa verdade, não abandonou. Só «cancela o cancelamento das atividades», presidente do CFSIRP.

Talvez sejam os pruridos republicanos que convivem mal com a decadência ética de um país onde banqueiros são casos de polícia, à solta. O resto é a moral vigente.

Comentários

Agostinho disse…
Para os inimputáveis vale tudo. Para mais, se o homem já foi membro do TC é certo e garantido ter idoneidade para qualquer tipo de cargo público. Deve ser portador de bula que o isenta de qualquer tipo de intenção pecaminosa ou suspeita.
e-pá! disse…
Há um ditado popular que se encaixa na personagem:
"Quem muito se abaixa, a calva lhe aparece".
E a calva pode ser substituída por outra palavra...

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