A morte de um jihadista português
A morte, para quem acredita na vida, única e irrepetível, é sempre uma perda dramática, mas dou por mim a interrogar-me porque me é indiferente a deste jovem obcecado por «72 virgens e rios de mel doce» que um pregador do ódio lhe prometeu.
Como é possível que, condenando a pena de morte, me sinta alheio a esta e ao tormento do terrorista de Deus, o desgraçado que trocou os prazeres da vida pelo ódio à liberdade, à alegria e ao prazer?
Quem aprendeu na ditadura a virtude da santidade, do martírio e de outras aberrações, já não tem espaço para respeitar as opções de quem ensandece com uma homilia, se excita com um assassinato e desvaira por uma crença.
A morte nunca é sublime. Um cadáver, por melhor aspeto que aparente, vale sempre menos do que um corpo com uma cabeça que ama, pensa e sofre.
Na apoteose da demência há sempre quem expire antes da próxima morte que deseja, o percalço de quem se bate por um mito ao serviço de tribos medievais que no primarismo dos seus patriarcas têm horror a que o Planeta se mova.
O terrorista que cai no campo de batalha, não morre, sofre um acidente de trabalho pio.
Comentários
A esta hora está refastelado em belos coxins de seda, apaparicado por 72 virgens mal-tapadas por um véu, a mordiscar belas uvas andaluzas.
Parece que as 72 virgens se deve a um erro de tradução que queria dizer «Passas de uvas doces».