Política, guerra e dignidade

Não esqueço a imprudência e maldade que levou a Alemanha e o Vaticano, na ânsia de atraírem a Croácia e a Eslovénia, católicas, a desintegrarem a Jugoslávia, empurrando a Europa para a cumplicidade na aventura.

Depois, não sei se a Europa se converteu em joguete, cúmplice ou instigadora dos EUA no estímulo à falhada aventura da Geórgia e, depois, à destabilização da Ucrânia, numa provocação à Rússia cuja proximidade da NATO abomina, naturalmente.

A indiferença perante as minorias russas, numa espécie de vingança póstuma da URSS, leva a União Europeia, por conta própria ou a mando alheio, a lançar-se em aventuras a que falta uma diplomacia comum, visão estratégica, potencial bélico e razoabilidade.

Colocar Putin, que os interesses europeus deviam tentar seduzir e não hostilizar, entre a capitulação e a agressividade, é um jogo que revela a falta de inteligência e temeridade com que a UE reincidiu na Sérvia, criando o entreposto da droga e da Jihad no Kosovo.

Dito isto, não posso deixar de repudiar a atitude dos separatistas russos da Ucrânia que, na região que dominam, num espetáculo indecoroso, fizeram desfilar numa avenida de Donetsk, soldados ucranianos, de mãos atadas atrás e escoltados por baionetas, por entre insultos e chacota da populaça. Anteontem, a boçalidade dos carcereiros fez alterar a minha simpatia a favor das vítimas.

Não bastou prender dezenas de soldados, o que, neste caso, se compreende, desejou-se a humilhação, a exibição gratuita e grotesca de quem, não tendo armas, merecia respeito.

Não há causas que resistam à boçalidade de quem, não sabendo respeitar os adversários, perde o respeito por si próprio e a simpatia de quem entendia a sua razão e aspirações.

Comentários

e-pá! disse…
Os prisioneiros ucranianos foram submetidos a um ritual estalinista onde não faltaram os 'higienizantes' jactos de água a fechar a manifestação.
É cada vez mais visível que, no conflito da Ucrânia, existe - em ambos os lados - um extemporâneo ajuste de contas com a ex-URSS [cujo 'colapso' ocorreu há mais de 2 dezenas de anos].
Este retrocesso não augura nada de bom...
Essa é a leitura que muitos opinantes deviam fazer, e-pá. Evitavam asneiras derivadas dos preconceitos. De um lado e de outro.

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