PODEMOS estar na antecâmara de uma convulsão política?


Na sondagem feita pela Metroscopia para El País link a recém-organização político-partidária PODEMOS aparece à frente das intenções de votos ultrapassando o PSOE (que não consegue capitalizar o descontentamento popular) e o PP (vítima da usura do poder, de medidas neoliberais e imerso num mar de escândalos e de corrupção).

Desde o manifesto fundador “Mover ficha: convertir la indignación en cambio politicolink que congrega as ideias e o pensamento de vários intelectuais, artistas, sindicalistas e activistas cívicos até chegar aos resultados obtidos nas eleições europeias, esta novel organização política tem vindo a congregar apoiantes e a ameaçar os equilíbrios tradicionais que têm vigorado na alternância política em Espanha (depois do franquismo).

O projecto político e programático subsidiário das movimentações de protesto fugazes e desorganizados, como o Movimento 15 M (ou dos ‘indignados’), que irrompeu em 2011 e 2012 por toda a Espanha, para ser paulatinamente esvaziado pelo cansaço, pela repressão e a desorganização, assenta em bases muito simples, consensuais, inteligíveis e transparentes.

Assim, o PODEMOS, surge aos olhos dos espanhóis com um decálogo mobilizador:
 primeiro, recuperar a soberania popular; segundo, instituir uma democracia ‘real’; terceiro, a defesa dos salários e pensões bem como a progressividade fiscal; quarto, o direito a uma habitação digna; quinto, a defesa do Estado Social e dos serviços públicos; sexto, combate ao machismo e a favor do direito à mulher dispor do próprio corpo; sétimo, a mudança estrutural nos modelos económicos produtivos colocando-os ao serviço das pessoas de acordo com uma perspectiva ecológica; oitavo, defesa dos direitos de cidadania; nono, a saída da NATO e o fim das intervenções militares; décimo, a participação popular na elaboração das listas e programas de candidaturas aos actos eleitorais.

Nada de novo, mas trata-se de evidências que precisam de ser (re)afirmadas porque têm sido diariamente torpedeadas por ‘estados excepcionais’, ditados pelos mercados e prosseguidos em seu nome, com o beneplácito implícito ou explicito (complacência tácita) dos ditos partidos institucionais. Claro que uma coisa é a proclamação de princípios do tipo da PODEMOS, outra será a sua realização e capacidade de concretização e pelo meio serão de esperar, sempre, dificuldades e incidentes de percurso, quando não 'desvios'.

Mas, no essencial, trata-se de um forte abanão e uma real ameaça sobre aquilo que, por exemplo, fez caminho e tem sido consagrado em Espanha e se estende a Portugal. O chamado ‘arco da governação’ é subitamente é abanado por um movimento político básico, de índole popular, directo, mas acima de tudo transparente onde se acolhem muitas bandeiras do centro-esquerda capazes de ter um papel inclusivo (integrador) para um alargado leque de ‘descontentes’. Existirá sempre a tentação em desvalorizar este tipo de inciativas e respectivas organizações classificando-as como ‘populistas’. A ver vamos mas face ao 'socialismo liberal' há sempre a possibilidade de 'nascer' o populismo de esquerda...
Na verdade, a ameaça existe apareceu à luz do dia no El País e certamente irá condicionar a política espanhola nos próximos tempos. Para o PP existe um inimigo político que afronta ideologicamente os seus diktats e o modus operandi da Direita e para o PSOE apareceu uma nova organização a colonizar desabridamente algumas das suas ideias (nomeadamente 'as do passado’) e a estourar com o conceito de voto útil.

Por cá o percurso foi outro e a mobilização conseguida no gigantesco protesto nacional de 15 de Setembro 2012 não conseguiu chegar a qualquer tipo de estrutura organizativa semelhante ou outra. Não teve rebate orgânico.
O surgimento de novos partidos (o Livre e o Democrático Republicano) embora possam comungar de algumas ideias defendidas pelo PODEMOS tem um trajecto substancialmente diferente e, aos olhos dos portugueses, não conseguiram libertar-se dos ancestrais circuitos e vícios partidários. 
Todavia, existe um denominador comum: a estrutura tradicional partidária que teceu a noção do ‘arco da governação’ – aqui e em Espanha – poderá estar a pisar terrenos movediços. Mais lá do que por cá, mas em ambos os países que - por circunstâncias históricas recentes - não têm observado uma desmesurada e preocupante ascensão da extrema-direita.

Interessante será avaliar, também, os impactos do PODEMOS nos extremos do espectro partidário nomeadamente na Direita e na Esquerda, não passando ao lado do campo tradicional e ortodoxo (PCP). Um assunto para outro post.

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